Capítulo 15

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          – Sarah? – minha mãe me chamou e me afastei de Mike, tão assustada, que nem ao menos consegui olhar para ele antes de sair correndo. Quase me choquei com ela, pois me aguardava próxima à porta do corredor parcialmente aberta. – Cuidado! O que foi?

          – O que foi o quê?

          – Por que está assim tão agitada?

          – Estou? – franzi o cenho. – Não, não, não... é impressão da senhora. E também não... não achei que estivesse tão perto da porta.

          – Que seja. O almoço está pronto, não quero comer sozinha. Pode chamar o Mike?

          – Hã... A senhora não pode fazer isso? Eu tenho que... preciso ir ao banheiro.

          Nem esperei que respondesse antes de sair correndo até lá, trancando a porta. Sentei no vaso sanitário, estralando cada osso de todos os dedos repetidas vezes por uns dez minutos. Então respirei fundo e desci, me preparando psicologicamente pra encarar Mike. Contudo, para a minha surpresa, ele não estava lá na cozinha, somente minha mãe, sentada à mesa.

          – Finalmente! – ela disse, começando a servir a comida nos nossos pratos. – Estou morrendo de fome.

          – Onde está Mike? – perguntei enquanto me acomodava na cadeira.

          – Não estava disposto.

          – Ah... – e refleti muito sobre o que ela falou. "Não estava disposto"? Por que ele disse isso? Era porque teria ficado tão atordoado quanto eu? Não está mesmo se sentindo bem? Tecnicamente eu o beijei primeiro... Teria sido precipitada e agora ele não sabia o que pensar sobre mim? Que medo senti de ter acabado naquele dia o que havia conseguido com ele desde as primeiras lembranças que tenho de minha vida... – Deve ser por causa dos machucados...

          – Provavelmente.   

          Como conseguir comer alguma coisa naquele estado emocional? Só que já tinha agido de maneira estranha o suficiente por um dia, então precisava mudar essa impressão antes que ela desconfiasse de alguma coisa. Quase regurgitei quando engoli a última porção, mas consegui comer tudo.

          – Vou preparar o prato do Mike para você levar para ele – minha mãe falou, levantando-se.

          A comida quis sair de novo.

          – Queria que a senhora fizesse isso.

          – Por quê? – perguntou já quase terminando com a tarefa, sem me olhar.

          – Bom... Quero me aprontar para meu compromisso...

          – Ah... – percebi que tentava disfarçar o sorriso. – Tudo bem então, pode deixar que eu levo.

          – Obrigada.

           Foi difícil me concentrar. Repetidas vezes me peguei parada, divagando com meus pensamentos.

           Lembro-me da última olhada no espelho antes de sair e tinha consciência de que estava bem. Mas não fazia ideia de quando tinha entrado no carro do meu pai, somente que estava contemplando a paisagem esbranquiçada através da janela. Uma única frase ressoava em minha mente: Minha nossa, eu beijei o Mike! Minha nossa, eu beijei o Mike!

          Queria resolver esse assunto, descobrir o quanto nossa amizade estaria deteriorada, e como acharia uma maneira de consertar tudo. Se é que isso seria possível... O problema era que estava apavorada. Não fazia a mínima ideia de quando teria coragem de olhar para Mike de novo. Tudo bem que ele já tinha dado sinais de que gostava de mim como uma... Como posso dizer? Uma moça sem nenhum parentesco que impeça qualquer chance de uma relação mais íntima. Mas a suspeita de que eu – ou mesmo ele – ter se enganado quanto a isso, esmagava meu coração.

O Segredo dos BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora