Lembranças

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"Eu poderia segurar a mao dele por toda a minha vida, poderia te-lo em meus braços para sempre. E nunca iria enjoar do seus beijos, por que seus labios eram doces e macios. Mas no fundo eu sabia que ele nao seria meu totalmente, ele nao lembraria de mim daqui a um ano ou mais. Ele sempre se esqueceria do meu rosto e do meu toque. E seria assim por toda minha eternidade. Por que eu estava destinada a sempre perde-lo."
  Quando abri os olhos, pequenos pontos pretos atrapalharam a minha visao. Minha cabeça latejava muito e parecia pesar toneladas, nao conseguia mexe-la sem sentir uma tontura. Nao me lembrava de ter me machucado, na verdade nao lembrava nem aonde estava.
A unica coisa que recordava era de meu sonho esquisito e perturbador. Nao vi imagens e nem nada, apenas uma voz que parecia sussurrar dentro da minha cabeça. Uma voz doce e calma, que parecia acalmar os piores pesadelos. Em poucos segundos a imagem de uma garota me venho a mente, ela tinha cabelos negros e compridos. Uma pele muito branca e seus olhos eram castanhos escuro. Ela estava seria e com a testa franzida, mas olhei rapidamente para seus labios carnudos. Sua boca vermelha era tao linda e convidativa. Queria muito beija-la e sentir o gosto dos seus labios.
Aos poucos essa visão foi se afastando até que consegui enxergar aonde estava. Uma luz entrava pela janela e lá fora o dia parecia amanhecer, o sol começava a surgir, mas o frio era cortante ali dentro. Tentei virar minha cabeça para revista o quarto, a tontura me fez parar, mas conseguia ver uma lareira e uma poltrona ao lado dela. E na poltrona alguem descansava a cabeça na mão, parecia estar dormindo.
Avaliei a pessoa, nao conseguia ver muito bem o seu rosto, mas podia distinguir que era uma garota. Ela vestia uma calça camuflada com uma jaqueta jeans e coturnos. Em sua outra mao havia uma arma, eu conhecia aquela arma, era uma Besta.  Me perguntei porque que ela teria uma Besta, eu nao era uma ameaça nem mesmo Carl.
Carl... ele estava deitado um pouco distante de mim, parecia dormir pesadamente. Aos poucos fui recordando a noite anterior, o por que de eu ter vindo até ali. Mas nao sabia por que estava desacordado, alguem havia me atacado e batido em minha cabeça. Mas nao tinha conseguido nem ver quem era. Sera que era essa garota que estava dormindo na poltrona? Ela tinha uma arma, poderia ser muito bem ela se o fato de a pessoa que me atacou ter torcido meu braço tao bruscamente. Ela nao teria força pra isso, ou teria?
Nada explica o motivo de ela ter feito aquilo, nem mesmo conhecia ela. E por que ela estaria na casa de Ramona? Eu precisava acordar Carl e ir embora dali. Só que qualquer movimento poderia acorda-la.
Tentei me sentar devagar, com muito esforço e com a minha cabeça girando consegui finalmente ficar em pé. Na minha lembrança da noite anterior tinha um livro, olhei ao redor e nao o vi em lugar algum. Nem mesmo a mesa com aqueles objeto estava lá. Nem a lareira estava mais acesa, por isso o frio preguinava o quarto. Dei um passo cambaleante, ela havia me batido muito forte mesmo, mal conseguia me aguentar em pé. Caminhei até meu amigo e me ajoelhei ao seu lado, chaqualhei seu ombro e ele nem sequer deu sinal de vida. Chamei seu nome baixinho enquanto mexia mais ainda em seu ombro. Nada. Dei um leve tapa em seu rosto e nao parecia ter funcionado. Ele respirava, entao eu sabia que estava vivo. Mas ele sempre teve sono pesado, poderia acabar o mundo que ele nao acordaria.
Balancei seu ombro com mais violência e ele ainda nao reagia, comecei a suar frio. Com um certo desespero coloquei o rosto entre as maos e tentei pensar em algo, mas mil coisas passavam pela minha mente nao deixando eu me concentrar. Derepente ao meu lado ouvi um click, ergui a cabeça e me deparei com uma arma apontada diretamente pro meu rosto. Engoli em seco e olhei para o rosto da garota, fiquei um pouco surpreso em constatar que ela era bem atraente.  
Tinha um rosto delicado e levemente avermelhado, talvez por causa do frio. Apesar de estar usando uma arma ela parecia frágil e inocente. Mas aparencias enganam, nao é mesmo? Ela me encarou seriamente e seus olhos castanhos analisaram cada movimento meu. Eu nao ousei me mexer, nem mesmo piscar, algo me dizia para nao confiar nela.
- Se afaste dele - disse ela finalmente.
- Nao vou me afastar - retruquei. - Abaixe a arma.
- Nao vou abaixar - a arma fez um click. - Se nao se afastar a minha amiga aqui vai fazer um belo estrago.
- Ele é meu amigo, nao vou me afastar.
Seu rosto expressou uma certa confusao. Olhou para meu amigo e depois para mim, me olhou de cima a baixo. Sua mao abaixou um pouco, como se ela nao precisasse se alarmar a qualquer ameaça.
- Quem é você?
- Você nao me conhece, nao precisa saber meu nome.
- Eu tenho certeza que te conheço de algum lugar - ela parecia sorrir. - Eu até imagino quem voce seja.
- De fato nao sabe.
Ao meu lado Carl deu um sinal de vida ao soltar um barulho estranho pela boca. Olhei para ele rapidamente e o chamei pelo nome, ele reagiu abrindo os olhos e encarando eu e a garota. Sua expressao estava calma e sonolenta. Imagino que ele tenha sido dopado, e que demoraria para ele situar aonde estava. E nem perceberia que estava em perigo enquanto estivessemos ali naquela casa.
- Como voce se sente? - Me surpreendi com a preocupação da garota. - Esta com sede?
Ela pegou uma garrafa que estava em cima da poltrona e se ajoelhou ao lado de Carl. Meu amigo levantou a cabeça enquanto ela o ajudava a beber a agua. Eu observava tudo com certa cautela, e tentava entender o que estava acontecendo. Presumi que eles se conheciam, ela o ajudava a beber a agua e queria que eu me afastasse. Isso estava estranho e uma confusao se habitou em minha mente. Me levantei e sentei na poltrona enquanto ela o ajudava a se sentar, minha mente vagou e muitas coisas agitaram minha cabeça. Consegui me desligar daquela cena e voltar para tudo o que me intrigava e que eu nao conseguia resolver.

Depois de uma hora Carl conseguiu se levantar e decidir que conseguia andar. Ninguem  havia me explicado nada sobre o que estava acontecendo, e eu estava começando a ficar impaciente. Os dois conversavam e riam como velhos amigos, eu tentava demonstrar que nao estava me importando, mas a tal garota me olhava de vez em quando. E eu sabia que ela notou o meu desconforto, mas Carl nao parecia notar.
Por fim, quando decidiram ir embora, eu nao aguentei e questionei os dois. Os dois se entre olharam e se decidiam mentalmente quem iria explicar a historia toda.
- É uma longa historia -  disse Carl. - Amy e eu somos velhos amigos.
- Se conheceram aonde? - Eu e ele eramos amigos desde criança, nao me recordo se algum dia ele mencionou ter uma amiga.
- Minha tia é vizinha dos pais de Amy - olhei pra ela e ela concordou.
- E porque ela esta com essa arma?
Outra vez se olharam, entao pude perceber que tinha uma historia ainda maior por tras daquilo. E minha cabeça nao poderia imaginar algo que explicasse aquilo. Talvez tivesse fora do meu consenso, e eu jamais seria capaz de imaginar algo logico para aquela situaçao.
- Acho que deveriamos sair daqui antes de começar esse assunto - Amy olhou para o corredor. - Aqui nao é seguro.
Carl concordou e seguiu andando para fora do quarto. Sem muita opção eu segui os dois, uma pergunta atras da outra e nenhuma resposta concreta. 

Ja fora da casa paramos e olhamos para a estrada vazia. Ainda era noite e eu nao fazia ideia de que hora era, coloquei minha mao no bolso e senti meu celular. Peguei-o e olhei a hora, 5hrs da manha, pelo tempo que passei dormindo poderia ser bem mais tarde. Quase dando a hora de ir para o colegio e eu estava com a mesma roupa do dia anterior. Precisava de um banho e escovar os dentes urgentemente.
Carl e Amy conversavam entre si, me sentia totalmente excluído naquele momento. Era como se eu nao tivesse ali do lado deles, como se eu nao merecesse nenhuma explicação. Dei uma pequena tossida, para lembra-los de que eles nao estavam sozinhos.
- Ah, vamos para minha casa - disse Carl. - La conversamos.
- Tudo bem, vamos - mais uma vez tive que segui-los sem nem mesmo poder perguntar nada.
Na verdade eu queria sair dali logo, ir para bem longe. Queria que tudo isso fosse apenas um sonho e que em alguns segundos meu despertador tocasse, me acordando para mais um dia tedioso na escola. Só que eu sabia que aquilo nao era um sonho, porque era muito mais do que real, de algum jeito eu sentia isso, sentia que aquilo iria acontecer. Para ser sincero tinha uma sensaçao de que ja vivi tudo aquilo, mas era só uma sensaçao distante.
Em fim chegamos ao nosso destino final, ja era dia e as pessoas começavam a sair de casa para seus compromissos diários. Minha mae deveria estar brava e me esperando sentada no sofa, nao iria ligar para dar noticias. Esperaria tudo se ajeitar e as coisas ficarem mais aceitaveis, talvez contaria tudo para ela, mesmo sabendo que ela nao acreditaria nem na metade.
Um vento repentino fez um arrepio percorrer meu corpo, um certo desconforto tomou meu peito. Algo estava mais errado do que o normal, apesar de achar que nao poderia piorar. Mas claro que tinha, nao é? E era exatamente o que aconteceu. Havíamos parado por um breve momento do lado de fora da casa de Carl, a porta da frente estava aberta, escancarada. Alguem havia invadido a casa.


























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⏰ Última atualização: Sep 28, 2016 ⏰

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