10 Anos

IV

Cheguei não querendo confiar em meus pensamentos, que faziam questão de ficar martelando na cabeça desde o momento em que a ideia surgiu sorrateira e criou proporções inimagináveis. Igor estava me traindo?

Essa ideia é tão ridícula, como posso imaginar que aquele ser seria capaz de fazer isso? Não, confio nele com toda força contida em cada celular do meu corpo. Mas se ele não esta me traindo, onde meu pequeno esta?

Resolvi ligar para seus amigos. Talvez ele esteja com os amigos ou algum deles saiba de algo que me dê uma direção para onde seguir.

-Miguel? Oi, é o Natan. Então, tô ligando para saber se você viu o Igor!?

De certa forma é humilhante você ligar para os amigos do seu namorado para saber o paradeiro dele, quando na verdade você devia ser a primeira pessoa, a saber, dessa informação e as pessoas quem deveriam estar te ligando para perguntar isso.

Minhas orelhas esquentaram com a vergonha do que eu estava fazendo enquanto ouvia a resposta do Miguel. Não, ele não sabia do Igor, nem sabia exatamente que dia é hoje, provavelmente ele deve estar tão chapado que nem sabe em que planeta ele vive. Nem sei o porquê de ter ligado primeiro para ele. Uma perda de tempo.

Dessa vez o telefone voltou ao toque de anuncio da chamada sendo realizada e depois de chamar umas cinco vezes, Sam atendeu.

-Oi Sam, aqui é o Natan.

-Oi Natan, está tudo bem?

-Então, sobre isso, não consigo achar o Igor, queria saber se você sabe onde ele esta?

Um suspiro do outro lado da linha me deixou apreensivo enquanto o calor invadia cada veia do meu corpo com meu coração disparado, bombeando o sangue rapidamente pelo nervosismo.

-Natan, para te ser sincero eu não sei onde o Igor está...

Soltei o ar que estava prendendo com as ideias de que iria receber uma noticia nada agradável. - Obrigado Sam, vou continu...

-Espera Nan... Acho que você não devia mais procurar por ele.

Um frio correu pela minha espinha, arrepiando meus braços e os cabelos da minha nunca. O tom com que o Sam falou aquilo com certeza me assustou.

-Natan, hoje é o aniversário do Igor.

-Eu sei, por isso mesmo que estou preocupado com ele.

-Não precisa se preocupar, - mais um suspiro veio do outro lado da linha - todo ano no dia do aniversário dele, simplesmente ele some, sem avisar ninguém para onde vai ou quando volta, nem o que faz durante esses sumiços.

Essa nova informação com certeza me deixou mais confuso do que antes. Como assim ele some no dia do aniversário e ninguém sabe para onde ele vai? Mas ano passado quando eu o conheci, ele estava... sozinho, chorando, caminhando na chuva.

Ele nunca me disse o motivo de estar naquele estado e eu nunca voltei a questionar os motivos. Se no momento que nos conhecemos ele não quis compartilhar eu não iria insistir por ser um desconhecido e depois com o tempo, deixamos esse status de lado, ficando juntos, estávamos felizes, acabei nem me dando conta de que não sabia o motivo para a tristeza dele, pois a alegria que ele me proporcionou e que eu me esforcei para lhe proporcionar foram maiores, por isso acabei deixando passar despercebido e as lembranças da curiosidade perderam-se no buraco do esquecimento das minhas memórias. Mas agora que o Sam havia tocado no assunto as imagens dele caindo na rua durante a chuva me assolaram como se eu estivesse de novo dentro do meu carro, parado em um semáforo vermelho, voltando de uma festa no meio da chuva.

-Nan, preciso desligar agora, eu vou ir trabalhar. Mas não se preocupe com o Igor, ele está bem com o que quer que seja que ele faça no dia do aniversário. Fiquei tranquilo!

-OK, obrigado Sam.

Foram as únicas coisas que consegui responder em meio ao desmoronamento de lembranças que choveu diante dos meus olhos. Aquela noite ficou marcada pelo motivo de ter conhecido o homem de minha vida, apesar de tê-lo ajudado com sua melancolia, depois que ele aceitou o pedaço de bolo as coisas mudaram tão drasticamente que não consegui assimilar as situações.

Aquela noite nós conversamos de tantas coisas e ao mesmo tempo de nada. Conheci um pouco mais do jovem que veio me encantar de inúmeras maneiras. Ainda mais quando ele deixou escapar que fazia anos desde comeu um pedaço de bolo, e que naquele momento, o bolo de limão havia se tornado o seu favorito.

As lembranças daquela noite voltaram mais uma vez em minha mente e sorri com isso, porém ao me lembrar do sumiço de Igor o sorriso morreu novamente, o dia mal começou e eu já estava nessa intensa oscilação de humor.

O cansaço da noite mal dormida pela ansiedade veio se esgueirando para o meu lado e quando dei por mim eu estava dormindo ali mesmo no sofá sem conseguir definir se havia sonhado ou com o que havia sonhado, pois na hora que acordei assustado, todo e qualquer sonho se esvaiu por minha mente dando lugar somente ao barulho ensurdecedor do meu estomago reclamando em protesto.

Enquanto me alimentava ideias surgiram guiando um caminho para o que seria preciso fazer. Agora é um pouco mais do meio dia, vou tomar um banho, trocar de roupa e partir de volta para o apartamento dele e tentar procurar alguma pista do paradeiro daquele menino idiota que eu amo tanto.