Abismo mental.

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Demorou um século para a aula terminar, eu sentia o olhar dela a cada dez segundos. E aquilo estava me sufocando, eu queria que ela parasse, mas toda vez que tentava falar algo as palavras não saiam. Não estava entendo porque estava agindo assim, nunca senti algo tão intenso.
Em fim o sinal tocou e fui o primeiro a sair da sala, disparei para o banheiro. Precisava lavar meu rosto e tirar aquele suor que escorria pela minha nuca. Respirei fundo e me olhei no espelho. Estava tudo certo, consegui me acalmar e sair do banheiro.
Logo estanco na porta, vejo Ramona passar pelo corredor lotado. Todos pararam a conversa e a observaram, olhares inseguros e expressões inquietantes estampavam seus rostos. Será que todos sentiam aquele arrepio ? Ou seria uma paranoia da minha cabeça? Quando ela passou por mim e me encarou, a lembrança do meu sonho me atingiu com muita clareza.
"Eu estava em uma floresta, tinha névoa por todo lugar. Nem mesmo conseguia enxergar meus pés ou ver onde pisava. Apesar do clima gélido minhas mãos soavam. Um corvo passou voando bem perto da minha cabeça o que me fez dar dois passos para lado. Eu precisava sair dali, mas parecia não haver saida. Eu sentia uma presença, tão próxima. Era difícil de enchergar algo por causa da nevoa. E de repente em um ponto a minha frente vi ela, com os braço na lateral do corpo, um vento soprou seu cabelo pra frente do seu rosto. Mas ela não se moveu, nem sequer piscava. Percebi, que entre os seus cabelos ela abria seus lábios em um sorriso sombrio. Dei alguns passos pra trás e cai em um abismo profundo."
Voltei a realidade quando Carl me deu um puxão no braço.
- Cara, você esta bem mesmo?
- Eu... eu não sei - comecei a suar frio. O corredor estava vázio agora.
Quanto tempo fiquei naquele pesadelo? Tempo suficiente pra ficar muito atormentado.
- O que está havendo Caleb? - Carl estava preocupado.
- Aquela garota, tem algo de muito errado com ela.
- Eu sei cara - disse ele passando as mãos no braço. - Toda vez que ela esta por perto sinto um arrepio percorre meu corpo.
- Eu sinto o mesmo - estava um pouco aliviado. - Achei que estava ficando maluco.
- Vamos pro refeitório, ainda da tempo de você comer algo.
- Nem estou com fome, Carl - ainda suava frio e sabia que não conseguiria engolir nada naquele momento.
- Certo - ele parecia mais tenso do que eu. - Vamos lá fora, respirar um pouco.
Fui com ele, havia algumas pessoas espalhada pelo jardim da escola. Conversavam baixo e olhavam de relance para os lados. Algo me dizia que eles sentiam o mesmo caláfrio que eu e Carl. De algum jeito aquilo era ainda mais perturbador.

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