Segunda-feira, 1 de abril de 2013 - O REI MIDAS (II)

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Em Campinas, Amanda celebrava também um aniversário. Foi em abril de 2009 que ela voltou a morar na casa dos pais enquanto "aguardava o chamado do Belo". Isso acontecera há quatro anos. Na sua vida anterior, nunca se levantava da cama antes das 9 horas, a não ser em caso de viagem ou algum acontecimento extraordinário. Na vida atual, ela voltava para casa em plena luz do dia, tendo cumprido um plantão noturno dos infernos no Hospital das Clínicas de Campinas. "Pelo menos não peguei a hora do rush dos trabalhadores indo para o serviço". Os olhos lhe pesavam, a noite havia sido agitada. E, infelizmente, o "agitada" não era no bom sentido.

Entre um e outro chacoalhar do ônibus, a cabeça pendia caindo para frente. Meio acordada, meio dormindo, não conseguia se desligar do maldito aniversário. Lembrou-se do dia em que acordou com a empregada batendo na porta alguns dias depois das festanças de Ano Novo falando:

- Dona Amanda, tão chamando da portaria.

Amanda não entendeu:

- Pera aí, tão me acordando às nove da madruga para dizerem que tem alguém chamando na portaria? Empregada é um inferno! - e virou-se para o lado.

A excomungada da empregada, no entanto, voltou à carga

- Dona Amanda, Dona Amanda! O porteiro disse que é da polícia e que estão subindo!

Amanda teorizou: "Bem, se ela queria me chamar à atenção, conseguiu. Afff, que saco. Algum engano, mas vou ter de levantar da cama. Espero que não me tomem muito meu tempo, até porque não penso direito antes das 10 horas da manhã, depois de ter tomado um bom café da manhã, a refeição mais importante do dia."

- Giza, põe a mesa do café lá pra mim e manda eles esperarem na sala. Vou trocar de roupa e já saio.

"Detesto que me vejam desarrumada, despenteada. Parecendo gente de favela. Será que esse povo não sabe com quem está mexendo? Pessoal mais inconveniente!". Entrou no banheiro da suíte, cogitou tomar um banho, mas isso levaria muito tempo e ela queria mandar logo a polícia embora. "Tomara que isso não vá atrapalhar meu dia.", pensou enquanto passeava pelada pelo quarto. Dentro da bolsa Louis Vuitton encontrou sua caderneta de telefones e agenda.

O marido havia lhe dito, quando lançaram o tal do iPhone que "Em breve, ninguém mais irá usar cadernetas e agendas. Vai estar tudo no celular". Achava muito difícil isso acontecer. "iPhone é legal, mas ainda prefiro ter minha agenda. O Belo acha que todo mundo é inteligente como ele, que entende dessas coisas de tecnologia." Como que num reflexo, Amanda também se autodefendeu: "Pera aí, também não sou lá uma dondoca tapada. Dondoca eu sou, assumida. Afinal, por que não ser? Meu homem tem grana, tem posição, me dá de tudo, vou ficar ralando pra quê? Claro que foi chato parar o curso de Medicina faltando apenas um ano para completar. Eu era uma das melhores da sala. Levava jeito pra coisa, todo mundo notava. Se exatas nunca foi a minha área, e daí? Quem foi que fechou em Anatomia? Tirou 100? 100 em 100 pontos. A dondoca aqui!"

Confirmou, olhando na agenda, com pesar, que tinha marcado para aquele mesmo dia um almoço no clube com as amigas. "Ai, ai, ai, deixa eu botar logo esses caras para fora, senão não terei tempo de ir ao clube... Esse almoço não quero perder por nada! A Anastácia falou que a Madalena tá pensando em se divorciar, será que é verdade?"

Tentou ser rápida: passou uma água no rosto, desodorante debaixo do braço, escovada rápida e firme nos cabelos longos. Fazia o tipo bem brasileiro "Luiza Brunet". Completaria 40 anos no próximo final de semana e Roberto havia jurado que ela teria uma surpresa à altura de um aniversário de quatro décadas.

Imaginava que seria uma viagem para a Europa. Certamente Itália e França. Jantares e passeios. Por conta do aniversário, sabia que o marido retornaria em breve: "Detesto passar o final de semana sozinha... Quando Belo fica fora durante a semana tudo bem, mas final de semana sem ele é um porre... Ainda mais quando é assim de último minuto como foi este agora... Se planejado com antecedência tudo bem, aproveito e dou um pulo até BH visitar o papis e a mamis. Tomara que ele tenha bastante tempo livre para comprar um presente bem BONITO e CARO pra mulherzinha dele, porque afinal me esforço para ser boa esposa."

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