Três dias depois
Já havia passado um bom tempo desde que havíamos fugido. Caleb e eu estávamos vivendo numa casa velha próxima a sua antiga moradia. Eu ainda me perguntava se eu tinha feito a coisa certa e, como Freya havia reagido diante do meu sumiço. Ninguém naquele mundo podia nos ver o que já era de se esperar... Caleb estava morto e eu era uma Valquíria fugitiva. Os olhos humanos eram incapazes de enxergar esse tipo de coisa. Então, quem passasse por aquela casa velha, julgaria estar abandonada.
Não comíamos e não bebíamos na Terra. No mundo dos humanos éramos apenas impossibilitados de fazer tal coisa. Mas não sentíamos fome ou sede... Diferente de Valhala, onde vivíamos normalmente, perto dos padrões humanos. Também não sentíamos sono, por isso metade do meu tempo eu passava pensando sobre o que havia feito e a outra metade pensando no que eu podia fazer e o que seria da minha vida agora que estávamos ali.
– Ingrid? – perguntou Caleb sentando-se ao meu lado na varanda.
– Sim?
– O que você pretende fazer agora? Você está aí há um tempo... Ou então está deitada no sofá... E parece estar sempre pensando em alguma coisa.
– Eu... Não sei. Eu acho que devo voltar.
– Voltar? Pensei que havíamos fugido porque o mundo estava prestes a acabar e eu havia sido escolhido para algum tipo de tarefa e...
– Eu preciso voltar. – dei ênfase para que ele entendesse. – Aqui você está seguro. Esse é seu mundo não é? Mas não é o meu.
– Caso não tenha reparado... Eu estou morto! Esse aqui parece que também não é o meu lugar. Pensei que quando voltássemos, minha vida também voltaria!
– Não, as coisas não funcionam assim... Você aqui está seguro, sua alma está segura.
– E? – ele perguntou como se isso não fosse importante.
– E é o que importa. Sem você em Valhala, o Ragnarok não acontecerá! Eles precisam do einherjar, o escolhido! – lembrei-me então de como sua alma branca era resplandecente.
– Olha... Eu agradeço a você, eu realmente não sei por que você me salvou, mas... Eu simplesmente não posso viver assim. Aliás, como posso viver, se estou morto?!
Seus cabelos negros emolduravam seu rosto, seus olhos escuros estavam vívidos e para um humano, para um einherjar, sua beleza era apavorante. Dentre todos os guerreiros que eu já havia visto nunca nenhum me despertara atenção para sua aparência. Caleb era estranho. Ele era diferente em todos os sentidos. Ou talvez... eu simplesmente tivesse perdido a razão e por isso acreditava em tal coisa.
– Ingrid... – ele sussurrou e então eu olhei esperando que ele continuasse. - Por que me salvou?
– Eu não sei – minha voz saiu tão fraca que duvidei que ele pudesse ter escutado, mas ele apenas me olhou sério seus olhos semicerrados e então percebi que ele havia escutado. – Eu não tenho certeza. – eu disse mais alto para que ele ouvisse.
Era verdade, eu não tinha certeza. Não sabia direito o que havia me levado a uma vontade súbita de fugir. Eu só sabia que não queria ser humilhada na frente de todos em mais uma batalha, e o mais importante... Não poderia vê-lo ferido, ou feri-lo. Eu não era capaz de machucá-lo! Como seria? E o mais importante... Por que?
Eu fechei meus olhos e busquei a resposta dentro de mim. Eu já sabia, mas não podia admitir... Eu não queria.
– Ingrid – ele disse de novo esperando por algo mais sólido que minha simples resposta anterior, algo em que ele pudesse acreditar.
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O Einherjar
RomanceMeu nome é Ingrid e eu sou uma valquíria. Sou uma das servas de Odin, meu trabalho é levar as almas dos guerreiros mortos em batalha para Valhala. Nós escolhemos os mais valentes guerreiros e os preparamos para o Ragnarok, a batalha final dos deuses...