Noite atormentada.

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Cheguei em casa mais rápido do que imaginava. Talvez quisesse o conforto da minha cama tão desesperadamente. Depois do almoço Ramona Black não foi mais vista pela escola. De algum modo surgiu um certo alivio entre os alunos. Mas eu queria tanto saber porque ela era tão intrigante. Queria tomar a coragem de lhe fazer perguntas, talvez eu não conseguiria juntar coragem suficiente pra isso.
Seus olhos vinham a todo instante a minha mente, é como se eles tivessem sido marcados a ferro na minha memória. Porque de repente sinto que conheço ela? Só que o mesmo arrepio ainda estava ali, preso em minha pele.
Fui até a janela começava a anoitecer, e eu podia ver a lua nitidamente e ela estava tão bela. Nunca parei para admirá-la. Ela estava tão brilhante e grande, sentia vontade de toca-la. Aquilo era tão estranho, a noite estava quieta, tudo estava quieto demais. Nem mesmo meus pais faziam barulho algúm.
Senti um suspiro atrás de mim, endireitei meu corpo e virei somente o rosto. Sim, eu estava assustado. Muito por sinal. Vi uma figura feminina, era ela, sabia que era. Podia sentir sua presença tão fortemente. Virei meu corpo todo e a encarei, olha a coragem estava ali.
- O que... -comecei a dizer, mas ela colocou o dedo na boca pedindo silêncio. Logo ouvi uma batida na porta, era minha mãe. - Como sabia?
- Sabia o que? - disse ela depois que minha mãe se afastou.
- Porque toda vez que você esta perto sinto algo estranho? Algo que não sei descrever? - Ela me olhou com aquele sorriso pertubador.
- Voce não se lembra de mim - nao foi uma pergunta. - Obviamente não deveria lembrar, sou um pesadelo.
- O que quer dizer? Tira essa confusão da minha cabeça. - Praticamente implorei, ela deu alguns passos em minha direção.
- Eu não posso Caleb - ela olhou tristemente pela janela. - Eles estão nos observando agora. Não posso nem mesmo lhe tocar.
- Nao estou entendendo - estava a ponto de ficar desesperado. - Ramona me diga o que você esta querendo dizer.
- Eu não posso, fui proibida de me envolver com você de novo. Dessa vez é sério, pode acontecer algo muito ruim. - Eu a olhei, seriamente. O olhar dela me dizia tudo, mas eu não era capaz de entender nada. Queria que dissese em palavras, queria que me explicasse porque eu queria tanto conforta-la mas não conseguia sair do lugar.
- Eu prometo que vou achar uma solução para isso - sussurrou ela quase tão perto de me tocar. - E você vai poder me tocar como sempre fez.
E então ela se afastou tao rapidamente, abriu a porta e saiu. Simplesmente assim. Corri ate a porta e o corredor estava vazio .

Depois de rolar na cama por três horas consegui pegar no sono, uma hora e meia depois o despertador tocou. Pensei seriamente em nao ir para o colegio, consegui com um impulso levantar e ir pro banho. Sentia meus olhos pesados e uma moleza no corpo, estava com muito sono e provavelmente estaria com enormes olheiras.
Desci a escada e minha mae ja estava de pé preparando o cafe. Sai sem dizer nada, muitos pensamentos agitavam minha mente e eu nao conseguiria manter uma conversa com minha mae, ela nao entenderia minha confusão interna se contasse a ela.
Cheguei na escola e nem sequer olhei para os lados, fui direto pra sala e me sentei na carteira. Encolhi os ombros e fixei o olhar na mesa, minha cabeça rodava estava tao confuso. Ah muito tempo nao sentia isso, nao sentia algo tao intenso. Minha vida sempre tinha sido patetica e nunca conheci alguem tao intrigante. Sempre tive poucos amigos e sempre fui meio anti-social, na verdade nunca me importei com isso, em ter amigos. Nunca me dei bem com meus primos, sempre fui meio solitario, e agora com esse turbilhao de sentimentos fico confuso. O que estou sentindo por uma pessoa que conheci a um dia, mas que de alguma forma parece que conheço a anos? Nao sei como reagir e nem o que pensar sobre. Carl era uma exceção, era um amigo que nao imaginei que iria ter. Sendo que nos conhecemos desde criança, mas nunca conversamos antes, antes de alguns acontecidos.
Logo os alunos começaram a entrar na sala e sentarem em suas carteiras. Estava tao perdido em meus pensamentos que nao notei quando Carl sentou a minha frente em silencio. Quando levantei meu rosto para comprimenta-lo, minha atençao foi desviada para outra pessoa. Nao, nao era Ramona. Era um cara, alto e musculoso, com cabelos pretos e uma expressão meio severa no rosto. Ele parecia velho demais para estar na escola, poderia ate confundi-lo com um professor se nao fosse o fato de ele carregar uma mochila e ter se sentado em uma das carteiras atras de mim.
Enquanto passava ao meu lado no corredor entre as carteiras me encarou com olhos serios e inquisidores. Sera que mais um que nao vai com a minha cara? Ele era intimidador, e talvez por ser grande provocava um certo desconforto. Quando comecei a questionar essa ideia minha atençao foi novamente desviada, e dessa vez era a pessoa que eu esperava fortemente encontrar. Ramona estava usando o uniforme desta vez, ele ficava tao bem nela assim como qualquer roupa. Estava ficando maluco imaginando essas coisas e pensando desta maneira. O que estava acontecendo comigo? Nunca havia me interessado por nenhuma garota tanto assim, a ponto de achar que ela ficava linda com qualquer roupa.
Ela parou por um momento antes de se sentar e percebi que encarava o cara novo, com uma expressao de confusão e talvez raiva? Sera que ela conhecia ele? De algum modo parecia que se conheciam, eu olhei de relance pro tal cara e ele sorria ironicamente pra Ramona e virou o rosto para minha direção, seu sorriso só aumentou.




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