II

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Acordei cedo, ou melhor, nem dormi direito. Hoje é um grande dia e preciso estar pronto para a surpresa que venho preparando nas ultimas semanas para o meu namorado.

Acho que tatuaram um sorriso em meu rosto que faria questão de iluminar o dia qualquer pessoa que o encara-se de volta. Peguei meu celular e rolei pela agenda em busca do número da pessoa que mais amo nesse mundo, além de meus familiares e amigos é claro. Mas não dá para se comparar os tipos de amores. Os sentimentos nutridos para com a família são um, para com os amigos é outro. Agora os sentimentos que tenho por Igor são totalmente diferentes e sem explicações. Não existem palavras para expressar, somente sentir e viver intensamente. Demonstrar o quanto o menino dos olhos de mel é importante mim.

Chamou, chamou e chamou, porém ninguém atendeu.

Melhor tentar mais uma vez, Igor sempre foi preguiçoso de manhã, devia ainda estar dormindo. O aparelho só fez chamar e se repetiu o mesmo em todas as ligações seguintes que realizei. Não é possível que meu namorado não esteja escutando o toque insuportável que ele coloca como chamada e nem é possível que eu esteja sendo o ignorando propositalmente só por que ele esta com preguiça.

Bem, talvez ele tenha ido comprar o café da manhã e esqueceu o aparelho.

Voltei com o sorriso em meu rosto, não é isso que vai diminuir a minha felicidade. Ele só deve ter saído por um momento, é isso, ele saiu! Humpf, porque não pensei nisso antes? Precisei ficar criando coisas na minha cabeça? Sou idiota mesmo. Melhor me levantar e ir tomar um banho, escovar os dentes e ir para o apartamento dele desejar os parabéns pessoalmente.

Durante o banho repassei os planos do dia. Além de ser aniversário de Igor, hoje faz exatamente um ano desde o dia em que nos conhecemos e isso foi a melhor coisa que aconteceu nesse ultimo ano da minha vida. Aproveitei para passar mais alguns segundos de baixo da água quente enquanto as lembranças de como conheci aquele menino perdido, vagando sozinho pelas ruas da cidade, à noite, com os olhos tristes e lágrimas escorrendo por sua face surgiram diante de mim como se estivesse vendo um filme com essas lembranças.

Choveu durante aquela semana inteira e exatamente naquele dia que vi ele pela primeira vez não foi diferente. Estava voltando de mais uma festa de fim de semana que tive com os meus melhores amigos quando passando por uma rua vi um rapaz caminhando cabisbaixo sem se importar com a forte chuva que despencava do céu como se baldes de água estivessem sendo virados. Um relâmpago iluminou rapidamente à noite e foi nesse exato momento que o garoto tropeçou e foi de encontro ao chão.

Estava parado sozinho em um sinal vermelho, apesar do horário, por isso fiquei prestando atenção no rapaz e quando o mesmo caiu não pensei duas vezes em abrir a porta do carro ao mesmo tempo em que peguei um guarda chuvas que sempre mantenho ali e parti em auxilio da pessoa que não conhecia.

-Está tudo bem?

Entre soluços e lágrimas o rapaz afirmou. Ofereci a mão para ajudar o outro a se levantar e quando ele o fez olhou diretamente para mim e pude ver aqueles lindos olhos castanhos que estavam vermelhos de tanto chorar. Passamos quase que uma eternidade nos encarando, não me surpreenderia em descobrir que havia amanhecido.

-Vem, está chovendo. Te dou uma carona.

Meu coração sempre foi assim, generoso, ajudando a todos sem ver a quem, esse foi o motivo de ter oferecido ajuda. E por algum motivo a tristeza do rapaz atingiu meu coração criando uma empatia extrema fazendo com que a necessidade de ajudar o próximo fosse meio que sufocante. Ele precisa de ajuda e eu preciso ajudá-lo.

-Não precisa.

Foi à única coisa que o, até então, desconhecido disse. Como se estivesse lendo minha mente e respondendo o ultimo pensamento que tive. Só que não me deixei ser vencido tão facilmente. Nunca fui de deixar uma pessoa desamparada dessa forma e essa não seria a primeira vez. A culpa iria me corroer por meses.

10 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora