PARTE I - Quinta-feira, 3 de outubro de 2013 - ASFIXIOFILIA

4.2K 175 70
                                    

Da varanda da choperia Giovanetti, localizada no bairro Cambuí em Campinas, aprecia o movimento das pessoas bonitas da cidade. Vem-lhe à mente um bordão que estava lapidando e que define sua vida nos últimos tempos:

"Estava quieto, pacífico, sendo bom pai, bom marido, bom filho, quando, de repente, veio um sentimento de luxúria e detonou tudo. E aqui estou."

Cogita escrever um livro de memórias, porém, por motivos óbvios, este somente poderia ser publicado após o ano 2200, quando, absolutamente, não existirá a mínima possibilidade de alguém que o encontrou em vida ainda estiver neste planeta. "Memórias o caralho, isso morre comigo" e degusta o primeiro chope daquela quinta-feira - o que pode ser considerado estranho para uma pessoa que durante o dia esteve em oito bares e um restaurante. Mas tais visitas foram todas muito rápidas e, no máximo, regadas a Coca-Cola.

"Hoje foi um dia bom. Poucas rejeições, duas minitrepadas, umas chupadas gostosas, e a maioria delas aprovada." Lembra-se, feliz, da cara de susto da Janaína ainda pela manhã. Confere a lista que traz no celular: "Uma, duas, três, quatro, cinco ok's. Uma que não apareceu... Hummm... Essa vai pro saco. O pior é que a talzinha ainda por cima atrasou todo meu dia... Putz! E a Mara? Que coisa! Como ela deu uma dessas? Falou tudo certo, fez um boquete estupendo, e na hora de ir embora, do nada, soltou: 'Olha, foi bom te conhecer. Foi-se o tempo em que os caras queriam fazer vaginal, oral ou mesmo ousar no anal. Agora, os clientes todos querem só saber de inversão, fio-terra ou usar minhas lingeries.' Se bem que ela foi muito esperta e consertou o deslize na mesma hora, rindo: 'Aff... Falei clientes, né? A gente acostuma tanto a falar cliente na loja que acaba por chamar todo mundo de cliente. Já chamei até a minha mãe de cliente, não liga não.' É... ela soube se sair muito bem. Teve presença de espírito, o que, aliás, é muito importante. Tá aprovada também! Total de seis. Maravilha! Um dia produtivo!"

Este foi, realmente, um dia proveitoso, porém extenuante. Nos dias em que estava em Campinas, acordava sempre por volta das 7 horas. Tomava o café da manhã no hotel em que estava hospedado, geralmente sozinho. Nos idos tempos, costumava ter a companhia de alguma P.R.I.M.A (Prostituta, Rameira, Interesseira, Meretriz e Afins), mas a última vez havia sido há pelo menos três meses. Não mais se sentia confortável dormindo com pessoas estranhas. De alguma forma, achava que isso aumentava a traição com a Vanessa: trepar era uma coisa, dormir junto já passava a ser algo muito íntimo.

Antes das 8 horas já estava no escritório da FaceApp Ltda. Durante a semana em que Marcos passava em Campinas, Eduardo sempre tratava de também chegar cedo ao escritório. A empresa não ia bem. Conversavam a portas fechadas. Assim que o relógio da parede marcou nove e meia, passou a olhar compulsivamente o celular:

- Du, eu tenho de ir. Você sabe... É foda... Construção é assim mesmo.

- Porra, Marcos! Você havia dito que viria uma semana por mês para a empresa, mas as semanas que você fica aqui são as mais improdutivas! Você chega ao escritório as oito e sai antes das dez. Acho que a gente conversa muito mais quando você não está aqui do que essa mísera semana que você vem pra Campinas.

- Du, já falei que você tem razão... Tá coberto de razão! Mas resolvi inventar de construir prédios, foi a maior furada e agora não tenho como sair fora, os edifícios estão sendo levantados. Em você, eu confio. Naqueles engenheiros? Nem a pau. Quando estou em BH eles vivem me mandando contas e dizendo que quebrou isso, que quebrou aquilo. Tô com a lista toda na minha pasta, mas ainda tenho de conferir tudo. Se deixar passar uma coisa, com certeza eu tô fodido. Já peguei cada merda, que você não tem noção... Em uma das obras, o engenheiro mandou a fatura do aluguel de três máquinas de fazer cimento. Cheguei lá e só tinha duas máquinas, porque uma delas estava quebrada. Claro, o cara tá pouco se fodendo. Mas... A vida é assim, vamu que vamu. - Disse Marcos, enquanto juntava os papéis espalhados na mesa e os colocava em sua pasta de couro preto, modelo 007.

Redes Sensuais: Livre Arbítrio - AMOSTRA GRATUITAOnde histórias criam vida. Descubra agora