CAPÍTULO III - VIRNA

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 Virna sentia o olhar da garçonete sobre si. Claro, que ela estava tentando disfarçar, fingindo passar um pano sobre o balcão de vidro onde estavam expostas, lindas tortas.


Sentiu, de repente, uma vontade louca de comer uma fatia de uma daquelas tortas maravilhosas; comer até não mais aguentar. Porém, Virna, se limitou a desviar o olhar para a janela e observar a rua. Cecília estava atrasada como sempre - pensou. Elas haviam marcado no café às 10h00minh e já se aproximava das 10h30minh e ainda nem sinal dela.

- Não importa! - pensou. O assunto que iam tratar era muito importante, e ela tinha dúvidas de como ia abordá-lo com Cecília. Afinal, há anos elas não conversavam sobre esse assunto e mesmo assim, foram raras, talvez duas ou três vezes que conversaram sobre ele ao longo dos anos. E isso foi antes que, cada uma delas, efetivamente, criasse para si mesma uma vida sem máculas ou escândalos. Pelo menos aparentes.

A porta do café fez um barulho suave quando foi aberta, e um ar frio atingiu a sua mesa. Virna observou que a garçonete levantou os olhos do que estava fazendo e ficou com alguma coisa de metal redonda no ar, enquanto admirava claramente a mulher que entrou no pequeno café.

E era ela. Era Cecília.

Virna também observa numa fração de segundos a mulher magra, alta e loura, vestida de jeans desbotado, colado ao corpo bem feito, blusa rolê azul escura e botas pretas. O cabelo estava preso em um lindo e charmoso rabo de cavalo.

Ela fechou o guarda chuva que carregava e o apoiou no local próprio dele,  aí ela se voltou para a mulher sentada à mesa e abriu um largo sorriso.

- Como ela ainda era bonita - pensou Virna. E como sempre, o seu coração se enterneceu ao vê-la. Eram amigas há tanto tempo, desde o colégio, mas Virna continuava a vê-la como se ela ainda fosse uma adolescente comprida e desajeitada, com os longos cabelos loiros e os lindos olhos azuis assustados e doces.

E como sempre, Virna sentiu a antiga necessidade de protegê-la.

Cecília caminhou para a mesa e ambas se abraçaram. Depois, antes de se sentar, ela bateu um pouco os pés como para aquecê-los do frio e falou:

- Bem, abelha rainha, aqui estou eu.

- Você vai querer café puro ou um cappuccino? - Virna perguntou.

- Vou querer café puro, mas também preciso comer alguma coisa, pois saí de casa apenas com um copo de suco de laranja, e, portanto, ainda não fumei! - disse Cecília, meio sem jeito.

Virna lembrou que Cecília ainda fumava, embora nunca o fizesse em jejum. Fez então um sinal para a garçonete no balcão, que obviamente não havia conseguido desgrudar mais os olhos delas, desde a chegada de Cecília. Ela veio, então, apressada para atendê-las.

- Vou querer dois cafés puros e grandes, duas fatias de torta de chocolate cremoso e dois croissants de queijo. - Virna transmitiu rapidamente os pedidos, desejando ficar logo novamente a sós com Cecília.

- Devo esquentar os croissants ou vai querer à temperatura ambiente? - inquiriu a garçonete.

- Eu prefiro quente. E você, Ceci? - perguntou Virna.

- Eu também - falou Cecília, fechando o cardápio delicadamente e colocando-o sobre a mesa.

- Ok - a garçonete falou, mas continuou ali, ainda parada, como se estivesse encantada, olhando Cecília.

- Obrigada - Virna falou meio ríspida, e num tom de voz mais alto que o necessário. A pobre moça olhou para ela meio encabulada e constrangida se voltou rapidamente e sumiu atrás do balcão.

Cecília olhou para Virna com um ar zombeteiro, e perguntou:

- Vamos, estou muito curiosa para saber o que você tem para contar de tão urgente.

- Ceci, não sei por onde começar... é impossível falarmos sobre isso, sem entrarmos em certos detalhes... - Virna parecia nervosa, e batia levemente com um grosso anel que usava no dedo anular da mão direita, na mesinha de madeira.

- Acho melhor - continuou ela, lhe mostrar logo uma coisa que trouxe comigo e que recebi ontem pelos correios. - Enquanto falava, ia abrindo a bolsa de couro marrom, com alças douradas, e de onde se vislumbrava as minúsculas iniciais de uma grife famosa e caríssima.

Cecília ainda sorria, quando Virna colocou sobre a mesa um envelope comum , de papel madeira, onde se lia no remetente apenas as inicias: A.R.D. além do nome de uma cidade e o número de uma caixa postal.

- Que engraçado - pensou Cecília na hora - há quanto tempo não ouvia e nem via escrito o nome daquele lugar...

- Abra - disse Virna com firmeza.

Cecília abriu o envelope e tirou de dentro uma única folha branca dobrada em duas. Ela levantou uma das partes e ao abrir, leu a única frase escrita na folha com letras grandes e vermelhas: A ROSA DESABROCHOU.

O sorriso sumiu do rosto de Cecília, assim como o papel, que voltou para dentro do envelope, tão rapidamente como havia saído. De repente, o silêncio que caiu entre elas era tangente, pesado.

Não havia muito que dizer. Ambas sabiam o que àquela frase significava.

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Nota da Autora: Caso você tenha apreciado a leitura deste capítulo, ou mesmo tenha alguma crítica ou sugestão a fazer, agradeceria que votasse na estrelinha correspondente e postasse o seu comentário. É estimulante para quem escreve, obter esse feedback do leitor. Beijo e obrigada.

NereidaCoelho

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