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Calmamente, ainda sonolenta e com as mãos geladas pelo frio vento que fazia naquela manhã, Clara pegou de seu bolso a sua cópia da chave da casa de George, que tinha ganhado quando George se casou com Abigail, sua falecida esposa e amiga de Clara. Mas assim que colocou a chave na fechadura, percebeu que a porta já estava aberta, o que lhe causou desconfiança, pois George nunca ia dormir sem trancar a casa. Com cuidado e muito atenta, Clara entrou dentro da casa, e assim que chegou na cozinha encontrou Irving Braxiatel, o irmão de John, parado em frente ao balcão com uma postura impecável e analisando-a com seus olhos de falcão, como se soubesse exatamente cada uma de suas fraquezas. Geralmente, ele sabia.

"Bom dia, srta. Oswald."

"Irving. Que surpresa. Veio tomar café da manhã com a gente?"

"Na verdade, queria apenas uma oportunidade para conversar sem o meu irmão por perto."

Clara riu baixinho, enquanto deixava sua bolsa em cima da mesa.

"E qual é o problema de tê-lo por perto?"

"John tem..uma certa facilidade para se apegar à pessoas que eventualmente partem seu coração."

Clara riu.

"E você veio aqui se certificar de que eu não sou uma dessas pessoas? Está tentando proteger seu irmãozinho, Braxiatel?"

"Sempre." Braxiatel permanecia inabalável. "O problema, senhorita Oswald, é que eu tenho certeza de que você é uma dessas pessoas."

"E como você pode ter tanta certeza?"

"Porque eu o conheço, desde que nasceu. E tenho certeza de que nós dois te conhecemos."

"Não conhecem. E eu não sei por que vocês estão tão obcecados com essa ideia."

"Não é uma obsessão. Você não é quem diz ser, eu tenho certeza. A pergunta é: quem é você, Clara Oswald?"

"Babá dos Maitland e professora da Coal Hill." Respondeu ela, irritada. Então, se aproximando de Braxiatel, Clara continuou: "Boa sorte em tentar provar que eu sou algo mais."

"Muito bem então."

Braxiatel respirou fundo e saiu da casa. Clara, sabendo que tinha ganhado desta vez, colocou as compras em cima da mesa e concluiu, em voz baixa:

"Eles vão acabar tornando a minha vida impossível. Por que eles não podem simplesmente aceitar quando eu digo que eu sou apenas uma desconhecida?"

Com isso, ela saiu da cozinha, deixando o casaco em cima da mesa, e foi caminhando pela casa, recolhendo brinquedos que o bebê tinha deixado espalhados por todos os cantos. Mesmo com Braxiatel longe, concentrada em seu trabalho, Clara podia sentir que aquele assunto ainda não estava acabado, mas sabia que não valia a pena discutir. Já no andar superior da casa, entrou no quarto das crianças e acendeu a luz para acorda-los. Eles não estavam em condições de ir para a escola, mas ela ainda precisava saber como eles estavam.

Cuidadosamente, ela se sentou do lado de Artie na cama e com carinho, passou a mão no cabelo do menino e falou com ele, e em seguida, abraçou Angie e beijou seu rosto, como fazia todas as manhãs.

A luz forte do quarto incomodou o bebê e o fez chorar. Clara se levantou da cama de Angie e foi até o berço, colocando a criança em seu colo e o balançando devagar em seus bbracos

"Clara!" Murmurou Angie "A gente tem mesmo que levantar??"

"Eu também estou com sono. Só preciso saber se vocês estão melhores hoje. Além disso, eu estava pensando que talvez a gente pudesse comer bolo de chocolate hoje. Que tal?"

"Bolo!" Artie se animou. Angie, no entanto, ainda estava um pouco receosa.

"Seu bolo é igual ao seu suflê?"

Clara fingiu estar ofendida.

"Eu vou comprar um bolo."

As duas crianças mais velhas se animaram e, ainda com o pijama, saíram correndo em direção à porta até que Clara os impediu:

"Hey!" chamou ela. "E o meu abraço"

Angie e Artie, apesar de contrariados, correram para os braços dela na mesma velocidade em que correram para a porta, quase derrubando a babá e o irmãozinho. Assim que eles se aproximaram, Clara se abaixou e deu beijos rápidos no rosto de cada uma das crianças.

"Amo vocês. Lavem as mãos primeiro."

"A gente pode ir no cinema hoje, Clara?"

"Depende..O cinema pode ser a televisão da sala?"

Angie balançou a cabeça positivamente, contrariada. O passeio preferido das crianças Maitland era quando, nos dias em que não havia aula, Clara os levava para o cinema, deixando George descansar. Nos outros dias, eles tentavam convencer Clara a deixá-los faltar aula para repetir o passeio, o que ela negava pacientemente.

Clara voltou para casa pouco após as crianças terem entrado na cozinha. Angie e Artie estavam sentados na mesa, com o bebê no colo de Artie. Clara trazia em suas mãos uma caixa com um delicioso bolo com calda de chocolate, que ela colocou na mesa enquanto retirava alguns pratos do armário. Angie estendeu a mão para provar o bolo, mas Clara a advertiu:

"Angie, não! Cuidado! Isso está quente ainda!"

"Mas eu tô com fome!"

"Espera esfriar."

Assim como fazia sempre que recebia um não de Clara, Angie ficou de mal humor. A menina sempre tinha a incomoda sensação de que Clara queria substituir sua falecida mãe, seja como mãe dela e de seus irmãos, ou como mulher daquela casa. Os meninos, no entanto, gostavam dela, e George confiava cegamente em Clara.

A babá deu um prato e um garfo para cada uma das crianças mais velhas, e em seguida colocou em seus pratos dois pedaços de bolo, que comeram e repetiram depois, quando foram para a sala assistir TV.

Clara colocou um casaco nos ombros de Angie e disse, após dar um beijo na testa da menina:

"Não precisa ficar chateada."

Jogando o casaco no chão, Angie respondeu:

"Você não é a minha mãe!"

"Eu não quero ser ela. Só quero cuidar de vocês."

Angie vestiu o casaco, e quando obviamente iria responder Clara, foi interrompida com George chegando na sala, ainda vestindo seu pijama. Assim como aconteceu com Artie, o humor da menina também melhorou significativamente ao ver o pai, que abriu os braços para abraçar os dois filhos mais velhos. Clara também se alegrou ao ver o amigo, e esperou as crianças se afastarem para abraça-lo também.

"Dormiu bem, Georgie?"

"Sim, Clara, obrigado. Como eles estão hoje?"

"Um pouquinho mais animados. Já tomaram café da manhã e escovaram os dentes, agora eu preciso ir trabalhar."

"Obrigado." George sorriu. "Você não sabe como sua ajuda tem sido importante para mim."

"Não precisa me agradecer. Eu volto de tarde."

"Tudo bem."

Clara abraçou George mais uma vez e saiu, com uma tentativa falha de dar um beijo de despedida nas crianças. Já fora da casa, Clara respirou profundamente e retirou de seu próprio casaco um pedaço de papel, onde estava rabiscado um numero de telefone e o nome "John Smith". Ela o amassou, guardou de novo dentro de seu bolso, e seguiu em sua moto até a Escola Coal Hill, não muito longe dali.

A BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora