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03

-Não temos dinheiro suficiente para sustentar nós três...

-Como assim?

-Sua tia Anne disse que vai cuidar de você pelo tempo que vamos ficar em Londres.

-Como assim? Eu vou ficar longe de vocês?

-Meu filho, entenda que não temos condições de sustentar os três... São muito remédios, despesas, táxi... Já falei com tua tia e ela disse que você pode ficar na casa dela pelo tempo que precisar...

-Não vai ser a mesma coisa...

-Não fique assim meu filho, você vai poder nos visitar quando senti saudade... Vai ser por pouco tempo, você vai ver.

Receber aquela notícia, pra mim foi um impacto. Afastar-me da minha família assim por tempo indeterminado, me causava medo. Nunca fiquei longe dos meus pais, também fazia muito tempo que eu não via a tia Ann. A última vez que ela foi nos visitar eu tinha 8 anos. Mal lembrava de seu rosto, apenas de sua voz, pois sempre nos falávamos por telefone.

Antes do anoitecer, dei uma passada na casa da minha namorada para me despedir dela. Achei que seria um pouco difícil, mas até que não foi, pois já não sentia mais nada por ela:

-Oi Louis!... Você não avisou que vinha...

-Precisamos conversar...

-Que cara é essa?

-Meu pai está muito doente.

-Ele não tinha melhorado?

-Não... Ele vai precisar se tratar na cidade grande...

-Ele vai pro centro da cidade ?

-Não...

-Pra onde então?

-Londres.

-Nossa... Mas por que tão longe?

-Porque lá tem mais recursos...

-Entendi.

-Por isso vim me despedir de ti.

-Como assim?

-Vou morar com minha tia em Cheshire por esse tempo...

-E vai me deixar?

-Não posso ficar aqui sozinho...

-Você não está pensando nem um pouco em mim...

-E você, está pensando em mim?

-Eu estou pensando em nós, Louis.

-Desculpa, mas a saúde do meu pai está em primeiro lugar.

-Ah... É assim?

-Sim.

-Muito bem, nosso namoro termina aqui.

-Você tem certeza?

-Tchau, Louis.
Quase machuquei o nariz quando ela bateu a porta na minha cara. Sinceramente, foi até bom terminar com esse namoro que já não me agradava mais como no início, pois o carinho que eu tinha por ela estava se perdendo cada vez mais e correndo o risco de tornar antipatia, por conta de suas consecutivas cobranças.

Na mesma semana eu me mudei para Cheshire, deixando minha casa com o coração apertado, preocupado e com medo do que me esperava por lá, pois pelo que falavam, não era um dos melhores lugares para se viver.

Meus pensamentos se misturavam à angústia que apertava meu peito. Eu não sabia o que me esperava naquele vilarejo, diziam que era violento, mas pouca gente, muitos carros, diferente da vida tranqüila que eu tinha em Doncaster.

Fazia muito tempo que eu não via meus tios, ao mesmo tempo em que éramos parentes próximos, eu não me sentia à vontade de chegar e tirar a liberdade deles, porque de certa forma, uma visita quebra uma rotina familiar, mesmo sendo um parente.