A última semana passou voando e quando dou conta do tempo, já estou enfurnada no carro subindo a Serra das Araras a caminho de Penedo. Esse fim de semana é o aniversário de 60 anos do meu pai e para os Albuquerques essa é a oportunidade para esbanjar toda sua fortuna. O trânsito está tranquilo e chegamos a tempo de assistir a minha mãe dar um ataque porque a cor dos narcisos está errada.
— Hora do show! — Alison brinca e sorrio vendo dona Cláudia se descabelar com a decoradora.
Estaciono meu carro em meio a outros quinze na garagem e reviro os olhos em meio à ostentação de dinheiro espalhada por cada canto. A casa dos meus pais é quase que considerada uma chácara, de um lado um imenso gramado com um riacho e do outro uma piscina cercada, para proporcionar certa privacidade. Ela é imensa, mas extremamente aconchegante.
Observo o trabalho dos decoradores enquanto caminho para dentro. Um carpete foi estendido por cima da grama para que não a estragasse, mas tenho certeza de que foi para que as convidadas não prendam os saltos. Tendas foram montadas e vários tipos de flores espalhadas em lindos jarros. Paro em frente a um com umas flores roxas e as cheiro. Seu perfume é adocicado e lembranças da minha infância assolam minha mente. Pelo canto do olho, vejo meu pai se aproximar.
— Gardênias. — Ele acaricia minhas costas. — Se lembra quando fomos ao sítio de seu avô? Ele adorava essas flores.
— Oi, papai. — Dou um beijo em seu rosto. — Feliz aniversário.
— Ainda não sei o porquê de tudo isso — resmunga, me abraçando. — Minha conta bancária está desesperada depois de tantos gastos.
Esse é meu pai, João Albuquerque, o coroa mais enxuto que conheço. Ele serviu à Aeronáutica por anos e, apesar de ser dono de uma fortuna, prefere não a esbanjar. O que é absolutamente inadmissível para a minha mãe. Sabe aquele ditado: os opostos se atraem? Com certeza, meus pais se encaixam nele.
— Por favor, não deixe a dona Cláudia ouvir isso — brinco.
Vejo o canto de sua boca se contorcer em um quase sorriso. É tudo que eu consigo dele por hoje. Alison se joga em seu braço entregando-lhe um presente.
— Não precisava, pequena.
Posso perceber o desgosto em suas palavras. Ele não admite que gastemos um centavo com nada quando estivermos aqui.
— É seu aniversário, pare de ser turrão. — Ela o incentiva a abrir a caixa.
Os olhos de minha irmã brilham, enquanto espera ansiosa que ele abra o pacote. Nosso pai é fanático por vinhos e antes de voltarmos fiz questão de levá-la ao Castelo dos Vinhos para trazer um item exclusivo.
— Um Isla Negra? — Ele não disfarça seu contentamento. Algo raro se tratando do meu pai. — Obrigado, minhas princesas. — Nos puxa em um abraço.
— Mérito dela — resmungo com o rosto pressionado contra seu ombro.
Demorou algum tempo até que ele estivesse pronto para nos deixar ir. Toda a carranca de militar nos deu uma brecha no tempo que estivemos os três juntos. Se não fosse minha mãe passar gritando com um funcionário, continuaríamos ali falando sobre nada específico.
Caminho pela confusão de pessoas arrumando cada canto da casa. Aceno de longe para a minha mãe e subo para o quarto. Encontro em cima da cama o embrulho característico dos vestidos que só ela faz. Para seu desespero, aproveito o tempo livre para ajudar o pessoal da decoração e depois de uma discussão acalorada fui intimada a ajudar meu pai com a gravata. Juro que não entendo por que os homens usam isso, se não sabem ao menos dar um nó. Dou três batidinhas na porta e espero sua autorização.
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Inquebrável - Um amor pode durar para sempre?
RomansaHISTÓRIA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL. PLÁGIO É CRIME, DENUNCIE! Aos 17 anos, Beatriz Albuquerque acreditou ter encontrado o amor de sua vida, como se vivesse seu conto de fadas pessoal. Seu príncipe escolhido é o lindo e sedutor Leonardo Hatch...