Capítulo III - Eu Vi Dois Faróis Chamados Morte

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7 meses depois...
18:58

Raimundo: É um menino!
Valéria: Não é não! É menina!
Raimundo: Vai ser um menino e vai ter o meu nome!

Não acho Raimundo um nome feio, mas por favor, né?

Nos últimos meses foram bem difíceis, Raimundo não conseguiu emprego devido aos preconceitos que surgiram após o acidente, e eu também fui vítima desses estúpidos preconceitos, alguns até perguntaram se minha barriga brilha no escuro.

Já a minha gravidez resumiu em fome, náuseas, vômitos e ilusões bem estranhas (tipo Bob Marley), e ao mesmo tempo uma gravidez arriscada, até porque o bebê também foi contaminado. Pelo menos as manchas vermelhas do meu rosto já saíram. A qualquer momento eu posso dar a luz, e agora vamos ao hospital ver o sexo do bebê. Mas por que hoje? Há apenas 3 máquinas de ultrassom aqui em Goiânia: uma estava quebrada e precisou de conserto, outra é a do médico que faz ultrassonografia por 3 almas de cordeiro. E a outra (que é a do hospital onde Valéria trabalha) estava indisponível... até ontem.

Depois que a Valéria soube da notícia veio em casa para nos buscar. E agora às sete da noite os dois estão discutindo dentro do carro se é menina ou menino, parecem até duas crianças: uma sabe dirigir e outro sabe beber até cair.
Olho para a minha barriga e fico imaginando se meu filho (ou filha) vai ser igual ou pior que esses dois.

Valéria: Quem é a médica aqui? Eu que sei e tenho certeza de que é uma menina.
Raimundo: Você é médica, não vidente. E quem liga se você é médica? E eu sou o pai do bebê que está dentro da minha mulher, e fui eu quem meteu o meu espermatozóide Junior aí, então eu sei que é um menino!
Valéria: E você é pai, não selecionador de sêmen, e para de ser ridículo, se você...
Jesus amado, pra que essa discussão besta?

Vanda: Dá pra vocês dois calarem a boca? Valéria, você está dirigindo, se concentra somente no trânsito, e você, Raimundo Nonato, dá pra pelo menos uma vez na vida agir como um pai normal ansioso para ver se é macho ou fêmea?
Depois do pequeno sermão, os dois ficaram em silêncio.
Diz a Valéria que o hospital é na saída da cidade.

Vejo a motorista do gol esverdeado pegando uma embalagem com formato de paralelepípedo.
Valéria: Vocês vão querer biscoito?
Raimundo: Isso não é biscoito, é bolacha!
Valéria: É BISCOITO!
Raimundo: É BOLACHA!
Valéria: Ah mas você é muito chato, por que...
Vanda: CALEM A BOCA!

Digamos que a partir daquele momento eles me ignoraram, e discutiram, discutiram, até que na minha vista dois faróis aproximaram rapidamente.

Vanda: VALÉRIA, CUIDADO!

E tudo se apaga.

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Hospital Santa Casa de Misericórdia
20:34

Eu morri?

"bip, bip, bip, bip... "

Acordo ouvindo aquele som (e com uma leve dor de cabeça)... Então, não, não morri. Mas e o bebê, será que está bem?

Abri as pálpebras com certa dificuldade devido a luminosidade, e vi a minha irmã e meu marido olhando para mim. Percebo que eu fui a única que me dei mal no acidente, já que os dois estão saudáveis na minha frente.

Raimundo: Nossa, graças a Deus que acordou! Que susto Vanda.
Vanda: Que susto, Raimundo? Aquele susto chamado carro que BATEU DE CARA NA GENTE!? QUASE QUE BATEMOS AS BOTAS POR CAUSA DAS SUAS DISCUSSÕES BESTAS!
Valéria: Vanda, nenhum carro bateu na gente, aquele carro estava estacionando na estrada. Você teve um piripaque e desmaiou. Não houve nenhum acidente, a médica disse que está tudo bem com vocês dois, só foi um leve choque.
Raimundo: Enquanto você estava inconsciente, outro doutor veio fazer o ultrassom em você para ver se o bebê estava bem, e aproveitamos para ver se é menino ou menina, mas eu não podia ficar na sala, então só a Valéria que sabe.

AN? COMO ASSIM? Eu não vi o bebê?
Ah...
Poxa, nem vi o meu bebê...
Queria ter visto o meu bebêzinho que "brilha no escuro".

Dizem que mulher nasceu para sofrer...
Eu nasci pra ser lascada.

Vanda: ... Poxa, queria ter visto o pequeno.
Valéria: Ah Vanda, não fique assim, amanhã a gente vê, pode ser?
Vanda: Mas não vai ter a mesma graça. Mudando de assunto, Valéria, é menina ou menino?
Valéria se aproximou mais, segurou a minha mão, olhou para mim e deu um sorriso colgate.
Valéria: É uma menina... - agora olhando para o Raimundo - Chupa, paizão! parece que seu espermatozóide Junior é uma "Juniar".

Aquela tristeza que sentia dois minutos atrás sumiu (e minha dor de cabeça também).
É uma menininha. Minha menininha, que vou cuidar muito, com todas as forças.
Nossa! Se pudesse eu sairia daquela cama, pulava e dava um abraço naqueles dois idiotas. Então o máximo que fiz foi chorar de alegria.

Vanda: E como a bebê está?
Valéria: Tudo ok, o médico disse que é raro não ter nada de estranho nela, já que também recebeu radiação.
Suspirei aliviada, obrigada senhor.
Vanda: Graças a Deus.

Começamos a conversar sobre a novidade, imaginando como ela seria e outras dúvidas.
Valéria: E o nome?
An? Que nome?
Vanda: Que nome?
Valéria: O nome da bebê. Obviamente precisa de um nome, e falta pouco tempo pra ela sair. Já tem alguma idéia do que vai estar escrito na certidão de nascimento dela?
Vanda: Eu tenho sim, mas só se o papai aprovar.
Raimundo: Só aprovo se for Raimunda.
Nós duas respondemos em uníssono um belo "NÃO".

O que eu fiz para merecer isto?

A enfermeira entra na sala com uma bandeja cheia de quadradinhos.
Enfermeira: Alguém vai querer bolachas?
Raimundo olha para a Valéria com uma cara de vitorioso.
Raimundo: CHUPA! TE DISSE QUE É BOLACHA!

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