Whatever The Hell We Want

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Nunca me deixaram cortar o cabelo ou mesmo pintá-lo, sempre me avisaram que mudanças são péssimas para os negócios, principalmente para a venda dos meus álbuns de figurinhas e a minha biografia. Acho graça. Com dezoito anos e já tenho uma biografia. É até risível pensar sobre uma particularidade dessa uma vez que o que está lá escrito não condiz em nada com a realidade dos fatos da minha infância e da minha adolescência.

Por exemplo, lá para o terceiro parágrafo, o verdadeiro autor da minha biografia conta que eu fui medalhista de ouro em ginástica Olímpica. Haha. Eu nunca nem cruzei o tatame da minha escola quanto mais fazer aqueles saltos formosos e habilidosos. Bem, pelo menos na última linha ele noticiou o meu segundo lugar no curso de três anos de enfermagem.

Além dessas estranhezas do mundo da fama, não ter direito sobre o seu próprio cabelo é demasiado irritante. Já quis aderir à moda do ruivo, mas o meu empresário negou assim que fiz a proposta, mesmo quando Raven apareceu dois dias depois com duas mechas vermelhas no seu cabelo castanho. Enfureci-me até a alma. Até que naquele mesmo dia, Lincoln, o empresário da banda assim como meu, me informou em particular que não há ninguém na GG com índice de popularidade maior que o meu. É exatamente isso. Há medidores dentro da nossa gravadora que informam o nível de reconhecimento dos membros da empresa, assim como dentro de uma banda feminina. Meu pico bateu um pouco acima de 8.6, ainda mais do que a de um rapaz de uma tal boy band que está agradando o histérico público feminino fora dos Estados Unidos, embora eu nem me lembre do seu nome como dos integrantes restantes.

E qual a moral da história? A minha imagem física é fixa, as pessoas me amam e me conhecem como a garota platinada da GG. Mude isso e perguntarão: Quem é ela? Isso não é bom pros negócios.

Para mim foi a gota d'Água. Eu queria ter xingado a burocracia da gravadora Polis, mas sabia que se fizesse algo para ridiculariza-la, uma multa gorda chegaria até a minha pessoa. Por isso, engoli minha língua afiada e berrei no meu solo dentro do estúdio enquanto Octavia alucinava na bateria. A morena foi um achado do Lincoln, que diz ter a encontrado num desses showzinhos de casa noturna, substituindo um baterista que pegou uma virose e teve que ser internado às pressas. Na verdade, o que eu e Raven fofocamos em nossos horários livres de fofocas, é que Lincoln tem algum envolvimento com a O., o que eu não estranharia se fosse verdade diante da eletrizante relação que ambos têm quando estão num mesmo espaço compartilhado. Ah, mas o que eu tenho a ver com isso? Eles até que são bonitinhos.

O quarto membro da GG não é o mais agradável do elenco, e digo isso não somente pelas três garras de unhas marcadas no meu pulso nesse exato momento, mas sim como o todo. Anya e eu nunca nos demos bem, e isso sempre se sucedeu desde o segundo em que fomos postas lado a lado num escritório quando Lincoln me viu cantando para o American New Singer e perdendo para o garoto de cabelos encaracolados. Foi naquele momento que ele decidiu que eu tinha grandes chances de me tornar uma superestrela, embora Lincoln nunca tenha dito que eu conseguiria tendo uma carreira solo.

Olhando para a loira de cabelos cacheados, acostumada a vestir sempre um jeans surrado e uma camisa de qualquer cor o suficiente legal e uma garota alta, esguia, com uma expressão grosseira e de longos cabelos aloirados porém escuros, Lincoln decidiu que daríamos certo. Por Deus, naquele dia ela arrancou três madeixas do meu precioso cabelo só porque eu disse que não precisava de uma guitarrista! Mas ainda assim a ideia para o nosso empresário parecia inebriante, aparentemente uma ideia de sucesso.

Bem... No final das contas isso deu certo.

Na mesma semana, me apareceu Raven. Sabia que a conhecia de algum lugar com aquele rabo-de-cavalo aristocrata e aqueles jeans colados. Levou um tempo para assimilar o seu rosto ao de outra pessoa. Finn Collins, famoso por ser o meu amor platônico adolescente. Ambos faziam parte de uma banda indie onde ela tocava teclado e ele violão. Os dois eram sensuais e envolventes, mas nada comparado ao responsável pelo meu primeiro coração partido. E seguidamente, responsável pelo o de Raven. Finn a traiu com uma fã histérica no final do seu último show, no interior de seu camarim. Foi através desse infortúnio e outros mais que ela deixou seu ex para se tornar uma GG.

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