Acordei com a Crystal a falar ao telemóvel.
- Eu só queria que estivesses aqui mãe - dizia ela - tenho saudades tuas (...) Pois claro! Tens sempre algo mais importante para fazer! Não podes tirar um dia do teu precioso trabalho para visitar a tua filha que para a tua informação está a morrer.
Lançou o telemóvel com toda a força contra a parede, fazendo-o desmontar-se todo, e de seguida atirou-se para a almofada começando a chorar.
- Desculpa intrometer-me Crystal - comecei - mas, não me pareces bem. Precisas de falar?
Ela olhou-me, e revirou os olhos como se estivesse a dizer 'Okay, só porque és a única pessoa que se ofereceu'
- A minha mãe põe sempre o trabalho à minha frente. 3 semanas, Lea, há três semanas que ela me dá sempre a mesma desculpa para não me visitar. Estou a morrer, Lea. Vou morrer à espera de um coração que não vai chegar e vou morrer à espera de uma mãe que não me vem visitar. - começou novamente a chorar - não tenho ninguém. Vou morrer sozinha.
- Crystal - sentei-me ao seu lado e coloquei o meu braço atrás das suas costas - tenho a certeza que um coração saudável vai aparecer a tempo , e a tua mãe vai abrir os olhos. Não penses negativo. É por muito que pareça estranho, tu tens me a mim, somos colegas de quarto é suposto nos darmos bem.
Ela bufou, levantou-se e saiu. Eu tentei, tentei mesmo. Mas, compreendo que a Crystal não é uma pessoa fácil de se lidar. Saí do quarto e dirigi-me para os telefones. Marquei o número de casa.
- Estou sim ? - atendeu a minha mãe, parecia cansada.
- Olá - disse entusiasmada - como estás?
- Peço desculpa, quem fala? - disse rapidamente - pode ligar mais tarde? tenho coisas para fazer.A minha mãe não reconhecia a minha voz? Um sentimento de raiva apoderou-se de mim e comecei a chorar. O que é que se passava para ela estar tão estranha? Nunca devia ter saído de casa, nunca a devia ter deixado.
Ocorreu-me uma ideia. Dirigi-me ao quarto do sr Daniel, e bati rapidamente. Joel estava lá dentro. Bolas! Não queria assusta-lo com o meu estado psicológico.- Boa tarde, eu vim pedir desculpa por ter saído ontem sem me despedir - disse com sinceridade. - é gostaria de lhe pedir um favor.
- Não tem problema, minha querida- disse amavelmente - o que posso fazer por ti?
- Sei que conduz e que pode sair, poderia levar-me a casa? A minha mãe parecia estranha ao telefone, não me reconheceu. Tenho medo que se esteja a passar alguma coisaJoel olhou para mim com os olhos arregalados.
- Vocês não tem autorização para sair , Lea - disse ele coçando a barba.
- O Joel não precisa de ir - comentei - ninguém vai dar por minha falta.
- Se tu fores , eu vou! - Disse Joel de seguida.
O Sr.Daniel pensou por uns momentos e concordou.
Saímos discretamente do edifício e entramos no carro. Já à algum tempo que não saia à rua, à excepção do telhado do hospital, e sinceramente não sentia falta da confusão e do barulho.
Dei as indicações e em 20 minutos já lá estávamos.
- Não te demores, Lea - disse Sr. Daniel , enquanto eu saía da viatura. Joel saiu comigo.Abri a porta com a chave que tinha guardada e entrei. Joel ficou à porta, pois sentia-se desconfortável.
- Mãe? - perguntei
A casa estava vazia. Maior parte da mobília ainda lá estava, mas tudo o que decorava a casa já não estava lá. Procurei por coisas da minha mãe, mas nem a roupa lá estava. Entrei em pânico. A minha mãe abandonou-me? Será que Gary a tinha obrigado a ir?
Em cima da bancada estava um bilhete:
"Querido Gary,
Fui-me embora. Vendi a casa a um casal, por isso terás que ir também. Estou feliz com a ideia de que cada um poderá seguir o seu caminho. Estou farta de lidar com os teus problemas e com os problemas da Lea. Quero começar uma vida nova.
Espero que compreendas,
Eu."
O meu mundo desabou. A minha mãe tinha me abandonado, não queria mais saber de mim. Peguei numa faca que se encontrava ainda na gaveta dos talheres - que mulher tonta , como iria ela comer agora? - e cortei os pulsos.Deixei de sentir após uns momentos. Apenas senti os meus olhos a fecharem-se.
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Secrets
Teen FictionLea era uma adolescente saudável de 14 anos até ter sido violada pelo seu padrasto. A partir daí a vida dela piorou , e Lea enfrenta muitos problemas diáriamente.