Na manhã seguinte, fui descobrir que o que Mist havia dito era verdade. Estávamos todos reunidos num grande salão e Freya anunciou que o escolhido para uma tarefa de honra seria anunciado à meia-noite. Então faríamos uma festa e nos despediríamos desse guerreiro. Todos estavam entusiasmados e curiosos querendo saber qual deles havia sido escolhido. Muitos faziam apostas, Richard, Michael, Artur... Mas eu sabia quem seria o escolhido: Caleb.
O dia seguiu normalmente dentro do possível, todos pareciam agitados e querendo provar serem os melhores, queriam ser escolhidos para a tal tarefa de honra. Mal sabiam eles... Mal sabiam que a pessoa já havia sido escolhida, e que essa tarefa era árdua e de muita responsabilidade. Alguns achavam que depois de completa a tarefa, receberiam um prêmio! Ingênuos humanos! O escolhido seria o bravo guerreiro que comandaria o exército durante o Ragnarok. Esse homem seria o que chamam de “arma secreta” durante a batalha final dos deuses.
– Ingrid! – era a voz de Mist. – Espere!
Eu me virei, e lá estava Mist vindo em minha direção.
– Ingrid... É Freya. Ela quer falar com você.
– Comigo?
– Sim. Provavelmente parabenizá-la... Afinal Caleb foi trazido por você até Valhala.
– É... – eu disse me lembrando de como eu o havia matado e colhido sua alma.
– Eu já vou indo. Tenho que ajudar com alguns preparativos! – ela disse saindo ligeira.
Freya. O que eu faço? O que posso fazer? Se eu desobedecer... Eu não posso.
***
– Ingrid. Estou feliz por vê-la! – disse Freya sentada em seu trono.
– Aqui estou, como me foi ordenado – eu disse me abaixando para cumprimentá-la.
– Como já deve saber, seu corajoso einherjar é o escolhido. Meus parabéns! Você deve estar orgulhosa de si mesma e de seu protegido...
– Sim, eu estou. – Não, eu não estava. – Senhora, é com prazer que recebo tal notícia, e à meia-noite será com orgulho que lutarei com o einherjar.
– Que assim seja feito! Após a batalha, ambos serão curados e a alma dele pertencerá a mim. – Freya sorriu satisfeita. – Devo lhe agradecer, já que graças a isso poderemos iniciar o Ragnarok.
Incapacitada de dizer algo a mais, permaneci calada e Freya ordenou que eu descansasse um pouco antes da batalha prometida. À meia-noite, Caleb seria anunciado como o escolhido, o einherjar teria então uma luta comigo. Um teste final... Depois sua alma seria escoltada para o colar mágico de Freya e aguardaria até o comando dela e de Odin para o início do Ragnarok.
No entanto, doía em mim o pensamento de mais uma luta travada com ele, o mesmo oponente que antes havia me vencido. O mesmo oponente que eu não queria ferir... Não, eu não podia lutar novamente com ele! Seria uma humilhação! Além disso... Sua alma seria condenada... Condenada a lutar mais uma vez. Caleb...
Eu não podia esquecer seu rosto, sua voz... Pobre homem! Seu destino é lutar, lutar até o fim dos tempos... Tempos esses que estavam para acabar.
Eu não posso. Não quero me envolver nisso... Se ele tiver que sofrer... Ele merece ao menos saber de seu destino.
Corri em direção ao aposento dos guerreiros. Não demorou muito até que eu o encontrasse... Ele estava sentado num canto, longe dos outros e parecia perdido em pensamentos.
– Caleb – eu disse chamando sua atenção. – Preciso que me acompanhe.
Os outros homens não pareciam tão surpresos com a minha presença. Era com frequência que invadíamos seus aposentos chamando-os para alguma batalha ou exercício. No entanto, naquele momento eu não devia estar ali. Sorte minha eles não saberem disso...
Caleb me acompanhou em silêncio, mas assim que estávamos sozinhos e ninguém podia nos ouvir, ele disse:
– Para onde estamos indo?
– Para longe – eu disse.
– Longe onde?
– Onde eu achar que seja seguro.
– Seguro? – ele perguntou surpreso. – O que quer dizer?
– Quero dizer que você corre perigo. Freya decidiu que você é o einherjar.
– O quê?
– Apenas me siga e fique quieto, quando puder, eu explico – surpreendentemente ele seguiu minha ordem e permaneceu quieto aguardando minhas explicações.
Quando chegamos ao jardim de Valhala, longe do palácio, eu expliquei:
– Tudo bem. Acho que já estamos longe o suficiente. Agora escute: Freya decidiu escolhê-lo, entende?
– Certo. E por que eu?
– Eu não sei... Mas tem algo a ver com o fato de você ter ganhado a luta contra mim. Sendo assim... – eu disse pacientemente – à meia-noite será feita a festa como prometido, e tudo isso será em sua homenagem. Então, Freya quer que uma nova luta aconteça e...
– E? – ele perguntou confuso.
– Sua alma será recolhida e aguardará até que receba nova ordem de se apresentar.
– Como? – ele perguntou sem entender.
– Você é o einherjar! O einherjar escolhido para comandar o exército de Odin na batalha final dos deuses, o Ragnarok! Ou como vocês humanos chamam... Apocalipse.
– Apocalipse? – perguntou boquiaberto. – O... Quê...? O quê?!
Ele permaneceu calado e estupefato por alguns minutos. Entretanto, eu sabia que não podíamos esperar por muito tempo... Logo alguém nos procuraria.
– Vamos – eu disse seguindo em frente.
– Para onde?
– Para longe daqui... A não ser que você queira lutar, você quer?
– Não – ele disse surpreso.
– Eu também não – Eu me surpreendi ao ouvir minha própria afirmação.
É. Talvez eu também estivesse cansada de lutar e seguir ordens.
– Me diga uma coisa... No mundo em que você vivia vocês tinham de seguir ordens?
– Bem, eu era um soldado... Então, eu tinha de seguir ordens.
– Entendo.
– Ingrid – eu me senti estranha ao escutar ele pronunciando meu nome. – Para onde nós estamos indo?
Nós? Eu não sabia nada quanto a nós... Mas ele deveria retornar. Voltar para sua casa. Era uma ideia louca... Mas ainda assim, eu achava que era a coisa certa a ser feita. Eu... Estava fugindo? Na verdade, pensando sobre isso, talvez estivesse... Eu não sei. Se Freya descobrir... Era melhor nem pensar sobre isso. Freya furiosa seria pior que o Ragnarok! Senti minha garganta seca. O que eu estava fazendo? Era loucura! Estava arriscando minha vida... Minha reputação.
O sol estava se pondo no horizonte, nós continuamos caminhando para longe do palácio, para longe do jardim, para longe de Valhala...
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O Einherjar
RomanceMeu nome é Ingrid e eu sou uma valquíria. Sou uma das servas de Odin, meu trabalho é levar as almas dos guerreiros mortos em batalha para Valhala. Nós escolhemos os mais valentes guerreiros e os preparamos para o Ragnarok, a batalha final dos deuses...