O início de uma nova vida

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Houve um momento de silêncio enquanto Odin avaliava o que eu havia acabado de dizer. Freya permanecia quieta esperando o que vinha a seguir...

– Tudo bem! – exclamou Odin satisfeito. – Que a vida do jovem guerreiro seja devolvida!

O quê? Ele não pode estar falando sério... Pode?

Eu permaneci quieta, imóvel sem acreditar. Ele havia realmente concordado? Todos os olhos estavam arregalados, todas as valquírias estavam boquiabertas. Só podia ser algum tipo de brincadeira...

– Odin! – disse Freya incrédula. – Você não pode estar falando sério sobre isso... Ele é o escolhido! – Freya estava mais assustada do que com raiva.

– É claro que estou falando sério! Ingrid pode ter razão... Um guerreiro tão corajoso, não fugiria de uma batalha! No entanto... – seu olhar se espreitou – diante desse grande favor, não posso esquecer que infringiu nossas leis. Ingrid... Você sumiu sem dar explicações, parece ter se apaixonado por um humano e... Bem, essas não são características de uma Valquíria.

Eu olhei ao redor para minhas irmãs, Kara olhava-me com desdém. Parecia esquecer que eu havia lhe ensinado durante muito tempo... Ao contrário de Mist que tinha seus cabelos ruivos como chamas a brilhar. Quando nosso olhar se encontrou, eu percebi que podia contar com ela.

– Ingrid, – disse Odin – sua sentença será a mortalidade. – Ele disse com pesar, as valquírias pareciam aterrorizadas e escutei algumas dizendo que preferiam a morte.

– Será condenada à humanidade e não haverá mais volta. Espero que saiba as consequências disso! Uma vez transformada em humana, poderá viver ao lado de seu amado... Mas perderá sua família. Está disposta a isso? – ele perguntou sério. – Se esse é seu desejo, eu lhe concederei. Entretanto, deixará de ser uma Valquíria e nunca mais poderá retornar a Valhala. Então, Ingrid... O que deseja?

O que eu desejo? Essa era uma boa pergunta. Abdicar de tudo o que eu estava acostumada por décadas, por séculos... Deixar de ser uma guerreira para ser uma simples mortal. Era isso que eu queria? Não. Eu queria que ele fosse salvo, que ele estivesse seguro, só isso. Talvez eu realmente sentisse algo por ele, mas isso não importava... Exceto que eu não tinha escolha. Ou eu salvava a vida de Caleb e me transformava em uma humana para todo sempre, ou eu continuava uma valquíria e Caleb seria condenado.

Eu fechei meus olhos e respirei fundo antes de dizer minha decisão.

***

– Ingrid? – Caleb estava encostado numa poltrona e pareceu assustado ao me ver. – Você está bem? Eu não esperava que retornasse tão cedo... O que aconteceu?

– Você está livre – eu disse me jogando na mesma poltrona. – Pode viver sua vida...

Ele me olhou durante um tempo e parecia perturbado, então se sentou ao meu lado.

– Eu percebi... que algo mudou. Eu senti... algo diferente em mim! Então é isso? Estou vivo novamente? – ele começou analisar seu corpo como se nunca o tivesse visto antes.

Eu fiz que sim com a cabeça, suspirei e fiquei ali sentada. Agora era hora de aprender a conviver com as consequências da minha escolha.

– Você... Também parece diferente. Aconteceu alguma coisa? – ele parecia realmente preocupado, não só curioso.

– Não – eu disse segurando minhas lágrimas e sentindo minha garganta seca começar a doer. – Está tudo bem. Eu fiz um acordo com Odin... Freya ainda está furiosa, antes de eu ir embora ela me amaldiçoou, gritou e disse que eu havia traído a todos!

Eu nunca me senti assim, nunca estive tão nervosa e magoada em toda a minha existência. E também... Nunca chorei.

 O que é isso? – eu disse enquanto secava as lágrimas de meus olhos que escorriam até o queixo. – Eu estou chorando?!

– Bem, sim. – ele disse confuso com meu comportamento estranho.

– Mas eu NÃO POSSO CHORAR! – eu gritei, mesmo sabendo que a culpa não era dele. – Eu não posso... Eu nunca...

– Shhhh! – ele disse tentando me tranquilizar.

Ele me olhava com pena. Nunca ninguém havia sentido pena de mim, nunca dei motivos para que sentissem... Então, de repente ele me abraçou. Então chorei mais, mais e mais. As lágrimas eram salgadas e tinham um gosto estranho.

Nós ficamos durante vários minutos abraçados e eu continuava a murmurar coisas sem sentido, mas ele não disse nada. Nada do que ele dissesse poderia mudar a verdade.

– Ingrid – ele disse quando finalmente eu havia parado de chorar. – Por que fez isso?

– Fiz o quê?

– Você sabe do que estou falando... – seu olhar me censurava, eu sabia que ele estava falando do fato de tê-lo ajudado a fugir e então recuperado sua vida. – Você me salvou... Tudo bem, você também já me matou – ele riu meio sem graça. – Mas... Por quê?

– Porque... eu não podia suportar que se machucasse de novo.

– Foi o que pensei. – Então ele riu e me beijou.

***

Eu ainda não sei o que fez com que Odin aceitasse salvar Caleb. E não sei se Freya ainda me odeia. Também não sei o que aconteceu com Kara... Mas acho que nunca vou saber. A única coisa que sei é que eu impedi o Ragnarok. E que minha vida como valquíria que durou anos, décadas e séculos chegou ao fim. Agora uma nova vida está prestes a começar, e fico feliz que Caleb esteja ao meu lado para me ajudar. E também fico feliz por que ainda sei lutar e manejar uma espada. Acho que isso sempre vai estar no meu sangue.

O EinherjarOnde histórias criam vida. Descubra agora