Abri lentamente um olho e mais lentamente ainda o outro. Olhei em volta e franzi o cenho. Está uma escuridão só e as finas curtinas balançam com o vento forte vindo de fora. Rodei mais uma vez os olhos pelo quarto e tateei o colchão, procurando o meu celular que quase caiu no chão quando sem querer empurrei o lençol pra fora da cama.Apertei os olhos, e foquei o olhar na tela onde a luz forte e os números indicavam 19:30. Sorri e voltei a fechar os olhos novamente, colocando o celular de lado. O vento frio da janela me fez encolher mais nas cobertas, eu já devia estar mais acostumada com o frio, passo a noite toda quase pelada naquela boate gelada...boate? Boate. Merda!
Me sentei rapidamente na cama e peguei o celular novamente, 19:35. É, estou atrasada. Muito.
Coloquei os meus pés descalços no chão frio e me arrepiei enquanto corria na pontinha até o banheiro. Enquanto entrava apressada, ia atrapalhadamente me desfazendo das roupas no meu corpo. Me coloquei em baixo da água morna, sem esperar esquentar completamente. Estou ferrada. Como eu fui ser tão idiota assim e não colocar o celular pra despertar?! Burra, burra, burra.
– Vai calça! – Lutava pra colocar a idiota da calça preta no meu corpo pouco úmido ainda pelo banho, tentei me secar o máximo em 30 segundos, vemos claramente que falhei por que agora essa calça não quer passar pela minha coxa de jeito nenhum. – Maldita! – Joguei a calça longe e peguei no vestido azul marinho de magas compridas. Sorri quando sem esforço algum ele acentuou no meu corpo magro, Fechei os três botões da manga e calcei o tênis branco.
Saí do quarto tropeçando no tapete do corredor, virou rotina tropeçar nele. A casa está totalmente silenciosa e escura, devem estar todos no hospital. Passei pela cozinha e Peguei em uma maçã. Estou morta de fome mas não posso parar nem pra respirar mais.
– Carlos mandou você esperar ele aqui. – Tiffany falou assim que abri a porta, suando igual um porco e com a respiração falha. Mal consegui me mater em pé quando a mesma passou por mim e esbarrou de propósito. – Ta suadinha, ein! Marcus não vai gostar. – Revirei os olhos e entrei na pequena sala sem dizer nada. Não tenho nem forças pra brigar agora. Não que se eu tivesse eu o faria, é Tiffany né, teria graves problemas se eu resolvesse enfrentar aquele posso de confiança e coragem.
Sentei na cadeira de frente ao espelho e torci o nariz com a péssima visão de mim mesma no espelho. Minha testa está brilhando por causa do suor e o meu cabelo grudado na minha nuca. Péssima. Peguei uma toalha e tentei resolver o problema. Se Marcus me vê nesse estado ele me mata, literalmente.
Já fazia uns bons 40 minutos que estava aqui, esperando o castigo de Marcus. As minhas mãos não param de tremer e pra fechar o zíper do top vermelho deu trabalho. Sinto frio, muito até, tenho um aperto no estômago que faz o meu corpo se arrepiar inteiro. Tenho medo do que Marcus planeja fazer comigo, ouvi dizer que os seus castigos são pesados, espero que não me aconteça nada muito grave e que ele me deixe longe da solitária. Não quero a experimentar, as meninas já tiveram lá e com certeza não recomendam. Ouvi dizer que ele deixa sem comida e até convida alguns homens a entrar e fazer o que quiserem com a garota lá dentro. Definitivamente, não quero experimentar.
– Sophie! – pulei na cadeira quando a voz forte entrou como um berro nos meus ouvidos. É agora, adeus vida. – Preciso de você! Anda! – Me puxou pelo braço, me obrigando a levantar.
– O que...o que foi? – Perguntei perdida, enquanto era arrastada pra fora do quarto.
Ele não respondeu, apenas continuou me puxando enquanto eu tropeçava vezes sem conta nos meus próprios pés. Marcus apertava o meu braço com força e machucava quando fincava as suas unhas mal cortadas em mim. Minha visão está embaçada, de novo, por causa das lágrimas, eu preciso parar de ser tão chorona assim. Preciso ser mais forte. Eu preciso ser forte como as meninas daqui, que não se abatem por qualquer coisa. Em uma cituação dessas, tenho certeza que Tiffany estaria firme e confiante, com a cabeça erguida e o sorriso convencido no rosto, mesmo que por dentro estivesse com medo.
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Sentire || H.S
RomanceClara Austin, a princesinha da família, foi atingida por uma doença desconhecida, porém, muito forte, capaz de paralisar os membros do corpo. A empresa e fonte de renda fora roubada a exatos um mês, deixando a família sem dinheiro algum e preocupado...