Capítulo Três - Beatriz

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Depois de um mês inteiro só para mim tenho que voltar à realidade. Apesar das férias acumuladas, tenho que voltar antes de tirar a próxima e se me recusasse a vir, acredito que Fernando, meu chefe, enlouqueceria. Depois de muita insistência, convenci meus pais deixarem a Ali vir comigo. Foi uma batalha dura, já que minha mãe acreditava fielmente que eu a raptaria ou algo assim. Alison passou a maior parte da viagem dormindo. Não está acostumada a fazer trajetos longos e o trânsito não está ajudando nem um pouco hoje.

— Bem-vinda ao Rio de Janeiro — brinco assim que ela começa a se espreguiçar.

— É sempre assim? — Ela faz uma careta.

— Na maior parte das vezes. — Ela sorri e recosta no banco.

— Quanto tempo dormi?

— Depende... — Sorrio. — Caminho inteiro se deixarmos de lado a parada para comer alguma coisa.

— Eu precisava comer, uai. — Ela se acomoda novamente no banco.

Fico boba em como o engarrafamento simplesmente se desfaz logo que chegamos a Avenida Brasil e, um pouco depois, chegamos à minha linda Ipanema. Estaciono meu carro na vaga e acordo a Alison.

— Chegamos, Soneca — sussurro passando a mão em seu ombro.

Ali se espreguiça e sai do carro. Pego as malas e caminho em direção à porta que liga a garagem ao prédio, quando me dou conta que ela não me segue. Aproximo-me e percebo que está chorando.

— O que foi? — Seco uma lágrima que escorre. — Mal chegou e já está com saudades? — brinco.

— Pedro queria tanto conhecer o Rio. — Ela mantém os olhos fixos na praia.

— E ele vai! — Puxo-a em um abraço forte. — Através de você, pequena.

— Eu não entendo o que fiz para merecer isso? — Ela soluça. Toda a dor e a angústia estão estampadas de volta em seu rosto. — Não tive a oportunidade de dizer o quanto eu o amava!

— Sei que fizeram questão de deixar tudo escondido, mas não tenho dúvidas de que Pedro sabia dos seus sentimentos por ele. — Ela esconde o rosto no meu ombro e chora.

Caminhamos lentamente até a portaria do prédio. Joaquim, o porteiro, nos recebe com um sorriso radiante.

— Boa tarde, senhorita Albuquerque. — Ele abre a porta do elevador para nós.

— Boa tarde! — Acaricio seu ombro gentilmente. — Já disse que pode deixar o senhorita de fora.

— Mas é claro, senhorita... — Ele mesmo se interrompe. — Beatriz.

— Muito bem — brinco. — Joaquim, essa é minha irmã mais nova, Alison, ela vai ficar um tempo comigo. — Afago seu braço, animando-a. — Pode fazer uma cópia das chaves para ela?

— Será um prazer. — Ele sorri mostrando aqueles dentes tortos, mas encantadores.

— Como está a Valentina? — Ajudo a Alison a colocar as malas no elevador.

— Bem, graças a Deus. Acho que até o final do mês nossa princesa nasce. — É impossível não notar a felicidade explícita em seu rosto.

— Que maravilha! — grito colocando a última bagagem. — Dê-me notícias.

— Pode deixar, senho... Bia. — Ele fecha a porta e subimos até o oitavo andar.

Assim que o elevador apita, avisando que chegamos ao andar correto, sinto um cheiro intenso de jasmim. Não preciso de muito esforço para saber de onde vinham. A porta escancara e a leve fumacinha escapando dela, condenavam Daniela, minha vizinha. Dou duas batidinhas no beiral da porta pra saber que voltei. Ela foi a segunda pessoa a se mudar para esse prédio e desde então nos tornamos amigas. É mãe solteira e o Murilo, seu filhinho de um ano, é um fofo. Abro a porta deixando Alison entrar primeiro.

Inquebrável - Um amor pode durar para sempre?Onde histórias criam vida. Descubra agora