Capítulo 9

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Só quando Caleb me largou em casa naquela noite eu percebi o quanto minha cabeça doía. Era uma pulsação constante que quase sobrepunha-se aos meus pensamentos. Abri a porta de casa e larguei a bolsa no chão antes de me jogar no sofá e cobrir meu rosto com uma almofada, ignorando o fato de Attina estar sentada naquele mesmo sofá, lendo algum livro.

"Noite ruim?" Perguntou, enquanto colocava o marcador de página no lugar e largava o livro na mesa de centro.

"Em que sentido?" Grunhi, levantando novamente e indo em direção à bancada da cozinha, mais precisamente a gaveta de remédios. "Foi a melhor E a pior noite de todas."

"Nossa, Si. Foi pesado assim?" Ela comentou, observando os quatro comprimidos para dor de cabeça que eu tinha na mão. "Você não pode fazer a louca e ir tomando tudo isso de qualquer jeito."

"O que pode acontecer comigo? Não é como se eu fosse morrer", debochei após engolir as quatro pílulas de uma vez com ajuda de um copo d'água. "Ele é a melhor pessoa que eu já conheci, Ti. Ele... Me tira do chão, em todos os sentidos", completei, rindo comigo mesma ao lembrar do que aconteceu na escada de incêndio naquela noite. Ainda não tinha certeza se tudo havia acontecido ou era apenas minha imaginação.

"Você decidiu o que vai fazer, então? Você não pode continuar se torturando assim, Siena." Attina falou, tirando o frasco de remédio das minhas mãos antes que eu pudesse pegar mais. "Isso não funciona pra você, nós duas sabemos que só uma coisa pode curar essa enxaqueca."

"Isso já aconteceu com você?" Questionei a guardiã, enquanto tomava mais um copo d'água, desta vez sem acompanhamento. "Já precisou fugir de algum deles porque entregá-los doía demais?"

"Não... Nunca me atingiu desse jeito", ela disse, soando culpada. Attina estava nesse mundo a mais de sete séculos, viu mais mortes do que eu poderia imaginar, não só as causadas por ela. Sua mente era perturbada, eu sabia que a machucava pois quando ela dormia, ouvia seus grunhidos de dor e sua voz chamando por vários nomes em seu sono. Se nem mesmo todos estes homens a afetaram como Caleb me afeta, como poderia sequer considerar enviá-lo à Deusa?

"Não vou entregá-lo." Disse, retirando os sapatos antes de subir as escadas para o quarto. Eu não conseguia parar quieta, a ideia de poder perdê-lo para sempre não era mais uma opção. "Eu vou embora daqui."

"Você vai o que? Menina, calma!"

"Eu não posso continuar com isso, Attina! Essa dor de cabeça piora a cada dia, é como a deusa sussurrando no meu ouvido e eu não aguento essa sensação," falava, enquanto jogava as minhas roupas em cima da cama, com seus cabides e tudo. "Se eu nunca estivesse aparecido nessa cidade ele estaria bem, estaria fora de perigo! É tudo culpa minha e não vou deixá-lo pagar as consequências de uma problema que é apenas meu!"

"Siena, para! Respira" Attina segurou-me pelos ombros e olhou fundo nos meus olhos, e naquele momento senti que ela podia ver todo o meu passado através daqueles olhos negros. Só então notei que minha urgência havia se transformado em algumas lágrimas que teimavam em escorrer, uma mistura de fúria, medo e tristeza que tomavam conta de todos os centímetros do meu corpo. "Se você vai, eu te acompanho. Mas se você entrar na água, ela vai saber. Precisamos de um plano."

Sequei o rosto com as costas da mão e caí sentada na minha cama. Ela tinha razão, e era difícil sair de uma ilha sem ter contato com a água.

Merda.

"Então vamos alugar um carro, pegar a balsa e ir embora." Disse, enquanto chacoalhava meu joelho rapidamente, como se toda a minha energia estivesse ali para impedir meus pensamentos de explodirem. "Eu preciso me afastar, talvez com o tempo essa dor de cabeça passe, eu preciso tentar... Você vem comigo?"

SirenaOnde histórias criam vida. Descubra agora