II - O Encantamento

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O encantamento está no nú-
cleo da magia popular. É simplesmente um ritual no qual
diversos instrumentos são usados com propósitos específicos, o objetivo é totalmente estabelecido (através de palavras, imagens ou dentro da mente) e a energia é controlada
para provocar o resultado necessário.
Os encantamentos podem ser tão simples quanto recitar um breve cântico sobre uma rosa colocada entre duas
velas salmão, para atrair amor; ou formar e reter, na mente,
uma imagem do resultado pretendido; ou colocar um cristal
de quartzo em uma janela ensolarada, com fins de proteção.
Os encantamentos são, normalmente, mal interpretados por não-praticantes. De acordo com a filosofia popular,
tudo que você necessita para realizar magia é um encantamento, um encantamento verdadeiro, não um daqueles que
você encontra em livros: um encantamento entregue por um
anjo ao Rei Salomão, um encantamento registrado em algum
livro mitológico do século XVI de um Bruxo galês, um encantamento de poder inenarrável. Seus sonhos mais desatinados seriam realizados se você tivesse um encantamento verdadeiro.
Muitos parecem crer que o simples agrupar de alguns � objetos (quanto mais estranhos melhor) e o recitar de algumas palavras, ativará os poderes do universo, movendo-os e
produzindo milagres. Isso é conseqüência de um mundo
que acredita ser a magia sobrenatural, irracional, impossível.
Mas a magia age com a natureza, com energias naturais.
Os encantamentos - cânticos, gesticular com instrumentos,
acender de velas - são as formas externas e são inúteis, a
não ser que a energia seja ativada. Essa responsabilidade é
exclusiva do mago. Nenhuma força demoníaca flui para auxiliar o responsável pelo encantamento. Ao invés disso, ao realizar corretamente um encantamento, o mago cria aquilo
que chamo de "força pessoal". No momento apropriado, essa
força é liberada para agir na execução do encantamento.
Os encantamentos eficazes - ou melhor, aqueles que
produzirão os resultados necessários - são desenvolvidos
com esse propósito. Quando a magia era parte da rotina diá-
ria, os encantamentos eram, provavelmente, triviais. O mago sabia que o ritual funcionaria e não precisava ser induzido a tal crença.
Após os dias de glória da magia, essa abordagem natural desapareceu. Para que os encantamentos fossem eficazes, os magos tiveram de por de lado sua descrença arraigada. A própria natureza dos encantamentos mudou. O mago vestia roupas especiais que simbolizavam o evento prestes a ocorrer. Velas eram acesas e incenso queimado para
produzir o ambiente romântico adequado. O encantamento
poderia ser realizado exatamente à meia-noite, em um local
ermo, com a Lua Cheia brilhando ao alto. Palavras misteriosas eram entoadas para despertar a força interior do mago.
Finalmente, após uma hora ou mais de preparação para alcançar o ápice apropriado de energia, bem como o estado
de espírito adequado, o mago simplesmente liberava a força
e o encantamento estava terminado.
Cânticos, velas, incenso e até mesmo a Lua contêm
energias específicas que podem ser utilizadas em magia.
Porém, tais instrumentos não são necessários para a realização da magia popular. A magia está no mago, não nos instrumentos.
Adornos curiosos e ingredientes bizarros também não
são necessários - a não ser que o mago acredite que sejam.
Diferentes tipos de magos populares utilizam diferentes tipos de encantamentos. Se tiver uma mente mais analítica e
intelectual, o mago popular poderá preferir rituais de visualização, nos quais o propósito está solidamente estabelecido
na mente, como o meio através do qual a força fluirá. Um mago mais romântico poderá optar por ervas, cristais e velas.
Aqueles fascinados por formas e padrões complexos, poderão descobrir que o uso de runas, imagens, cores e símbolos
mágicos preenchem suas necessidades. Os artistas poderão
criar pinturas rituais, e os músicos canções de encantamentos.
Isso é uma mera generalização, mas tem o propósito de
mostrar que nenhum tipo de encantamento será igualmente
eficiente nas mãos de todos os magos populares. Ademais,
todos os encantamentos - publicados ou não - podem ser
eficazes.
Os encantamentos são concebidos para liberar a força as plantas, as rochas, as pedras, as nuvens e a água. Nossos
corpos não são usinas de força, tanto quanto são assimiladores dela. Nós absorvemos a energia dos alimentos e dos líquidos que consumimos, do sol e do Ar. Nós a liberamos durante a prática de exercícios e de qualquer atividade física (incluindo o sexo), e durante a meditação, a prece e a magia.
Portanto, a magia pode ser vista como um método de
liberação da força pessoal. Ela é tão real e natural como
praticar exercícios ou fazer amor. E, da mesma forma que
essas duas atividades são empregadas com objetivos determinados, assim é a magia.
