4° Capítulo

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Saí da loja de brinquedos praticamente correndo. Já são 7:30, horário que eu devo chegar no hospital e não ainda estar pegando o ônibus pra lá. A minha mãe vai me matar. Ela é rígida e muito certa com horário, 10 minutos é atraso. Ela honra mesmo a cidadania.

Entrei no ônibus que por muita sorte o motorista me esperou quando me viu correndo igual doida pela rua. Deve ter ficado com dó do meu desastre. Me sentei no último banco e encostei a cabeça no vidro. Estou cansada. Não tenho uma noite tranquila faz dias e todo tempo que eu tirei pra dormi eu tive pesadelos, esse trabalho pode ser realmente traumatizante, mas não tem nada mais que me deixa tão mal como ver a Clara naquele estado. Ela não merece.

Depois de alguns minutos pensando em tudo oque me aconteceu nos últimos dias e o ônibus ter parado alguns quilômetros antes do hospital eu desci e comecei a caminhar pra o hospital, não fica muito longe, é logo no final da rua sem saída.

Ajeitei a touca, coloquei as mãos nos bolsos do casaco e suspirei quando novamente, sem pedir licença, aqueles olhos frios tão verdes como esmeraldas apareceu na minha mente. Uma raiva cresceu no meu peito ao mesmo tempo que o formigamento no estômago começou. Eu não devia pensar nele, os olhos dele não deviam ficar cravados assim na minha cabeça. Ele não merece, nem a minha raiva ele merece. Ele não merece nada.

Empurrei a porta pesada de vidro, sentindo o ar gelado e o cheiro ruim do hospital. Não tenho medo ou algo assim, mas é um lugar que me da vontade de vomitar, sim, o ar condicionado me faz passar mal. Tentei deixar de pensar no cheiro e sorri, caminhando até o balcão azul claro, onde Bárbara estava. Bárbara com certeza é a melhor pessoa desse lugar.

– Olá! – Sorri largo e me debrucei no balcão, deixando um beijo estalado na sua bochecha. – Bom dia.

– Oh! Bom dia, sra. Austin! – falou animada, me fazendo revirar os olhos.

– sra. Austin? Por favor, Bárbara, não força. – falei recebendo um sorriso em troca. Ela é tão sorridente. Parece que nem tem problemas, por que todos os dias está aqui, com o mesmo humor lá em cima.

– Okay, querida! Não forço. Mas é melhor ir andando por que a sua mãe está o bicho lá no quarto. – Concordei, dando mais um beijinho nela. Provavelmente não a veria hoje. Corri para o elevador vazio, saindo logo em seguida no corredor do 3° andar. O terceiro andar é especial para as criancinhas com os casos mais graves. Casos que precisam de atenção dobrada da parte dos médicos que não param de andar no corredor. Isso aqui é agitado 24hrs. Literalmente eles não param.

De longe eu já via os quadros da cinderela pregados na parede clara do hospital. Uma sala grande, com televisão, alguns livros e revistas na estante, cadeiras coloridas e dois sofás vermelhos. Aqui é mais uma sala pras mães se distraírem enquanto seus filhos estão tomando medicamentos ou até mesmo na cirurgia. Tem várias portas em volta da sala, onde são os quartos dos pequenos pacientes. O quarto da Clara fica logo no começo, o 5° quarto com uma pequena placa com o nome dela. Abri a porta devagar e me encostei na mesma enquanto fechava sem fazer muito barulho. Minha mãe estava sentada na poltrona branca do lado do banheiro, sim, nojento. Mas o quarto é pequeno demais, e metade do espaço é tomado por máquinas.

– Demorou muito, Sophie. – Minha mãe disse baixo. Olhei na pequena cama e vi que Clara dormia. Única hora que ela não sente dor é quando está dormindo. Por isso evitamos o barulho.

– Me desculpe. – Deixei um beijo leve na sua testa. – Pode ir se quiser. – Me sentei na poltrona onde agora pouco minha mãe estava.

– Tudo bem. Estou realmente cansada. – Ela parece cansada. As marcas roxas abaixo dos seus olhos não enganam.

Sentire || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora