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O rapaz, então, decidiu sair um pouco do tumulto e foi para fora respirar ar puro. Sua cabeça ainda rodava devido a bebedeira da noite anterior e aquela agitação toda só o fazia piorar. Mais um minuto ali dentro e muito provavelmente desmaiaria. Não que fosse ruim desmaiar, sempre apreciara muito quando acontecia. Porém, algumas vezes machucava, e neste caso, podia acabar quebrando sua câmera. Ao pisar do lado de fora do centro de convenções, foi atingido pela luz e o calor do Sol, e correu para a sombra da árvore mais próxima. Parou na entrada de uma estreita trilha que serpenteava pelas árvores até desaparecer em uma curva longínqua. A trilha de terra era margeada por belas árvores cujas folhas reluziam verdes clarinhas na luz daquele Sol de início de verão. Uma deliciosa brisa percorria todo o caminho, por entre as lindas árvores sentinelas, como um fantasma ofídio de veneno agradável.

O rapaz dos vídeos sentiu vontade de deixar tudo para trás e perder-se naquele caminho que desembocaria em algum lugar que ele desconhecia. O Parque da Cidade era algo recente e, por isso, pouco explorado ainda. Ouviu de longe a multidão dentro do centro de convenções. Ficou ali, parado, olhando a balbúrdia que pulsava dentro daquela construção. Em sua solidão, olhou para cima e mais uma vez viu as folhas das árvores cintilando em seu verde delicioso, e lembrou-se dos olhos dela. Sua mais bem vinda companhia, sua mais amarga esperança. Então, antes de retornar para aquele inferno e terminar o seu trabalho de gravar toda aquela bagunça, ele pegou no bolso de sua calça o celular. Digitou o único número que sabia de cabeça. Esperava ansioso para ouvir a doce voz de sua amiga dizer um animado e prolongado "alô" do outro lado da linha. Porém, o que ele ouviu foi uma voz firme e indiferente dizer que o número com o qual ele tentava entrar em contato estava desligado ou fora da área de cobertura. E solicitou, então, que ele tornasse a tentar ligar mais tarde.

Ao longo daquela tarde ele tentou ligar várias e várias vezes. No final do dia, por volta das sete da noite, quando o Sol começou a se por, por detrás das montanhas, seu coração começou a sentir-se oprimido. Imaginou, com uma tristeza oca, que sua amiga desaparecera junto com as outras 46 pessoas. Ainda não tinha certeza, mas no dia seguinte a lista dos desaparecidos estaria completa e ele veria lá o lindo nome de sua querida amiga, perdido em meio aos demais nomes. A sensação, comparou, seria a mesma de ver o corpo sem vida de uma inocente criança jazendo tristemente em um campo de concentração. Em seguida, seu coração enegreceria perante essa hipótese, e o homem do Vale do Paraíso conheceria a maldade desamparada de quem não sabe ser mal, se fosse realmente o caso.

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