Capítulo 3

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 Vi Attina apenas uma vez, nos encontramos alguns meses atrás quando sentimos a presença da deusa na água. Ela tinha longos cabelos castanhos que combinavam perfeitamente bem com a pele bronzeada e os olhos verdes, um ar de superioridade, era notável que a guardiã não era desse tempo. Sua beleza era transcendental e tão hipnotizante quanto sua voz. Ela havia me convidado para viver com ela em San Mateo, e apesar de ter um grade carinho por ela, eu nunca fui muito fã de cidades maiores, você encontrava alguém muito rápido. Sofria e precisava se mudar cedo demais.

Alguns dias depois, Atargatis me contou que Attina era uma das primeiras sereias que ainda sobreviviam, foi salva de um naufrágio durante a idade média, e sempre foi muito fiel à deusa. Senti um misto de inveja e pena, pois ao mesmo tempo que eu sentia o carinho especial que a deusa tinha por sua guardiã, também sentia que nunca me permitiria pensar no número de mortes que Attina havia causado.

Levantei do sofá e entrei no banho, encontrando conforto no contato com a água morna. Pensei em Attina, no garoto da cafeteria, na vida pacata de Olivia e como desejava ter aquela liberdade. Meus pensamentos foram interrompidos com uma batida estrondosa em uma porta de vidro, desliguei o chuveiro, me enrolei em uma toalha e fui pé ante pé até a sala, onde me deparei com uma mulher nua e encharcada do lado de fora da porta da sacada, seu corpo tremia e as gotas d'água se misturavam com as lágrimas que escorriam de seus olhos.

"Attina?", perguntei desacreditada quando abri a porta. "Minha deusa, o que está fazendo..."

Fui interrompida por um abraço apertado, a sereia afundando seu rosto no meu pescoço, soluçando desesperadamente. Eu, atônita, lentamente a abraçei de volta.

"Siena me desculpa eu.... Não sabia a quem recorrer". Seus olhos verdes estavam avermelhados por conta do choro, mas não me impediam de ficar espantada com sua beleza, seu corpo curvilíneo era moldado por cachos castanhos que iam até seu umbigo e suas bochechas eram marcadas, como se nunca houvesse passado um dia acima do peso perfeito. Instintivamente tirei a toalha do meu corpo e a cobri, a levando para o banheiro e ligando o chuveiro. Attina abaixou a tampa e sentou-se no vaso sanitário, secando os olhos com a toalha úmida. "Eu... Não sei se tenho forças para terminar minha missão, está tudo acontecendo tão rápido, ele não, não sei, eu..."

"Está tudo bem... Respira" A coloquei embaixo do chuveiro antes que ela começasse a chorar novamente. "Vou me vestir e pegar roupas limpas pra você, ok?"

Voltei com uma camiseta que usava para dormir e lentamente a vesti. Nunca havia visto Attina trêmula deste jeito, ela sempre pareceu tão etérea, segura... A ver naquele estado era a confirmação que o mundo estava de cabeça para baixo. A sentei na cama do quarto de hóspedes e comecei a escovar seu cabelo, sentindo sua respiração se acalmar. "O que houve, Attina?"

"Eu... Você viu o noticiário?", confirmei e ela continuou. "Josh foi meu centésimo, Sienna."

Gelei. Agora fazia sentido, eu também não sei se aguentaria. Sentei-me ao seu lado e a abracei, beijando sua testa e sentindo suas lágrimas caírem em minha camiseta. "Foi tudo tão depressa. Ele era incrível, o sorriso dele me derretia, e ele era tão, tão inteligente, bonito, talentoso e eu tinha tanta certeza que era ele... Não tinha como não ser. Eu não quero sofrer dessa maneira de novo, não quero entregar mais ninguém para o oceano..."

"Passe um tempo comigo então. Você não pode ficar sozinha nesse estado..." A guiei para a cozinha e ela sentou-se timidamente na mesa de jantar. Entreguei um copo d'água com açúcar e peguei uma caneca de café pra mim mesma.

"Siena... Attina está com você?" Ouvi a voz da deusa ecoando em meus pensamentos. Confirmei sem falar uma palavra e a resposta não se demorou. "Cuide dela, ela está frágil, desequilibrada, precisa de ajuda."

SirenaOnde histórias criam vida. Descubra agora