Capítulo 4

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          Noah Gale chegou no Sunshine High School como o novo centro das atenções. Não poderia ser diferente, pois ele era estonteante. Um porte atlético, o típico loiro atraente que por toda a história da humanidade fez as garotas suspirarem.

          Como sendo a única pessoa que ele conhecia, Florence aceitou a tarefa de mostrar-lhe o colégio, e bem que gostou muito de poder desfilar com ele sendo alvejada pelos olhares vidrados de inveja das outras meninas. E o mais incrível era que eu estava com os dois o tempo todo! Podia fantasiar que eu era o alvo da admiração deles. Isso me tornava patética?

          – Colecionar notícias? – Florence repetiu o que Noah respondeu quando ela perguntou qual era o hobby dos pais dele.

          – Sim, eles recortam as notícias mais chocantes ou, no mínimo, interessantes. Eles têm algumas raridades, como jornais do início do século. Já li casos que vão desde inaugurações de monumentos históricos aos de filhos que matam os próprios pais.

          – Que horror! – exclamei.

          Ele sorriu mostrando novamente seus dentes milimetricamente perfeitos. O fato de seu pai ser dentista certamente contribuíra para isso.

          Nesses poucos minutos que estivemos juntos, eu já tinha reparado que o tom verde de seus olhos iam mudando para um tom mais claro nas proximidades das pupilas, até circulá-las por um anel amarelo vivo. Tinha uma cicatriz de catapora acima da sobrancelha direita, o nariz parecia esculpido à mão, e precisava me conter para não acariciar seus cabelos para constatar se eram tão sedosos quanto aparentavam ser.

          – Mas posso garantir que eles só fazem isso porque gostam de colecionar e não porque pretendem fazer parte das manchetes algum dia.

          Ele olhava para mim de um jeito que me deixava constrangida e feliz ao mesmo tempo. Era o tipo de olhar que só acontecia quando se encontrava algo interessante para se apreciar. Tudo bem, entendo se também tenham custado a acreditar que isso fosse possível como eu.

          – Olá, Noah – Rebecca encostou-se à nossa mesa acompanhada da inseparável amiga Lauren, tão sutil quanto um ataque de abelhas assassinas. Meio que fingiu não existir mais ninguém ali. – Tenho me perguntado, tentado encontrar uma resposta convincente o suficiente para que eu consiga entender o motivo de você estar acompanhado de dois seres insignificantes.

          Florence revirou os olhos, dando uma discreta risada sarcástica.

          – E você é...? – Noah disse e fez uma pausa, simulando uma bela expressão de inocência, enquanto aguardava seu complemento.

           Rebecca sorriu incrédula, pois "quem não sabia quem ela era?!". Segundo a própria, sua fama se estendia até às cidades vizinhas. Percebi que ficou um tanto desconcertada.

          – Não seja bobinho fazendo essas piadinhas, querido – disse com uma charmosa jogada de cabelo a esmo, forçando um sorriso.

          – Mas não estou brincando. Sério, como você se chama?

          Ela ficou imóvel por uns instantes. Creio que avaliando a veracidade daquela situação.

          – Rebecca Hudson Agnoletto – disse ela como se desenhasse cada letra com os lábios. – A Rebecca Agnoletto.

          – Bom, Srta. Agnoletto. Respondendo sua pergunta: acabo de conhecê-la, esse é um dos motivos. O outro, é que gosto de ter em minha companhia pessoas que instigam minha curiosidade e que de cara me agradam.

O Segredo dos BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora