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Chegando à beira do rio eu respirei fundo, olhando para aquela água que corria em um movimento sincronizado. Com o bater do vento ela chagava a molhar meus pés. O silêncio predominava por ali, quebrado apenas pelo barulho da água corrente.

Atrás de mim havia várias árvores cheias de flores e frutos, altas, enormes. Segurando uma corda na mão esquerda, caminhei em direção à uma delas. Escolhi um galho bem forte e fiz um laço de forma não permitir que atingisse ao chão quando eu pulasse.

Respirei fundo. Amarrei a corda em volta do pescoço, fechei os olhos e pensei em

toda minha vida. Contei até três, em seguida pulei. Pensei que naquele momento estaria tudo acabado, mas enganei-me. O nó que eu havia dado não resistiu, fazendo com que eu caísse à grama.

Chorei de raiva, mas não tentei novamente. Próximo a mim havia um ninho de passarinho, provavelmente caiu quando tentei pular. Dentro havia um passarinho recém nascido e outro quebrando a casca do ovo. Fiquei ali parado, olhando aquela cena inédita, uma graça de Deus.

Com um pouco de receio e muito cuidado comecei a ajudar o outro passarinho que não estava conseguindo romper à casca. Ao vê-lo fora e aparentemente bem, sem querer deixei escorrer uma lágrima de emoção.

Sentei-me à margem do rio e comecei a refletir sobre tudo. Uma vida acabara de nascer e eu querendo por fim na minha. Seria um sinal? Quem sabe, só sei que graças àquele passarinho eu desisti da idéia de me afogar naquele rio.

O suicídio é definido como um tipo de comportamento que procura solucionar um problema existente, pondo um fim a própria vida. De acordo com dados da ANDI -

Agência de Notícias dos Direitos à Infância, cerca de 7% dos suicídios provocados por

adolescentes e jovens estão relacionados a conflitos com sua identidade sexual.

Voltei pra casa feliz, aliviado por dentro. O engraçado é que eu não sentia mais culpa dentro de mim, quando entrei minha mãe estava na cozinha preparando arroz doce, fui correndo pro meu quarto e o bilhete ainda estava sobre a cama, fechei a porta e respirei aliviado, ainda bem que ninguém havia visto ainda, na mesma hora peguei o bilhete e rasguei em vários pedaços, nessa hora minha mãe entrou no quarto, acabei levando um susto:

-O que você está rasgando ai, Louis?

-Nada não, mãe...

-Estou fazendo um arroz doce com bastante leite condensado...

-Hummm... Que delícia!... Estou sentindo o cheiro daqui...

Sentei na cama quando vi minha mãe olhando de um lado pro outro e fechando a

porta do quarto, limpando a mão no avental amarrado em sua cintura ela se sentou ao meu lado e pegou na minha mão:

-Filho, estou preocupada com teu pai...

-O que houve, mãe?

-Não sei, eu notei essa noite que ele gemia ao dormir...

-Será que...

-Eu também estou achando.

-Você já falou com ele?

-Não.

Há alguns anos meu pai vinha sofrendo de alguns problemas de saúde, paramos de falar no assunto assim que ele chegou em casa. Depois que minha mãe voltou para a cozinha peguei os pedaços de papel e fui jogar no cesto de lixo na área de serviço.

Aos meus 17 anos eu já trabalhava e ao mesmo tempo estudava, pois meus pais não tinham condições de me dar tudo que eu queria. Vendo a situação em que nós passávamos, decidi procurar um emprego para poder ajudar um pouco em casa. De início meu pai não concordou muito com a idéia, orgulhoso do jeito que ele era quase me bateu. Minha mãe também achou um pouco cedo demais, mas depois acabaram concordando, afinal, uma hora eu tinha que adquirir minha independência.

Depois desse turbilhão, nossa vida parecia estar tranqüila, até que um dia voltando da escola levei um susto:

-Louis, preciso falar com você , meu filho.

-Pode falar, mãe.

-A doença do seu pai está se agravando, vamos ter que levá-lo para fazer um tratamento em Londres.

-Mas por que em Londres?

-Porque lá tem mais recursos que aqui.

-Se for assim vamos pro centro da cidade ...

-Não Louis, só vamos pra Londres porque um conhecido de seu pai tem um apartamento lá e vai nos emprestar por enquanto...

-Entendi... Vamos depressa então mãe, vou arrumar minhas malas.

-Louis espere.

-O quê?

MOR.COM::l.s versionWhere stories live. Discover now