Verdades ocultas

20 0 0
                                    

Estava ofegante quando deixei a bicicleta no gramado da casa de Carl. Parei alguns segundos para recuperar o folego e examinei a casa, nao havia nenhuma luz acesa e estava tudo silencioso. Olhei para os lados, nenhuma alma perdida na rua, somente eu. Era quase duas horas da manha, e estava muito frio, minhas maos estavam praticamente congeladas.
Entao, segui para o lado da casa e parei na janela do quarto dele. A janela estava aberta totalmente e o vento soprava as cortinas. Entrei e olhei o interior do quarto, a cama estava bagunçada, mas ele nao estava ali. Tirando a cama todo o resto estava arrumado e no lugar.
Estava escuro e a luz do computador de Carl iluminava tudo.
O computador.
Corri até ele e olhei a tela, um endereço estava marcado no bloco de notas e logo em baixo o nome do morador daquele endereço. Carl era demais, conseguiu o endereço de Ramona. Cliquei em seu histórico para ver como ele havia descoberto, mas sua ultima pesquisa tinha sido sobre o trabalho de historia que estávamos fazendo juntos.
Anotei o endereço, algo me dizia que Carl estava la, que foi ate la. Talvez ele tenha me ligado de la, mas o que havia acontecido? A voz que ouvi era de Ramona, um sussuro. Como se ela nao quisesse que ninguem ouvisse.
Nao pensei duas vezes e sai pela janela, o frio me atingiu de novo mas nao liguei. Logo ja estava seguindo com a minha bicicleta pelas ruas, o endereço nao era longe levaria uns dez minutos.

Ok, estava tao agitado no momento em que vi o endereço que nem sequer percebi que conhecia a casa que nele tinha. A Casa Black era bem conhecida. Principalmente no Halloween, conhecida por causa da sua aparencia sinistra e sua historia. Eu ainda me recordo de quando meu pai havia me contado essa historia.
"Você nao tem que ter medo, por que sao só lendas. Nunca comprovadas realmente. Mas sao intrigantes e voce fica com uma pulga atras da orelha."
Ele havia me dito isso quando eu tinha dez anos, meu pai sempre gostou de lendas urbanas, e sabia tudo sobre as historias da cidade. Acreditava em fantasmas e pensei que se eu contasse a ele tudo de estranho que estava acontecendo ele acreditaria sem questionar.
"Nunca vi um fantasma, mas sei que eles existem. Mesmo nao vendo é possivel sentir. As vezes quando estou sozinho sinto que estou sendo observado."
Quando era criança adorava ouvir essas historia, algumas eram experiencia do meu pai, outras ele dizia terem acontecido com amigos. Quando era criança acreditava em tudo isso, mas agora eu ja nao acreditava. Por varios motivos, só que ainda me lembrava da convicção das palavras dele quando me contava, via como os olhos deles ficando distantes como se a cena de tudo que contava passasse em sua mente. Entao, a historia da mansão veio a minha mente.
"Existe muitas lendas sobre bruxas, ha muito tempo atras elas realmente existiram. E eu acredito em tudo isso meu filho, e voce deve acreditar tambem. Antigamente existiam mulheres praticante de bruxaria, e a Mansão Black era seu coven. Diziam que elas eram más e faziam o mal para os outros moradores. Por isso eram condenadas a morte. Mas elas tiveram filhas e suas filhas tambem deram continuidade a raça, e é por isso que você deve acreditar. Hoje em dia existem as filhas de bruxas daquela epoca, elas ainda vivem entre nós. E voce deve ficar alerta, por que elas sao más e sao uma ameaça para nós..."
A lembrança se afastou, achava meu pai sábio. Nao por ter experiencia com tantas coisas, mas por ter conhecimento de tudo aquilo. O jeito que ele falava parecia que ele viveu naquela epoca ou ate mesmo ja viu alguma bruxa. Se pudesse perguntaria para ele sobre mais coisas desse tipo, mas ele se foi a muito tempo, estava em algum lugar bem mais melhor. Quando ele havia desaparecido, entendia por que, sua reputaçao exigiu isso. A reputaçao da minha familia, mas eu tinha tantas perguntas queria saber tanto sobre tantas coisas.
Afastei aqueles pensamentos, pois ja havia superado aquilo a muito tempo. E toda vez que lembrava de meu pai acontecia isso, a angustia que sentia por ter sido abandonado me atingia forte. Nao era hora de sentir, tinha coisas para resolver e uma dessas coisas estava bem na minha frente, escura, sinistra e particularmente abandonada.
Parecia que estava totalmente vazia, e um arrepio percorreu meus braços. Nao era medo, ou talvez fosse, mas sentia que algo iria acontecer. Só nao sabia explicar por que sentia, estava ali a sensaçao de que aquele lugar tinha historias que de algum modo me envolviam nelas. Pensei mais uma vez em meu pai, ele havia escondido a historia completa de mim, tinha algo a mais que meu pai me escondeu. E poderia ser que eu descobriria se entrasse na casa.

