Os apagões de 070794

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Passaram algumas semanas até que 070794 voltou a utilizar seu poderes em grande escala, algo parecido com o que havia acontecido na casa de seu amigo, porém com tudo sob o controle dos oficiais do governo – com equipes preparadas para conte-lo caso fosse necessário.

O menino teria que novamente destruir a porta de entrada, usando seus poderes da exata forma que utilizara naquela tarde, e explodir a cabeça dos manequins super realistas feitos sob ordem do governo para que produzissem uma reação no mínimo parecida com a qual que o garoto sentiu naquele dia ao ver os pais do amigo.

Não deu certo.

070794 não conseguiu explodir nada além da porta, o que deixou os oficiais irritados, afinal, ele era a criança prodígio que sem qualquer treino conseguira fazer coisas que nem adultos totalmente treinados conseguiam fazer. Ele era a esperança do projeto que até então parecia não dar frutos.

Somente por causa disso, o líder do projeto – um homem alto, de cabelo preto e com pinta de cientista louco – nem pensou duas vezes antes de apertar um dos diversos botões dentro da sala de controle, permitindo assim que sua voz fosse transmitida para dentro da sala de teste – onde 070794 olhava fixamente para os dois manequins, como se estivesse tentando ao máximo fazer algo com eles.

- 070794, acho que mesmo com as nossas tentativas, o ambiente não está cem por cento fiel ao que aconteceu naquele dia. Então terei que te colocar no clima certo, se concentre em minhas palavras de agora em diante que tenho certeza que você conseguirá refazer seus atos. Então feche seus olhos para sentir na pele todas as minhas palavras. – Fez uma breve pausa para limpar a garganta e logo voltou a falar – Era uma tarde quente de verão, você tinha feito seus exames, e estava prestes a brincar com 201195. BAM. Aquele som de tiro veio da casa de seu melhor amigo, e você sabia exatamente o que havia acontecido. E tinha medo de perder seu único amigo. Invadiu a casa vizinha em um piscar de olhos, e a cena presente naquela sala enorme e idêntica a sua fez seu estomago revirar. 201195 havia sido baleado, aquele som assustar veio da arma que a mãe dele estava segurando. Ela matou 201195, ela matou o seu melhor amigo com um tiro certeiro no coração. Ele sangrou até morrer, com a respiração descompassada, com uma dor terrível.

Demorou alguns segundos para que 070794 estivesse chorando compulsivamente, ainda de olhos fechados, e para que ambos os manequins estivessem irreconhecíveis. As palavras precisas do cientista foram mais do que o suficiente para que a mente do garoto voltasse para todos os acontecimentos daquele dia, vira novamente – como se fosse um filme – seu amigo sangrando no chão de madeira da sala, assim como o rosto aliviado da mulher que pôs o mesmo no mundo. Conseguia até mesmo lembrar os sentimentos que aqueles olhos azuis passavam quando a mesma pôs aqueles olhos em si, o alivio presente naquela imensidão azul fora o suficiente para que tudo fosse pelos ares – não só na primeira vez, como também naquele teste.

- Muito bem, 070794. – Disse novamente o líder do projeto, com um enorme sorriso no rosto – Até amanha.

E instantes depois, o menino se encontrava caído no chão. Novamente, com os olhos bem abertos. Pela segunda vez, o cérebro de 070794 se desligara após tamanho esforço. Somente então que o governo entendeu o que significava aquele apagão, não se tratava de um menino em choque com o que havia acabado de fazer, mas sim um jeito do cérebro poupar energia após ser utilizado em excesso.

Pela primeira vez, entenderam que os poderes utilizados em grande escala não causavam mal apenas para aqueles que eram alvo, mas também para quem os usava. Aquela foi à deixa para que mais pesquisas fossem feitas, mas dessa vez com o foco em achar algo que impedisse os efeitos colaterais dos poderes.

E finalmente tinham a cobaia ideal para as suas pesquisas.

070794 / lashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora