O protegido

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O dia seguinte foi agitado. Quando me levantei pela manhã, muitas de minhas irmãs já estavam de pé em campo de batalha. Os homens estavam treinando com a espada em um campo, eu fiquei de pé observando a luta. Um careca de bigode estava estraçalhando seu adversário, um loiro alto mais um tanto quanto magro. O loiro caiu no chão, e a espada agora estava em seu pescoço.

– Basta! – gritou Odin. – Leve-o para a sala de recuperação.

Dada a ordem, uma das irmãs puxou o homem do chão pelo braço de forma agressiva, levantando-o.

Caleb era o próximo a enfrentar o careca de bigode. Aquilo me deixou ansiosa, e ao mesmo tempo preocupada. Caleb empunhou a espada e girou-a, o careca não teve piedade e cortou-o no braço. O sangue escorreu e eu prendi a respiração. Caleb era minha responsabilidade, cada valquíria era responsável pelos seus escolhidos... Se eles fracassassem, nós fracassaríamos todos juntos.

– Não quero machucá-lo – disse Caleb.

– Covarde! – rugiu o outro. – Tem medo de lutar?

O careca avançou como um animal. Caleb desviou mais uma vez, ele não atacava, apenas desviava... Aquilo me deixava nervosa, não sabia ele que já estavam mortos? Que machucá-lo não importava? Depois seus ferimentos seriam curados! Aquela luta não estava agradando a Odin, e minhas irmãs pareciam intrigadas tanto quanto eu.

– Maldição! Ataque-o! – eu disse revoltada, todos os olhares se dirigiram a mim e me senti corar, em meio ao silêncio minha voz parecia um grito.

O adversário de Caleb era forte, mas lento, essa era sua principal vantagem. O careca ia dar o golpe final, e se Caleb estivesse vivo, morreria, mas ágil ele conseguiu evitar e revidou. O alto homem careca foi gravemente ferido e a luta encerrou-se. Houve alguns aplausos e o próximo adversário de Caleb foi selecionado. Terminada as lutas, os guerreiros eram direcionados para a sala de recuperação, onde tratavam de seus ferimentos. No dia seguinte estariam em perfeitas condições novamente, como se nada houvesse acontecido, prontos para um novo combate.

– Ingrid. – era a voz de Gudrun.

– Sim?

– Não sei se você notou, mas Freya parecia bem interessada no seu protegido.

– Meu protegido?

– Sim, aquele que lutou hoje, o de cabelos pretos cacheados.

– Sim, eu notei. Por quê?

– Bem... Não é nada. Mas ouvi dizer que o Ragnarok está chegando. E quando a batalha começar... 

– Nós estaremos preparadas. Nós sempre estamos! Quantos guerreiros será que reunimos até hoje? Dezenas são poucos... Milhares talvez até mesmo milhões de soldados!

– Eu sei. Acredito que Freya vá escolhê-lo. Será seu primeiro não é?

– Sim. Acha mesmo que ela o escolherá?

– Tenho quase certeza. Mas ela parece ter se interessado por Richard também, aquele homem que Kara trouxe. 

– Kara... – murmurei.

Temos pouco tempo então, até que Freya escolha seu favorito.

À noite quando todos dormiam, eu fui até o jardim do palácio e fiquei observando o lago enquanto o vento soprava suave um ar fresco. O cheiro de terra molhada me trazia certa paz interior, o Ragnarok, a batalha final estaria se aproximando? Quem Freya iria escolher, Richard ou Caleb? Caleb... Por que ele é diferente? Eu não conseguia entender, mas não podia negar que ele me deixava curiosa! Fiquei um bom tempo observando no lago meu reflexo. Minha cara ficava pálida sob a luz do luar, meu cabelo liso castanho ficava escuro na água. Caleb. Quando dei por mim, percebi que estava sentada há mais de duas horas ali, e a única coisa na qual eu pensava era aquele homem da alma branca. O que estou fazendo? Será que enlouqueci?

O EinherjarOnde histórias criam vida. Descubra agora