A força pessoal não é a fonte exclusiva de energia usada na magia popular. Ela é geralmente associada à de vários
objetos, tais como ervas e pedras, que vêm sendo usadas na
magia popular por incontáveis gerações. Esses itens não são
vistos pelo mago popular meramente como pedras bonitas
ou plantas aromáticas, mas sim como fontes de energia.
Essa força pode ser estimulada e concentrada. A força
pessoal - aquela que existe nos seres humanos - é "despertada" por meio de música ou de cânticos, de dança, da manipulação de diversos objetos, da meditação ou da visualiza-
ção mágica.
As energias das pedras, eivas e outros objetos são estimuladas com esses rituais. As eivas podem ser consagradas
ou visualizadas para que possuam energia. As pedras podem ser colocadas entre as mãos. Durante tais atos, o mago
sente as energias emanadas desses objetos, toca-os de uma
maneira metafísica e os ativa.
Seres humanos e objetos naturais possuem freqüências
ou espectros de tipos diferentes de energia. Existe apenas um
tipo de energia, porém, a forma física na qual se manifesta
determina suas características específicas. Assim, o alecrim
contém energias que podem ser utilizadas para diversos fins
de magia.
O tipo de energia dentro de nossos corpos muda constantemente, de acordo com nossos pensamentos, expectativas, desejos e condição física. �
pessoal interior do mago. É essa energia - juntamente com
objetos naturais como cristais, ervas, óleos, incenso, dentre
outros - que fortalece o encantamento, que o coloca em
movimento. Como funciona? Ainda não podemos explicar
completamente, mas a seguinte teoria parece válida:
Há força no universo. É a força da vida. Essa é a força
inexplicável por trás dos milagres que os seres humanos
primitivos encontravam. A Terra, o sistema solar, as estrelas,
tudo que se manifesta, é um produto dessa força. Os seres
humanos deram a essa fonte de energia, os nomes de "Deus"
e de "Deusa". É isso que é venerado em todas as religiões,
de diversas formas. Essa é a força que mantém nossos corpos vivos, que nos permite reproduzir, que está em todos os
seres e coisas. Ela não é sobrenatural, pelo contrário, é a força da própria natureza.
Os seres humanos são manifestações dessa força, como � Essa força pode ser "programada" ou "sintonizada"
para produzir um efeito específico. Essa programação é
alcançada pelo próprio mago, bem como pelos objetos utilizados no encantamento. Isso geralmente ocorre após o
mago ter sentido suas próprias energias e as dos objetos que
serão utilizados, quando houverem. Essas energias são então canalizadas para o objetivo do encantamento, seja amor,
dinheiro ou cura.
Esse processo pode envolver visualização: criar e manter imagens ou conceitos na mente. A cor é outro instrumento freqüentemente utilizado para programar a energia:
uma rosa, que será utilizada em um ritual para atrair amor,
poderá parecer estar emitindo uma coloração rosa brilhante,
que é o matiz do amor.
Quando as energias a serem utilizadas no encantamento estiverem na mesma intensidade e freqüência (apropriando-me de tais termos), tudo estará pronto para a transferência real.
Durante esse processo de harmonização, velas poderão
ser acesas, símbolos poderão ser rabiscados ou desenhados
na casca de uma árvore, ou palavras proferidas, mas tais ações
rituais servem apenas para intensificar a concentração do
mago na função em mãos.
Essa força pode ser deslocada e direcionada. A força
harmonizada pode ser liberada de seus limites físicos (o
corpo humano, cristais de quartzo etc.) e enviada para o
objetivo do encantamento. Durante os rituais de cura ela é
projetada sobre a pessoa doente. Se o objetivo é proteção, a
energia poderá ser direcionada para um pequeno objeto a
ser usado, para uma parte de um edifício, como a porta de
entrada, ou até mesmo para um carro ou um animal de estimação.
Uma vez livre de suas formas materiais, a energia não
mais estará restrita às leis físicas. O mago popular poderá
enviá-la a dez metros ou a dez mil quilômetros de distância
para realizar seu trabalho. O conhecimento e a experiência � do mago popular, não a distância compreendida, determinam a eficácia do encantamento.
A energia é deslocada através do uso da visualização, de
gestos rituais - como o apontar de dedos, bastões, espadas e
facas mágicas -, ou simplesmente através da concentração.
Essa força, uma vez deslocada, possui um efeito sobre
seu alvo. Devido ao fato de tudo o que existe conter quantidades maiores ou menores da mesma energia divina, tudo
pode ser afetado pela introdução de energias semelhantes.
Esse princípio é o fundamento da magia popular, o impulso
básico do processo em si, pois se a força for declarada existente, se puder ser revestida de tipos específicos, de objetivos e deslocada, então tudo será em vão, a não ser que
provoque um efeito ao alcançar seu destino.
O método pelo qual o alvo da força é alterado é determinado pelo mago durante o ritual, ou é determinado pelas

A verdade sobre a bruxaria modernaWhere stories live. Discover now