CAPÍTULO IV - JANICE

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- Ora, ora - ela pensou, enquanto fazia a sua corrida costumeira na esteira da academia - então, a Virna e a Ceci estavam cheias de segredinhos.... sim, porque a fofoqueira da Joanna May as havia visto saindo juntas do café da Rua X,  por volta das 11 h da manhã, e claro, logo que me viu aqui, não perdeu tempo  para me contar com o seu arzinho de " não é por nada, mas"...e destilou a fofoca!-  pensou Janice enquanto se exercitava.

 - Elas não terem lhe falado nada sobre o encontro, em definitivo, era bem estranho...normalmente, sempre que iam se encontrar ou reunir , elas combinavam entre as quatro.  - pensou, ainda intrigada.

- E Mabel  ? Será que também sabia desse encontro? Ou, assim como ela, não havia sido convidada?  -  falou para si mesma.

Janice teve a sensação de que, de repente, passou a suar mais do que o normal... sempre transpirava demais quando ficava com raiva!- que disfunção horrível! - suspirou. Definitivamente,  ela estava mesmo com muita raiva daquelas duas! Como se atreveram a marcar um encontro sem que ao menos perguntassem a ela se também não gostaria de ir?- pensava sobre o assunto enquanto se encaminhava ao banheiro.

- Afinal, nesses quase quarenta anos de amizade, sempre não foi assim? - Janice quase chegou a falar em voz alta. Falar não, gritar!!! - mas conseguiu se conter a tempo antes que os outros ao redor começassem a achar que havia ficado louca!

Os cabelos escuros e lisos presos no alto da cabeça começavam a ficar úmidos,  e alguns fios soltos aqui e ali, começaram a grudar no seu rosto e pescoço. De repente se sentiu suja. E pobre.

- Será que nunca conseguiria se libertar desse sentimento de inferioridade, pobreza e carência mesmo depois de tantos anos em que vivia uma vida de luxo e fartura? -  apanhou a toalha de rosto branca com as suas iniciais gravadas em dourado e enxugou com certa rispidez o rosto redondo, de traços fortes.

Sabia que não era bonita. Nunca fora. 

- Seu rosto não tinha a delicadeza, encanto e beleza do de Cecília, ou ainda a beleza clássica de Virna. Mesmo depois de tantos tratamentos e cosméticos caros, ele mantinha as marcas de acne ( claro que, infinitamente amenizadas das que apresentava quando ainda era jovem e pobre! )e o rosto redondo, de olhos escuros e  proporções sem elegância também não encantavam a primeira vista. 

Isso de certa de forma, estaria a lhe lembrar sempre as suas raízes não muito nobres, e mesmo todo o dinheiro que hoje possuía e o status social de que desfrutava, não enganaria a um olhar mais apurado e de raízes mais finas. Como costumava dizer  sua mãe...- " quem têm berço, a gente reconhece de longe! "- e ela, Janice, definitivamente, não tinha berço.

- O quê, meu Deus, me deu hoje para esses pensamentos tão tristes e depressivos? -Janice falou alto enquanto se examinava no banheiro da academia. Naquele momento não havia ninguém por ali... era 11:40h da manhã, e a turma que gostava de se exercitar na hora do almoço, no intervalo do trabalho, ainda não estava por ali, no alvoroço de trocar de roupa e correrem para os aparelhos. O banheiro estava, naquele momento, só para ela e por isso deixou que algumas lágrimas escorressem pelo rosto.
Olhou seu rosto no espelho e sentiu pena de si mesma. - Quando iria se amar de verdade? Quando sentiria orgulho de si mesma e de tudo que conquistou? - falou para si mesma baixinho.

Numa fração de segundos ouviu vozes e risos femininos se aproximando do banheiro e rapidamente correu para uma das cabines vazias dos sanitários e fechou a porta sem fazer barulho.

                           
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- Ah,  como eu gostaria de ter visto a expressão dela quando você contou,  Joannes -  falou uma voz feminina com forte sotaque.
-  Veridiana -   Janice, intimamente, reconheceu de imediato àquela voz. E  continuou ali,  naquele box apertado, ouvindo a conversa e tomando todo o cuidado para não denunciar a sua presença.

- Ora, foi exatamente assim como eu acabei de te contar,  Veve  -  falou Joannes com um toque de riso nas palavras -  e  continuou - Ela primeiro ficou com aquele ar de surpresa,  arregalando àqueles  olhos escuros e redondos, e depois fingiu saber do encontro das duas melhores amigas... mas,  é claro que não me enganou! Vi logo que não havia sido convidada... 

- Olha Jojo,  não é  porque eu desgoste de todo da Janice,  mas ela bem que precisa de que alguém,  vez ou outra,  que a lembre das suas verdadeiras origens!  Ela consegue mesmo ser tão insuportável quando dá àquelas gargalhadas debochadas... - o forte sotaque se fez ouvir novamente.

- Eu concordo com você, amiga. Tudo bem  que ela é casada com o melhor médico cirurgião da cidade, mas àquela arrogância toda  só pode ser um problema emocional...acho que ela nunca superou direito as dificuldades da infância - Joannes falou em seguida.
- E também têm àquele problema com o filho... -  nesse ponto ela parou, quando viu entrarem animadamente, duas outras frequentadoras da academia. 

- Vamos almoçar no  GreenVille hoje, Jojo? Ando com um desejo louco de tomar àquele suco de abacate com hortelã e comer a salada verde com molho de nozes.... -  Janice ainda conseguiu ouvir, antes que as duas amigas saíssem do banheiro.

Ela ficou ali, sentada no vaso sanitário,  com a toalha branca e macia nas mãos, enquanto lágrimas quentes caiam sobre as iniciais " JM" douradas. 

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Nota da Autora: Caso você tenha apreciado a leitura deste capítulo, ou mesmo tenha alguma crítica ou sugestão a fazer, agradeceria que votasse na estrelinha correspondente e postasse o seu comentário. É estimulante para quem escreve, obter esse feedback do leitor. Beijo e obrigada.

NereidaCoelho

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⏰ Última atualização: Feb 17, 2016 ⏰

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