Prefácio

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Há muitas pessoas segurando plaquinhas com o meu nome na plateia. Há tantas que até fazem o meu estômago embrulhar.

Que ideia absurda foi essa, Clarke?

Cantar para quatro jurados em um ambiente fechado é diferente, mas se enfiar num palco imenso com mais de cem ouvintes físicos além de milhares através da televisão é bem diferente, é claustrofóbico. As vezes me pergunto qual foi o estopim que me empurrou para esse universo maluco. Na maioria delas, nunca tenho uma resposta fixa.

Atrás das telonas digitais, seguro com tanta força o meu microfone que estou ciente de que logo logo os meus dedos atravessarão o ferro. Abby sempre me alertou quanto a dimensão do meu sonho de ser uma grande cantora e futuramente formar o meu próprio estúdio, assim descobrindo talentos e também proporcionando chances que nunca tive, o problema é que nunca lhe dei muita importância. Eu também deveria ter ouvido a minha mãe quando ela me forçou a pensar mais de uma vez antes de enviar a minha audição por e-mail ao programa. Novamente, eu não lhe dei ouvidos.

Mas aqui estou eu, quase três meses após  ter sido aceita e ter passado pela primeira fase, ouvindo atentamente contarem a minha história para o público. 

Muitas pessoas me conhecem lá fora sendo que eu nunca as vi antes, mas é dessa forma deturpada que a fama se baseia: O mundo lhe conhece e você tão pouco ele. Não há mais tempo para desistir. Não mesmo. Agora eles chamam meu nome:

- [...] recebam a australiana Clarke Griffin! - berra o apresentador Timmy Frey.

Caminho com as pernas bambas, piscando algumas vezes quando as luzes me atingem. Os aplausos incendeiam o estúdio, a gritaria segue o ritmo do meu coração. Acho que posso desmaiar a qualquer momento. No centro do palco, dou o meu melhor sorriso insólito.

- Como está indo, Clarke? Está confiante hoje? - Timmy Frey passa sua mão para detrás dos meus ombros, uma maneira eficaz de me manter equilibrada e de me sentir bem-vinda.

Minha mãe me aconselhou a respirar firme antes de abrir a boca. Assim o fiz.

- Um pouco. - minha voz sai trêmula. Algumas pessoas cochicham, mas pela rápida olhada que dou para a plateia, eles estão sorrindo para mim.

- Está nervosa, não está?

- Bastante. Tremendo. - mais pessoas riem. De alguma forma, elas acham facecioso eu me encontrar em estado avançado de pânico. Que coisa maluca é o público, não?

- Não fique, querida. - Timmy Frey esfrega os meus ombros. - Sua audição foi brilhante, não vamos esquecer que as quatro cadeiras viraram para você, certo? Mostre a eles do que você é capaz, Clarke.

Meu coração palpita.

- Eu espero não decepcionar. 

- E não vai. Uma salva de palmas para Clarke Griffin que esta noite cantará o sucesso Somewhere Only We Know do Keane!

Timmy Frey levanta a galera e todos me aplaudem com veemência. Posso me sentir sendo adorada, prestigiada. Demoro para ganhar movimento, fico estática com o afeto do público, a sensação tanto quanto é assustadora é energizante. Espero que isso faça algum sentido.

Estou sozinha no palco. A incidência de luz diminui e apenas uma fenda vermelha me ilumina. Os primeiros acordes do violão enchem os meus ouvidos e repasso tudo aquilo que aprendi com o meu pai.

"Sinta a música, Clarke. Deixe que ela faça parte de você, de quem você é. Permita-se ser uma nota infinita, permita-se ser a alma."

Anden Griffin dizia. E nesse momento, acolhi todos os seus conselhos.

Levo o microfone a boca e cantarolo as primeiras cifras.

I walked across an empty land
knew the pathway like the back of my hand

A lentidão é a minha melhor companhia, transparece o desejo do compositor em confiar que o seu amante possui o mesmo desejo de fugir para o lugar descrito.

Um lugar que só eles conhecem.

Nos últimos segundos, adiciono uma nota que nunca pensei que alcançaria já que considerei o meu nervosismo uma barreira para qualquer esforço. Porém, de alguma forma, senti-me no direito de tentar. Solto o diafragma e abro a boca. O tom sonoro sai com tanta facilidade que tenho a sensação de que sempre fiz isso, de que nasci para esse efeito.

E quando a música termina e a minha voz desaparece lentamente, os aplausos que se prosseguem e parecem nunca alcançar o fim, considero que fui bem.

Eu nasci para isso.

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Primeiro capitulo (nem conta tanto assim já que é um prefácio) dizendo um pouco como Clarke Griffin surgiu. Se tudo der certo, posto segunda feira um capítulo de verdade e assim formando datas precisas de postagem. Por favor, caros leitores que esbarraram nessa história/fic e apreciaram esse começo de enredo, favoritem ou comentem para que eu possa continuar postando >< obrigada desde já

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