O piso de madeira rangeu assim que entrei na casa, a porta dos fundos estava aberta. Nao havia moveis no cômodo que parecia ser a cozinha, e muito menos uma lâmpada para acender. Com a luz do meu celular me gui-ei pela casa escura, tentando manter a coragem dentro de mim forte e firme.
Nunca tive medo de escuro ou de lugares assim, nem mesmo pavor por algo do tipo. Mas aquele lugar tinha uma energia ruim e pesada, como se o mal vivesse ali. Ou talvez fossem as bruxas praticando magia.
Ok! Isso era loucura. Eu poderia acreditar nessa historia, com tudo que estava acontecendo nao poderia duvidar dessa lenda. Só que eu nao queria acreditar, minha mae sempre disse que meu pai enlouqueceu por causa dessas historias. Por isso que nos deixou, por isso que abandonou minha mae e eu.
Eu sabia, la no fundo, que meu pai nao era um louco. Eu tinha vagas lembranças dele e nunca ele aparrentou estar desequilibrado mentalmente. Ele sempre foi um pai normal, sempre estava presente na minha vida. Ate derepente do nada sumir totalmente da minha vida. As vezes penso que ele foi por que nao aguentava mais a minha mae, as vezes nem eu aguento.
Com uma mexida na cabeça afastei esses pensamentos e olhei para o segundo andar da casa. A escada era curta e conseguia pressentir o barulho que ela faria a cada degrau que eu pisasse. Dei o primeiro passo e nenhuma barulho se fez, vi que era seguro e continuei. Demorei alguns segundos para subir, estava indo com calma, nao sabia muito bem o que iria encontrar no ultimo andar. Talvez estivesse vazio como ali embaixo.
Ouvi um barulho assim que cheguei no segundo andar. Sera que era passos? Meu coraçao acelerou, estava ficando nervoso. Eu estava totalmente exposto no corredor escuro, havia algumas portas e uma delas estava entreaberta.
Engoli em seco, nos filmes de suspense sempre aparecia cenas assim. Onde o protagonista sempre era surpreendido por algo. Eu poderia dar meia volta e ir embora, mas a insistencia me fazia persistir e me dava coragem. Eu estava com medo, nao sei exatamente do que. Talvez medo do que nao queria acreditar. A cada passo meus olhos disparavam para algum ponto do corredor, como se algo ou alguem fosse pular em mim a qualquer momento. Ou talvez Carl aparecesse e me desse um susto. Como se estivesse pregando uma peça em mim.
Cheguei até na porta e nada tinha acontecido até entao, pela fresta da porta pude ver uma lareira.
Acesa.
Sim, tinha brasas nela queimando e iluminando o ambiente. Isso queria dizer que alguem estava ali dentro, coloquei meu ouvido perto da porta e tentei ouvir algo. Mas o silencio era agoniante e o unico som que ouvia era o da minha respiração. Respirei fundo, muito fundo e estendi a mao para abrir a porta.
Ela rangeu conforme eu abria, me fazendo encolher com o barulho. Aos poucos o resto do comodo ficava visivel. Assim que a porta estava totalmente aberta uma visão preencheu meus olhos. Carl estava deitado no chao em frente a lareira. Estava todo encolhido e parecia estar em sono profundo, havia uma mesa com uns objetos que nao conseguia identificar. Havia tambem uma poltrona marrom perto de uma janela.
Me aproximei de Carl para ver se ele respirava,vi que seu peito subia e descia e fiquei mais aliviado. Ao seu lado no chao tinha um livro grosso e velho aberto. Tinha algo escrito, parecia ser em latim. Estiquei a mao para pega-lo, quando quase alcancei o livro alguem segurou meu braço e o torceu para tras em um movimento brusco. Cai no chao com um baque e algo atingiu minha cabeça fazendo-a latejar e fazendo minha visao escurecer.

DestinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora