Sentimentos gelados

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As aulas passaram como um borão, tudo o que fiz foi automatico. Respondia Carl, mas nao prestava atençao em quase nada do que ele dizia. Na hora do almoço mal senti o gosto da comida, se eu estava estranho? Estava muito, e precisava resolver aquilo. Eu sentia a presença de Ramona, sempre a procurava com os olhos e quando a via ela me olhava tambem. Nao conseguia interpretar seus olhos ou o que pensava. Ela parecia aflita e incomodada, mas em nenhum momento insinuou querer falar comigo. E porque falaria? A conversa da noite anterior pareceu ter sido um sonho, entao, sera que nao foi?
Enquanto mexia na comida sem nenhuma intenção de continuar a comer, senti uma presença em pé ao lado da mesa em que eu estava. E aquele arrepio, aquele maldito arrepio estava ali grudado e pressionado minha pele. Olhei para o lado, era o cara novo, nao olhei para cima, para seu rosto. Encarei minha comida agora ja fria, e esperei ele dizer algo. Parecia que queria conversar, mas nao seria eu quem diria a primeira palavra.
- Você é o Caleb, não é? - Ele apoiou as maos na mesa ao lado do meu almoço. Eu o olhei, e vi em seu rosto um olhar curioso. O que isso significava?
- Sim, sou eu.
- O Sr. Andersen, me sugeriu que pedisse sua ajuda para recuperar as materias, ja que entrei no meio do ano - oh, droga. De jeito nenhum queria ajudar o cara novo.
- Ah - fiquei sem o que dizer, eu poderia dizer nao, mas ele era estranho e de algum modo bem sinistro. - Esta certo, te empresto meu caderno.
- Hm, voce conhece ela?
- Como? - Foi quase que premeditado, meu olhar encontrou o dela assim que ele me perguntou aquilo.
- Não, ela é nova aqui assim como voce. Como é mesmo seu nome?
- Derek  Ulf-  ele nao deixou de me encarar nem um segundo e o sorriso dele estava me incomodando profundamente. - Eu conheço ela, e muito bem por sinal.
Entao, ele saiu sem dizer mais nada, simples e normal. Olhei novamente pra ela e minha cabeça girou em torno daquelas palavras, ela fransia a testa e sua boca estava em uma linha reta. Pude perceber agora, que o incomodo que ela demonstrava sentir era porque conhecia Derek, e por ele estar ali a deixava inquieta. Tinha algo muito estranho, algo aconteceu entre os dois e eu nao entendia por que me importava tanto com aquilo. Nao entendia por que aquilo me fazia sentir que tinha haver comigo. Aquele velho sentimento de dejavu estava presente.
Assim que acabou a aula Carl me acompanhou até em casa, aquele semestre estava complicado entao iriamos estudar juntos. E como eu poderia esperar ele começou o assunto que me provocava sentimentos contraditórios e difíceis de decifrar. Queria evitar falar sobre aquilo, mas ao mesmo tempo queria ajuda para entender. E eu sabia que meu unico amigo me ajudaria com aquilo, sabia que poderia contar com ele.
- Tudo isso que voce me falou - começou ele depois que desabafei e contei tudo que havia acontecido no dia anterior. - É meio maluco. Ela aparece no seu quarto e diz essas coisas.
- Eu sei que é dificil de acreditar, mas preciso de respostas Carl se nao vou enlouquecer.
- Vou te ajudar, irmão - ele colocou a mao em meu ombro e apertou forte. Senti um conforto, alguem com quem eu poderia contar. - Por onde vamos começar? - Um sorriso surgiu em seu rosto.
- Não faço ideia.
- Entao vai ser complicado.
Encolhi os ombros e chutei a neve do gramado. Estávamos do lado de fora da minha casa, olhando a rua vazia e a neve cair devagar do ceu. A cidade era pequena e nevava quase o ano todo, ja havia me acostumado com o clima frio. Pra ser sincero adorava aquele clima gelido, mas aquela cidade ja nao me contentava mais. Depois da formatura me mudaria dali, iria pra longe talvez. Para alguma faculdade em outro estado, quem sabe.
- Caleb?
- Sim?- Olhei pro meu amigo e segui seu olhar, ele encarava uma figura que estava bem distante, mas conseguíamos ver que nos olhava. - Quem é?
- Achei que reconheceria sua maior perdição -  no fundo sabia do que ele estava falando, ou melhor de quem. Mas resolvi me fazer de desentendido para talvez enganar a mim mesmo.
- Eu... - comecei a dizer, mas perdi a fala quando de repente a figura simplesmente sumiu.
- Mas que porra foi essa - Carl me olhou boquiaberto.
- Simplesmente sumiu e acho que eu sabia quem era.
- Claro que sabia, o olhar dela estava pesado em cima de nós, voce demorou a perceber, mas acho que ela nos seguiu. - O encarei, como nao percebi? Se a sentia sempre?
- Tem certeza, Carl?
- Tenho, assim que paramos aqui vi seu vulto la distante.
Isso foi realmente surreal,  ela desaparecer como fumaça no vento. E porque ela estava nos olhando de longe? Aquilo estava ficando cada vez mais intrigante e eu precisava descobrir o que estava acontecendo. A confusao estava bem visível em meus olhos, se nos conhecíamos,por que nao me lembrava de nada? Eu sentia que a conhecia de algum lugar, mas era agonizante nao lembrar de onde.
Queria ir ate a casa dela e a interrogar, ir ate la e fazer ela contar tudo, cada detalhe e se estava brincando comigo queria que parasse. Mas aonde ela morava? Eu nao fazia ideia, mas iria descobrir, iria atras e resolveria essa historia.
-Vamos entrar -disse para Carl. - Temos muito o que fazer.
- O que voce esta tramando, Caleb? - Me perguntou enquanto entrava em casa e eu o olhava seriamente.
- Temos que descobrir o passado de Ramona Black.
Ele concordou com a cabeça e me seguia, até parecia que ele entendia meus pensamentos e as palavras silenciosas que nao era preciso dizer. Por isso nos dávamos bem, de alguma maneira Carl me entendia simplesmente só pelo meus olhares e comigo era do mesmo jeito. Nao era dificil decifrar os pensamentos dele. Éramos talvez mais do que amigos ou melhores amigos, éramos irmãos de verdade.
   Passava da meia noite quando Carl foi embora, logo que combinamos um plano. Um plano bem precário pra ser sincero, poderia dar errado, mas foi o unico que conseguimos arrumar. Logo pela manhã dariamos inicio a uma perseguição de pistas, iriamos atras de respostas e eu estava muito ansioso. Enquanto olhava a noite fria e a leve garoa que caia pensava nas possibilidades de Ramona estar brincando comigo, fazendo algo muito errado com meus sentimentos. Mas tudo o que aconteceu ate agora foi intrigante, e dificil de acreditar. Nada fazia sentindo naquele momento, o fato de eu ter certeza de que a conhecia de algum lugar, a repentina visita dela no meu quarto e sua presença quando estava com Carl. Nada explica como ela conseguiu entrar na minha casa e muito menos o truque em que ela simplesmente sumiu.
Puff...
Simplesmente assim, e bem na nossa frente. Seria magica ou uma simples ilusao? Ou entao uma alucinaçao? Mas eu e Carl vimos aquilo acontecer, ou os dois estavam ficando loucos ou tinha algo sobrenatural acontecendo.
Pra ser sincero nunca fui fã de magicos, sempre achei meio ridículo, nao conseguia ver sentindo e sempre imaginei o truque por tras da magica. E nao conseguia tirar da cabeça o que Ramona simplesmente fez, mas nao duvidava que poderia ter sido algo surreal ao mundo humano. Comecei a pensar em vampiros e lobisomens, mas eles nao se encaixavam naquilo. Com certeza não, eu teria que pesquisar na internet sobre aquilo. Talvez la tenha alguma coisa sobre isso, e se eu ler algo realmente idiota sobre isso? Era agoniante querer acreditar e ao mesmo tempo achar que esta ficando louco.
Meu celular tocou, era tarde porque alguem estaria ligando a essa hora? Peguei o celular e vi na tela a foto do meu amigo, atendi rapidamente.
- Carl?
- Caleb, você nao vai acreditar - começou ele, mas derepente a ligação ficou muda.
Depois de alguns segundos ouvi um sussurro.
- Caleb...
Conhecia aquela voz, e nao era de Carl. Peguei meu casaco e sai pela janela para minha mãe nao saber que sai, peguei a bicicleta e começei a pedalar. Algo estava acontecendo, algo muito errado e instigante.

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