Naquela tarde, Ana chegou em casa se sentindo um pouco mais tranquila sabendo que Mario estaria com ela. Ligou a televisão, deitou no sofá e acabou pegando no sono. No meio do cochilo, escutou uma voz bem distante, chamando seu nome. Tentou ignorá-la. Foi despertada pela mesma voz, agora muito mais próxima e furiosa: "Ana!". Sentou no sofá assustada, com o coração disparado. Antes que pudesse elaborar o acontecido, o interfone tocou, causando um novo sobressalto. Quando Mario chegou ao apartamento, Ana, ainda nervosa, tentou contar o evento, mas o namorado a cortou: "Ana, por favor, acabei de chegar, me dá um tempo, vai?". Ela resolveu não discutir, não tinha mais forças para isso.
Por volta da meia-noite, eles foram deitar. Mario dormiu em 5 minutos. Ana não teve a mesma sorte: sempre que fechava os olhos, vinha a sensação ruim, sufocante, pesada. Ela começou a rezar um pai-nosso, mas a prece, decorada desde a infância, sumiu da sua cabeça. "A coisa é mais forte do que a minha fé", ela pensou, involuntariamente.
De olhos fechados, Ana a sentiu de novo. Agora não no banheiro, mas no seu quarto, no pé da cama, olhando para ela. Abriu os olhos para afugentar a imagem. Não adiantou: o vulto, agora com a forma definida de uma velha encurvada e desfigurada, estava lá, a encarando com aqueles olhos esquisitos, totalmente negros. Ana tentou gritar, mas sua voz não saiu. Tentou se mexer, mas não sentiu o próprio corpo, como se estivesse presa por algo. De repente, com um solavanco, ela recuperou os movimentos e sentou na cama. Não tinha ninguém. Tateou o colchão procurando o namorado, mas ele não estava lá. De repente, ouviu um grito: Mario.
Ana levantou correndo e o encontrou parado, no meio do banheiro. No escuro, Ana só enxergava a silhueta dele. "Mario? O que está acontecendo?", perguntou. Ele não respondeu e continuou encarando a garota. "Mario, por favor", Ana implorou, chorando. Mario abaixou a cabeça. "Mario?" insistiu a garota, se aproximando do namorado. Chegou mais perto e olhou para o rosto de Mario, mas não reconheceu o seu olhar. Subitamente, ele agarrou o braço dela e a encarou de baixo para cima, com aqueles olhos de maníaco. "Mario, é você?", Ana perguntou, sabendo a resposta. Mario balançou a cabeça para os lados lentamente, e sorriu.
Ana gritou.
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Apartamento 134
Short StoryAna estava sem dinheiro e precisava mudar de apartamento. Foi parar em um imóvel escuro, sujo e destruído, mas o único que podia pagar. No entanto, desde o dia da mudança, Ana tinha a insistente sensação de que havia algo errado por ali. Sua vida se...