Capítulo Um

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Beatriz

Acordo com uma sensação estranha no peito e, desde que me conheço por gente, isso nunca é bom sinal. Arrasto-me para fora da cama, separo minha roupa e vou para o banho. Minha cabeça continua a rodar e o aperto só aumenta. Hoje, o dia vai ser, no mínimo, longo.

Coloco uma roupa social, perfeita para uma segunda-feira, e sigo para o estacionamento procurando o meu carro. Apesar de o trânsito ser na maioria das vezes infernal, consigo chegar a tempo de encontrar a Juliane no nosso ponto de encontro, o bistrô Aconchego.

— Milagre! — ela brinca quando me vê e forço um sorriso. Sinto que não deveria ter saído da cama hoje. — O que foi? O senhor gostosão voltou a te incomodar?

Caio, senhor gostosão, é um carinha do trabalho que eu saí algumas vezes, mas na semana passada dei um basta e depois disso, ele me importuna o dia inteiro.

— Não! — Sento-me em nossa mesa cativa. — Estou com uma sensação estranha hoje.

— Ih! Isso não é boa coisa. — Juju revira o cardápio.

— Nunca é, Juju. — Encosto minha cabeça no vidro e sinto o peso sobre meus ombros. Algo está muito errado, posso sentir.

O dia está puxado, a empresa que nós trabalhamos encontra-se inserida no ramo imobiliário. O objetivo é adquirir bens, de acordo com o gosto do cliente, reformar e entregar ele pronto para uso. E justo hoje, quando não estou em um dia bom, tenho uma apresentação para um bando de japoneses e nem de longe consigo entender meia palavra do que dizem.

Monto a apresentação a tempo e estou caminhando para a sala de reuniões quando meu celular começa a vibrar. Fernando, meu chefe, já me olha de cara feia, então opto por ignorar o telefone. Na metade da reunião já perdi as contas de quantas vezes ele vibrou. Está começando a ficar constrangedor e pelo ritmo da conversa ela não vai terminar tão cedo.

— Preciso atender! — sussurro para Juliane.

Fernando me fuzila com os olhos, já antecipando o que preciso fazer.

— É uma emergência! — falo sem emitir som.

— Não! — Ele sacode a cabeça de um lado para outro.

O celular volta a vibrar, deslizo-o para fora do meu bolso apenas para espiar quem é o insistente: Ali. Meu sexto sentido avisa que aconteceu alguma coisa. Tento disfarçar ao máximo enquanto digito uma mensagem:

"Estou em uma reunião... Não posso atender. O que aconteceu, Ali?"

Menos de um minuto depois meu celular vibra com a resposta:

"Pedro sofreu um acidente... Ele não resistiu, Bia."

Automaticamente um grito se forma em minha garganta e as lágrimas correm sem que eu consiga contê-las. Olhares assustados se fixam em mim, mas não consigo bolar nenhuma explicação. Jogo o celular para a Juju e saio da sala antes que o pânico tome conta de mim por completo.

Não, não, não... Não é verdade! Ele é uma criança ainda. Deus!

Ficar parada no meio do corredor, para que todos me perguntassem o que tinha acontecido, não era uma opção, mas me sentia exausta demais para tentar correr. Minha mente começa a divagar por lembranças de nossa infância, de quando brincávamos ou quando tentávamos escapar dos pequenos. E cada vez mais, o aperto no meu peito aumentava. Pude ouvir Fernando se desculpando com os clientes japoneses, informando que um familiar meu havia falecido e, num todo, ele não está errado. Pedro, realmente, era da família.

Inquebrável - Um amor pode durar para sempre?Onde histórias criam vida. Descubra agora