introdução

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Scott Cunningham

San Diego, Califórnia

10 de maio, 1988

É noite. As cortinas de um lar

de classe alta estão cerradas para evitar olhares curiosos. Velas

brilham na sala de estar. A fumaça de incenso se contorce

em espirais. Vultos trajando túnicas, cantando em uma língua há muito esquecida, circulam ao redor de uma mesa de

madeira rústica. Sobre ela, entre as velas, pousam imagens

sagradas: uma poderosa Deusa, usando uma Lua crescente

na fronte; um Deus, segurando uma lança na mão erguida.

Todos os movimentos cessam. Uma mulher próxima ao

altar diz:

Neste espaço e tempo sagrados

Chamamos agora os Ancestrais:

A Deusa da Lua, dos mares e dos rios;

O Deus do Sol irradiado, dos vales e das florestas:

Aproximem-se de nós, neste círculo.

Isso é Bruxaria.

A duas mil milhas dali, uma menina de quinze anos

posiciona uma vela verde sobre a foto de um amigo. No

quarto escuro, ela acende a vela. Fecha então seus olhos.

Em sua mente, ela visualiza uma luz lilás brilhante envolvendo o braço quebrado do namorado. Ela entoa uma sincera magia de cura.

Isso também é Bruxaria.

Esses dois exemplos resumem a Bruxaria. É uma religião, conhecida como Wicca. É também a prática da magia

popular.

Graças a muitos séculos de campanha difamatória, o cidadão comum pensa que a Bruxaria consiste de cultos satã
nicos, orgias e consumo de drogas. Crê-se, erroneamente, que

Bruxos praticam uma mistura de adoração ao Diabo, rituais

repugnantes, crueldades e sacrifícios humanos.

Certamente, existem pessoas que praticam tais atrocidades: assassinos, psicóticos e aqueles frustrados com a religião na qual foram criados. Porém, essas pessoas não são

Bruxos e não praticam Bruxaria.

A existência de tais crenças equivocadas não chega a

surpreender, uma vez que elas vêm sendo consolidadas pela

literatura, pelas artes, pelos filmes, pela televisão e por dezenas de milhares de horas de sermões inflamados. Embora

os fatos tenham estado à disposição nos últimos vinte anos,

eles têm sido ostensivamente reprimidos, ridicularizados ou

ignorados.

Como de hábito, a verdade sobre a Bruxaria é muito

menos intrigante do que as mentiras. Ela não se presta a programas de entrevistas da mesma forma que o Satanismo, e

raramente gera manchetes na imprensa.

Mas ela existe.

Magia Popular

A magia popular é apenas isso - a magia do povo. Em

tempos remotos, a prática de rituais simples de magia era tão

natural como comer ou dormir. A magia fazia parte da vida

cotidiana. Questionar sua eficácia ou até mesmo sua necessidade equivaleria a uma pessoa do século XX questionar se
a Terra é redonda.
Apesar de os tempos terem mudado, os praticantes contemporâneos da magia popular aceitam os mesmos princípios
e realizam rituais semelhantes àqueles de eras remotas.
Magos populares não utilizam poderes sobrenaturais.
Eles não têm a intenção de controlar o mundo. Não são perigosos ou maus. Eles simplesmente sentem e utilizam energias naturais, as quais ainda não foram quantificadas, codificadas e aceitas nas iluminadas salas da ciência.
Essas energias emanam da própria Terra, não de demô-
nios ou de Satã. Elas estão presentes em pedras, cores e
ervas, bem como em nossos próprios corpos. Através de rituais imemoriais, magos populares evocam, liberam e direcionam essas energias, com a intenção de provocar uma mudança positiva, específica e necessária.
Para o ateu, a utilização dessas energias é tão absurda
quanto o ato de rezar. Para o materialista, essa prática despreza o valor monetário da Terra. Para o cristão, que foi ensinado a "dominar e subjugar" a Terra, essa ligação tão íntima
com a natureza e seus efeitos tangíveis é perigosa, nociva.
Todos esses três pontos de vista talvez estejam corretos
para seus seguidores — mas não para os magos populares.
Mais uma vez, os magos populares ultrapassaram a religião
ortodoxa tradicional, que profere que o poder está nas mãos
de "Deus" e de Seus Sacerdotes, Santos e representantes terrenos. Eles foram além dos materialistas ao reconhecer as
qualidades da natureza. Além disso - assim como muitos
outros - eles simplesmente não se preocupam com o que
pensam os ateus.
Os magos populares são pessoas que, insatisfeitas com
as crenças fundamentadas na religião ou na física, investigaram a Terra e seus tesouros. Eles se voltaram para si mesmos, para compreender os poderes místicos do corpo humano e para sentir a conexão destes com a Terra.
E eles descobriram que a magia funciona. Wicca
A Wicca é uma religião contemporânea. Seus praticantes reverenciam a Deusa e o Deus como os criadores do universo — como sendo seres tangíveis e conscientes. Apesar de
os Wiccanos, de maneira geral, não adotarem um único modelo predeterminado, eles aceitam a reencarnação e a magia, honram a Terra como uma manifestação da Deusa e do
Deus, e reúnem-se para cerimônias religiosas, em períodos
determinados pela Lua e pelo Sol.
A Wicca não pretende converter ninguém. Relaciona-se
com a confirmação da vida, não com a negociação da morte.
Possui seu próprio conjunto de mitos, objetos religiosos, rituais e regras, muitos dos quais pouco semelhantes àqueles
de outras religiões atuais.
Os Wiccanos podem ser homens ou mulheres, de qualquer idade ou raça. Podem se reunir em grupos de cinqüenta, ou até mais; em pequenos grupos de treze ou menos; ou
ainda podem cultuar, sozinhos, a Deusa e o Deus. Apesar de
a maioria falar inglês, podem evocar as Deidades em espanhol, francês, galês, sueco, gaélico, escocês, alemão, holandês
e muitos outros idiomas. Como religião, a Wicca existe em
toda a Europa, em todos os Estados Unidos, Américas Central
e do Sul, Austrália, Japão e em todos os outros lugares.
A Wicca não é, como o Cristianismo, uma religião organizada, mas grupos organizados existem dentro dos EUA,
com o objetivo de proteger os Wiccanos contra agressões
legais, literárias e físicas. Algumas formas da Wicca foram
reconhecidas pelo governo federal como grupos religiosos
legítimos.
Os Wiccanos são homens e mulheres provenientes de
todos os ramos profissionais, formações culturais e educa-
ções religiosas. Para muitos deles, a Wicca é a única religião
que encontraram que incentiva o amor pela Terra e por seus
habitantes (humanos, animais e vegetais), e que lhes propicia a prática da magia a fim de transformar suas vidas em experiências positivas. As mulheres, em especial, são atraí-
das por ela, devido ã aceitação do aspecto feminino da Divindade - a Deusa. Para os Wiccanos, a sua religião é a única que
permite uma ligação verdadeiramente íntima com a Deidade.
Os Wiccanos não estão se organizando para governar o
mundo ou para derrubar o cristianismo, apesar das mentiras
desenfreadas veiculadas diariamente pelos televangelistas.
Seus seguidores não estão nas ruas ou nos telefones prontos
para aceitar convertidos. Na realidade, a maioria dos Wiccanos são inteligentes o suficiente para perceber que sua religião não é o único caminho para a Deidade — uma particularidade compartilhada por poucos membros de outras religiões.
Para eles, porém, é o caminho correto.

A verdade sobre a bruxaria modernaWhere stories live. Discover now