Capítulo 12

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Já se tinham passado alguns dias após o Gary me ter visitado no hospital.
Desde o dia que não deixo ninguém ver-me , o que incluía o Joel.
Mas hoje o dia estava bonito, e decidi subir ao terraço.
Vesti umas calças de fato de treino e subi, sem que ninguém notasse.

- Olá Joel - disse, apercebendo-me que ele lá estava.

Sentei-me ao seu lado.

- Oh olá Lea, então? Como foram esses dias sem me dizeres nada? Divertiste-te a matar-me de preocupação? - disse secamente

Levantei-me e dirigi-me para a saída , com lágrimas nos olhos.

- Vá lá Lea, desculpa - agarrou-me no braço - não queria que soasse tão mal.

- Já pensaste que , talvez , neste tempo todo eu estive tão mal que não tive coragem de aparecer à tua frente? - limpei a cara - desculpa se te matei de preocupação enquanto me matava de vergonha.

- Lea, desculpa. Não queria dizer o que disse. O que se passa?

Abracei-me a ele enquanto chorava tudo aquilo que consegui - Estou grávida Joel, estou grávida do Gary. 

Ele olhou-me estupefacto, e puxou-me para o sofá onde nos sentámos.

- Mas isso vai se resolver, amor. - demorei um pouco a assimilar o que Joel me tinha chamado - vais abortar?

- Claro que vou. Mas não é o pior. - olhei- o nos olhos. - voltou a acontecer.

- O que é que voltou a acontecer?

- Eu tive que dizer à Beth quem era o pai, e o Gary de alguma forma descobriu que eu tinha dito a alguém. Apareceu mais tarde no meu quarto.

- Como é que o deixaram entrar ? - cerrou os punhos - se alguma vez o vir eu juro que o mato

- Foi horrível. Foi bastante violento desta vez - mostrei uma das marcas que ele me tinha feito no braço - sou tão fraca Joel.

Joel abraçou-me por uns momentos - És a pessoa mais forte que conheço - beijou-me levemente nos lábios - se fosses fraca não aguentavas aquilo pelo que estás a passar. Desculpa ter-te dito aquilo.

Beijou-me por alguns minutos - Obrigada Lea.

- Obrigada porquê? Só te dou problemas.

- Obrigada por me fazeres sentir assim, amo-te tanto.

Eu também te amo Joel, só não o consigo dizer.

Pegou-me na mão e levou-me para dentro.

- Onde vamos? - perguntei
- Vamos tratar de prender esse homem numa cela.

Fomos até ao pequeno escritório da enfermeira Beth.

- Podemos? - disse Joel batendo na porta.

Abriu-nos a porta a mesma enfermeira que deixou o Gary entrar no meu quarto.

- Nós queríamos falar com a Beth

Ela olhou para nós , e pediu-nós que nos sentássemos.

- Meus queridos - fez um ar triste - a enfermeira Beth está desaparecida à uns dias. A última pessoa que a viu fostes tu, Lea. Ela não mencionou nada que nos indique para onde foi, ou algo do género ?

Esta mulher não me parecia nada de confiança. Senti lágrimas descerem pelas minhas bochechas, ao longo dos tempos criei uma ligação forte com a Beth. O que se está a passar tem algo a ver com o Gary, eu sinto-o. Ele sabe que eu lhe disse, tenho que fazer alguma coisa.

Eu e o Joel dirigimo-nos ao meu quarto.

- Foi o Gary - repeti vezes sem conta - o que é que eu fui fazer? E se ele te faz algo a ti?

- Vamos ter calma, a ameaça que ele fez pode ter sido só de boca para fora.

Eu sabia que o Joel estava com medo. Eu tinha que resolver a situação. E ele não se podia intrometer ou iria sair magoado.

- Tens razão - menti - pode ser que não seja nada.

Ele sorriu e beijou-me - vou para a consulta, venho ter aqui contigo mais tarde.

Assim que Joel entrou, a Crystal entra.

- Olá desaparecida - disse, fechando a porta - como estás?

Pergunto-me se ela estava a ser simpática ou irónica.

- Estou melhor - menti - já sabes da Beth?

Ela desviou os olhos rapidamente - pois é, que pena, gostava bastante dela.

Pois. Toda a gente gostava - não estás chateada comigo..?

- Já passou - sorriu - acontece.

Saiu novamente do quarto e eu passado um pouco também saí, dirigindo-me aos telefones.
Marquei o número do Gary.

-Estou sim? - disse, baixo , visto que não era a hora dos telefonemas e supostamente eu não devia estar ali.

- Estava à espera que ligasses princesa. Queres uma segunda ronda?

Nojento - O que fizestes a Beth?

- Hei Hei Hei, vamos fazer um acordo. Eu digo-te o que aconteceu à Beth se vieres ter comigo onde costumávamos patinar.

- E depois?

- Eu deixo a Beth voltar à sua vida , e tu vens comigo , viajar pelo mundo, criar muitos bebés - riu-se - iguais a mim e a ti.

- E tu prometes que soltas a Beth ? - perguntei. A vida dela era mais importante que a minha, a felicidade de muitas pessoas neste hospital depende na Beth.

- Juro pela vida que cresce dentro de ti.

- Em meia hora estou aí.

- Ah, e se contares a alguém , nem que seja o raio de uma mosca , eu mato-a a ela e mato-te a ti.

Desligou o telemóvel deixando-me assustada.
Tinha que o fazer. Se não o fizer vou sentir-me culpada para o resto da vida.

Dirigi-me ao quarto de Joel e deixei-lhe um bilhete em cima da cama " Fui fazer o que tenho que fazer. Se eu não voltar quero que saibas que te amo. Obrigada por tudo. Se eu voltar ignora este bilhete estúpido".

Provavelmente não ia voltar. Afinal o Gary é um homem de palavra.
Assim que coloquei o pé fora do hospital , um arrepio veio desde os pés até as pontas do cabelo.
Estava a caminhar para a minha própria desgraça. Estava a caminhar para salvar a Beth.

E passado uns minutos já avistava o velho pavilhão abandonado onde eu e o Gary, em tempos felizes , costumávamos andar de patins.

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