Capítulo 13

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          Quando uma pessoa que o pior ser humano do mundo ama, morre, até a sua tristeza é capaz de causar comoção.

          Eu lamentei tanto, tanto por Rebecca desde o primeiro instante que recebi a notícia de que Lauren Farley havia falecido num acidente que ocorreu no fim durante a noite de sábado. O carro onde estavam perdeu a direção no retorno a uma visita a alguns familiares em uma fazenda a algumas milhas da cidade. Estava com os pais, mas apenas ela não sobreviveu.

          Sam nos levou a notícia na manhã seguinte. Com exceção apenas de Mike, Sunshine Town em peso compareceu ao velório, inclusive o Sr. e a Sra. Farley, cheios de curativos. Rebecca parecia dopada por algum medicamento, estava completamente entorpecida. Eu não sentia muita simpatia por Lauren, no entanto, vê-la ali como um corpo vazio fez com que me sentisse uma pessoa desprezível.

          Imaginei se Mike teria alguma lição Bíblica a ser aplicada àquela situação. Eu queria que ele estivesse comigo naquele momento, mesmo tendo Florence e Noah do meu lado. Ao mesmo tempo em que eu lamentava por uma vida tão jovem ter se acabado, sentia também um pouco de medo pela constatação de que a morte nos rondava de perto, que ninguém estava livre de ser uma de suas vítimas... Tenho certeza de que Lauren jamais teria imaginado que aquele sábado seria seu último. O que acaba me fazendo achar que a vida aqui nesse mundo não tem tanta importância, pois é delicada, efêmera demais, se comparado a uma possível eternidade. Era algo que eu ainda não tinha tanta convicção, mas preferia tentar acreditar numa continuação. E nos preparar para chegar lá, seja onde for, era no que realmente deveríamos nos preocupar.

         Na segunda-feira o colégio estava em clima fúnebre. Os alunos colocavam flores rentes ao armário de Lauren. A sensação de passar em frente a ele pela primeira vez naquele dia não foi das melhores, um calafrio percorreu a minha espinha e tive que apressar os passos.

          Essa situação durou a semana inteira e não vimos Rebecca um dia sequer desde o velório. Não fazia ideia do quanto ela poderia estar sofrendo, uma vez que eu não suportava nem pensar na possibilidade de perder Florence. Acho que eu morreria aos poucos.

         – Nós deveríamos ir à casa de Rebecca – sugeri durante o almoço, na sexta-feira seguinte. – Tentar consolá-la ou o que for necessário.

       – A ideia não é ruim, Sarah – disse Florence. – Mas Rebecca não gosta da gente... Acho que ela prefere que pessoas mais próximas a ela se responsabilizem por essa incumbência. A família, por exemplo.

         – Foi muito triste o que aconteceu.

         – Não quero mais falar sobre isso, por favor.

         – E seu amigo? – Noah entrou na conversa.

         – Mike? – sussurrei, inclinando-me sobre a mesa para me aproximar mais dele no banco à frente.

         – Sim. Ainda aguardo a visita que você nos prometeu.

         – Estou planejando, de verdade.

         – E quanto tempo isso irá durar, Sarah? – Florence perguntou. – Não acha que já esperamos demais?

         Eu suspirei e me pus a refletir. Ainda hesitei em falar o que tinha acabado de pensar.

         – Que tal hoje?

         Os dois arregalaram os olhos e fizeram uma pausa.

         – Está falando sério? – questionou Noah, descrente.

         – Eu não disse que tenho saído com ele todas as sextas? Meus pais não estarão lá. Creio que seja uma ótima oportunidade de fazer vocês largarem do meu pé, finalmente.

O Segredo dos BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora