Prólogo

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Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!
Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...

Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.

Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão.

(Soneto da Saudade –Guimarães Rosa)    



Dezesseis anos atrás...

Um vento gelado, típico de outono, balançava os galhos das árvores, provocando a queda de folhas secas pelo gramado que se estendia por vários metros. Poucas pessoas desfrutavam do parque àquela hora, quase seis da tarde, enquanto um casal de namorados se abrigava sob um carvalho.

Patrícia estava sentada no meio das pernas de Gabriel, com a cabeça encostada no peito dele.

– Eu te amo tanto, Gabe! – a garota declarou, com o olhar sonhador.

– Gabe? – O rapaz arqueou uma sobrancelha.

– É que eu acabei de ler um romance no qual o mocinho se chamava Gabriel e o apelido dele era Gabe. Eu sei que "Gueibe" é um apelido estrangeiro, mas...

– E esse mocinho ganhou seu coração pelo jeito... – ele a cortou e torceu os lábios, fingindo aborrecimento.

A risada de Patrícia reverberou através do parque, pelo que foi recompensada com uma sessão de beijos em todo o rosto.

– Só existe espaço para um Gabe no meu coração, seu bobo. – Depositou um beijo no queixo dele.

– Assim espero, "Patty" – ele pronunciou o apelido em inglês, "Péri", e ambos caíram na risada. Então, um silêncio confortável se instalou entre eles e foi quebrado apenas por palavras ditas numa voz rouca: – Eu também te amo muito, minha princesa.

No mesmo instante, com o coração batendo apressado, Patrícia fechou os olhos e fez um pedido em silêncio: "Por favor, Deus, permita que o Gabriel me ame para sempre."

Um nó inesperado apertou a garganta da garota. E um medo inexplicável encheu seus olhos de lágrimas. Mas ela as reteve quando os lábios do rapaz pousaram sobre os seus. Beijá-lo era tão bom, tão certo. As bocas sempre se encaixavam de um modo tão perfeito que fazia Patrícia desejar que o beijo não terminasse nunca. E Gabriel parecia ter o mesmo desejo, pois ele costumava apertá-la contra si com força, intensificando mais e mais o balé das línguas antes de soltá-la e aceitar o fim do contato, vários minutos depois.

Cada beijo, abraço, conversa, olhar que Gabriel lhe dava eram pequenas bênçãos que ela recebia. O namoro deles era tudo com que uma garota romântica como ela sonhou. E ele a amava tanto quanto ela o amava! Com certeza, não havia o que temer.

Sorriu, encostando a testa na do namorado.

Eles estavam juntos há dois anos; começaram a namorar um mês após ela completar 15 anos e ele, 16 – faziam aniversário quase no mesmo dia! Mas tiveram que enfrentar uma barra, porque os pais dela, superprotetores que eram, a princípio, proibiram o relacionamento por achá-la nova demais. Entretanto, haviam vencido todas as barreiras juntos, sem nunca brigarem.

– Estava aqui pensando... – Gabriel falou, sorridente, interrompendo os pensamentos de Patrícia. Ele colocou-lhe uma mecha de cabelos castanho-escuros atrás da orelha. – Na semana que vem eu vou começar a servir o exército.

À menção daquele assunto, Patrícia murchou instantaneamente. Suspirou. Desviou os olhos dos dele.

- Não, amor, não fique assim. – Ele segurou-lhe o queixo com delicadeza. – Já conversamos sobre isso. E eu garanti que nada vai mudar entre nós.

- Mas você vai ficar longe durante toda a semana... – Ela fez um biquinho, e ele aproveitou para lhe morder o lábio inferior.

- Mas estarei pensando em você todas as horas do meu dia. – Os dois sorriram, os olhares presos um no outro. – E é por isso que quero que a gente faça um juramento.

- Um juramento? – Patrícia franziu a testa.

- Vamos jurar que a distância só vai fortalecer ainda mais o nosso amor. E continuaremos fazendo como sempre fizemos: qualquer problema que a gente tiver, vamos resolver juntos. Você me dá sua palavra? – Ele abriu o sorriso escancarado, que Patrícia tanto amava e que fazia seus dentes branquinhos criarem um contraste lindo com sua pele morena. – Ou talvez pudéssemos fazer um juramento de sangue.

- Ai, não, Biel, nada de sangue. Tenho pavor de sangue, você sabe. – Ela tremeu por inteira nos braços do namorado, arrancando-lhe uma gargalhada. – Eu juro! Vou te amar ainda mais enquanto você estiver longe e, se minha vida começar a desmoronar, eu corro chamar o meu supernamorado.

- O seu supernamorado militar, não se esqueça disso. – Ele levantou uma sobrancelha, convencido.

Patrícia rolou os olhos, mas riu, enquanto Gabriel a pressionava contra o peito, num abraço apertado. O medo ameaçou voltar, trazendo a vontade de chorar. Porém, ela mordeu o lábio inferior até a sensação ruim passar. Estava no lugar que mais amava no mundo: nos braços de Gabriel. E depois daquele juramento nada os separaria, porque, de uma forma ou de outra, estariam unidos e um levaria o outro dentro de si para qualquer lugar que fossem.

Lembranças de um amor (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora