CAPÍTULO 5

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Eduarda pensou um pouco e teve algumas ideias para ajudar a sua nova amiga, que por sinal estava caidinha por ela. Ela mandou a zumbi ir para o banho e entregou um lindo vestido floral para ela. A zumbi ficou contente e perguntou:

— Isso...é...para...mim?

— Claro! Você merece uma roupa legal!

A zumbi sorriu e foi até o banheiro. Ela começou o banho e sentiu a água percorrendo pelo o seu corpo. Gostou tanto que por um momento se sentiu viva outra vez. Em seguida, colocou o vestido e ficou se admirando no espelho.

Eduarda estava muito ansiosa para vê-la e resolveu invadir o banheiro. Quando entrou, ficou encantada pela imagem que viu no espelho, assim como a zumbi.

— Você ficou linda, Alice!

— Eu...não...me...via...assim...faz...tempo...

— Por falar nisso, há quanto tempo está assim?

— Acho...que...já...faz...dois...anos.

— E você tinha família?

— Eu...não...lembro.

— Aquela casa que estávamos... Por acaso, era a sua?

— Eu...acho...que...sim, porque...eu...me...sentia...muito...bem...nela.

— Certo! Mudando de assunto... Vou pentear os seus cabelos. Ok?

— Ok. Os meus dedos estão muito duros para isso.

— Eu sei. São dedos de zumbi.

Eduarda pediu para que ela sentasse em uma cadeira em frente ao espelho e começou a pentear os cabelos de Alice. Em seguida, ela pegou uma maletinha, e a zumbi a interrogou:

— O...que...vai...fazer?

— Vou te maquiar para tirar essa cara de zumbi. Olha só...você está com olheiras enormes!

— Eu...não...durmo.

— Sério? — perguntou Eduarda, começando a maquiá-la.

— Sim. Os...zumbis...não...dormem...e...não...sonham.

— Nossa! Isto é muito triste.

— Posso...ficar...aqui...essa...noite? Prometo...que...vou...embora...de...manhã.

— Ok. Vou preparar depois o seu colchão. Mas quer que eu continue com a maquiagem?

— Pode continuar...

Em alguns minutos, a zumbi estava toda maquiada. Eduarda estava ainda mais surpresa com o resultado. De repente, alguém bateu na porta, e a Eduarda pediu para a zumbi se esconder debaixo da cama.

— Não faça nenhum barulho, por favor. — pediu Eduarda.

Logo depois, abriu a porta e viu a sua irmã Elisa.

— Eduarda... Nós já estamos te esperando há meia hora para o jantar, e você não ouve a minha mãe te chamar. Então, eu resolvi vir até aqui e ver o que está acontecendo.

— Não está acontecendo nada. Eu vou agora com você...

— Ok. Já estou morrendo de fome.

Eduarda trancou a porta e acompanhou a irmã. A zumbi sentou-se no carpete do quarto e ficou esperando por Eduarda. No jantar, Eduarda comia com muita velocidade. Os pais e a irmã acharam bem estranha essa atitude dela. Quando terminou de comer, a mãe dela perguntou:

— O que está havendo, Eduarda?

— Não é nada, mãe.

— Mas você já vai para o quarto?

— Sim. Eu estou com um pouco de sono.

Antes de sair da sala de jantar, o pai a perguntou:

— Amanhã é o grande dia, filha! A polícia vai exterminar todos os zumbis.

—Tomara, pai. — disse ela, sem graça.

Ao chegar ao quarto, Eduarda encontrou a zumbi sentada no carpete e tentando ler uma outra revista de moda que estava em cima da escrivaninha. Ela aproximou-se e disse:

— Desculpe por ter te deixado um pouco sozinha... Fui jantar.

— Tudo...bem. Eu...sei...que...os...humanos...têm...as...suas...necessidades.

— Sabe de uma coisa? Eu queria ter te conhecido antes de tudo isso.

— Sério? — A zumbi olhou para ela.

— Sim, porque se as coisas estivessem sido diferentes, talvez você não estivesse se transformado em uma zumbi.

— É. Talvez...

— Por que acha isso?

— Porque...acredito...em...destino.

Elas ficaram-se olhando por alguns segundos. Eduarda estava quase corando de tanta vergonha, então resolveu sair daquele silêncio:

— Vamos dormir? Eu já estou morrendo de sono.

Eduarda deu um sorriso e disse:

— Caramba! Eu esqueci que você não dorme. Mas, mesmo assim, vou colocar o colchão aqui para você se deitar.

Eduarda pegou um colchão e no chão perto de sua cama. A zumbi a agradeceu e deitou-se nele. Em seguida, a garota queria se trocar. Mas como se trocaria com aquela zumbi a olhando? Então, pediu:

— Pode fechar os olhos?

— Sim.

Eduarda tirou a roupa rapidamente e colocou um pijama para dormir. A zumbi não pôde deixar de observá-la, mas soube disfarçar.

Logo, Eduarda deitou-se também, olhou a zumbi e disse:

— Alice...Amanhã a polícia vai exterminar todos os zumbis. Você vai ficar triste com isso?

— Não. Se...quiser...saber...se...eu...tinha...amigos...por lá., a...resposta...é...não! Nenhum...deles...se...importava...com...ninguém.

— Eu te entendo. As pessoas são muito complicadas.

A zumbi ficou pensativa sobre isso, e Eduarda disse:

— Boa noite, Alice.

— Boa noite, Eduarda.

Durante a noite, a zumbi teve um sonho. No sonho, Eduarda estava discutindo com o Roger. Nesse momento, a Alice aproximou-se dos dois. Roger a olhou e disse a Eduarda:

— Ela é uma zumbi!

— E daí?

—Vai me largar por uma zumbi?

— Ela tem mais coração do que você!

— Isso... Fica com ela então! Quero só ver as pessoas aceitarem essa aberração.

— Eu vou ficar mesmo! Ela é diferente dos outros zumbis.

— É mesmo? Então deixa perguntar uma coisa para a sua amiguinha... — Olhou a zumbi. — Você já pensou em comer a Eduarda?

No sonho, a zumbi ficou sem saber o que dizer e, Eduarda ficou com um olhar decepcionado. A zumbi acordou e gritou:

— Não!

Alice levantou-se, olhando para a Eduarda dormindo e colocou o moletom. Em seguida, abriu a janela e foi embora. Eduarda continuou a dormir sem se dar conta que a zumbi tinha saído de sua casa. 

Ela é uma zumbi (conto lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora