Primeiro encontro

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Fumaças subiam no horizonte, dançando em direção as nuvens, vindo de uma pequena ilha no estreito, tão perto do continente africano quanto da Europa. O capitão sai da cabine mandando que tomássemos aquela direção, pois gostaria de ver com os próprios olhos o que havia acontecido. Para mim estava claro que eram outros piratas que haviam saqueado toda a ilha.

- Sigam para a ilha – Ordenou o capitão

- Mas senhor, e se houverem outros piratas ainda lá?

- Então os mataremos e tomaremos sua pilhagem, é provável que estejam bêbados da comemoração pelo saque bem-sucedido

O navio apontou seu bico para lá e seguiu a todo pano, aos olhos atentos de cada marujo no convés. Não havia sinal de nenhum navio, nem ao menos um porto para os barcos atracarem, apenas quilômetros de praia.

Quando o navio chegou, o capitão logo desceu com seus homens de combate, empunhando espadas na mão

- Não se separem, não quero vocês morrendo cada um em um canto, ouviram suas putas imundas?

A voz do capitão demonstrava uma tensão que eu nunca havia visto, ele já sabia o que tinha acontecido e quem passará por ali, só não havia dito nada. Os homens seguiram em direção a fumaça que subia e logo encontraram um vilarejo perto de um lago, com pequenas casas simples. Foi então que vimos um gigantesco banquete, mas não para nós, e sim para os corvos, banquete com todos os antigos habitantes daquela ilha.

- Procurem por algo de valor seus idiotas. Agora! – Exclamou nosso capitão

A maioria das casas havia sido transformada em cinzas pelo fogo, poucas casas resistiram com apenas cicatrizes, e foi de uma dessas casas que ouvimos um estrondo, suficiente para chamar a atenção de todos os piratas ali presente. O capitão caminhou na direção da casa a passos largos e lentos com um sorriso no rosto.

- Saiam e prometo demonstrar misericórdia

- Assim como seus amigos? – Perguntou a voz vinda da casa

- Se não saírem iremos entrar e tira-los a força, mas ai eu estarei sem paciência quando estiverem aqui

Por um momento não houve respostas e nem barulho, um silencio ocorreu quebrado apenas pelo som da própria ilha. Assim começamos a ouvir móveis sendo arrastados, pelo visto eles haviam criado uma barreira. De lá saíram dois garotos, entre 14 e 15 anos. Um deles era um pouco gordo e maior, já o outro era menor e magro.

- Vocês têm nomes?

- Meu nome é Vinicius, e esse e meu irmão Iago – Respondeu o maior

Os dois garotos empunhavam espadas, e protegiam a retaguarda um do outro. Enquanto o maior não retirava os olhos do capitão, o menor observava cada pirata atento para possíveis movimentos.

- Capitão, posso mata-los? – Pediu um dos marujos que havia se juntado a tripulação recentemente, provável que querendo impressionar o capitão

- Pode

O pirata avançou e desceu um golpe vindo de cima, o garoto maior só colocou sua espada, de modo a bloquear o ataque, e em uma velocidade que ninguém esperava o menor enfiou sua espada na barriga do marujo. Todos ficaram surpresos, simples crianças não haviam hesitado em matar alguém, e podia até ver um sorriso no rosto do menor como se houvesse prazer naquele ato.

Ele então puxou sua espada para cima e ficou frente a frente com o marujo observando a vida lhe escapar entre os dedos, e com toda força puxou novamente a espada para fora deixando o corpo se esborrachar no chão. Ele olhou para o capitão com um olhar de desprezo e ódio nítidos, querendo atacar, mas seu irmão colocou rapidamente a mão em seu ombro para acalma-lo.

O capitão os observava atentamente, não sabíamos qual seria seu próximo passo e todos ficaram em silencio pelo acontecido.

- Que tal fazerem parte da minha tripulação? – Ofereceu nosso capitão

Os marujos o olharam estupefatos com as palavras que escutaram, nunca haviam visto um Capitão convidar pessoas para sua tripulação, era sempre os aventureiros com sede do mar e aventuras que vinham atrás de nós, o recrutamento ocorria sempre em ilhas do caribe como Tobago e Anguilla.

- Capitão, você tem certeza? – Questionou o Primeiro, que era como um vice-comandante.

- Cale a boca Primeiro, está me questionando? Se falar mais alguma coisa corto seu pinto e entrego aos peixes

-Desculpe capitão - Ninguém sem atreveu a dizer mais nada e apenas esperaram a resposta dos garotos

- Por que faríamos isso? Piratas estúpidos como vocês destruíram nossa vila.

O capitão começou a rir e todos marujos se juntaram, como se uma piada muito engraçada houvesse sido contada – Por que os babacas estão rindo? – Perguntou o menor que ainda mantinha o olhar de ódio.

O capitão começou a andar lentamente em direção a uma casa e perguntou ao Primeiro de seu navio – Primeiro, já ouvi falar do Marca? – O Primeiro assustou com a pergunta, era como se tivesse saído de um transe hipnótico – Sim capitão, é o navio chefe da frota de Olho de chamas.

O capitão então virou para os garotos e disse – Veem estas marcas da letra "M"? - Havia uma pequena marca em algumas casas e em árvores - Estão por todo lugar! Elas mostram que foi o Marca que atacou vocês – O capitão então virou seus olhos da marca na parede para os dois garotos com um sorriso demoníaco em seu rosto – Se ficarem aqui vocês morrerão de fome! E quanto aos seus desejos? Começarão a foder um ao outro? Não sejam idiotas, essa é a única oportunidade de saírem desse lugar amaldiçoado.

Os garotos olharam entre e si e então o menor tomou a frente e respondeu – Podemos ir com vocês, mas quero ser treinado todo dia para poder lutar, e quero vingança contra esse capitão do Marca, irei mata-lo eu mesmo e olhar nos seus olhos enquanto ele grita por misericórdia.

- Piratas não pedem misericórdia garoto, não tememos a morte. – Respondeu o capitão

- Ele pode não temer a morte, mas ira temer a mim! Porque irei acabar com cada um de seus navios, um por um e ir destruindo sua reputação e sonhos.

- Ok, eu odeio negociar com crianças, deveria matar vocês agora eu mesmo, mas desde que se tornem os melhores e continuem lutando por mim, acho que posso deixá-los viver. Temos um trato.

Os garotos então se olharam e abaixaram as espadas.

A morte caminha para tiWhere stories live. Discover now