Capítulo 3

135 3 0
                                        

Acordei com os gritos de uma cheerleader raivosa.

- Joanne , eu pedi-te água fresca, trouxeste-me água morna, 'tás-te a passar? - gritava ela

- Quem és tu e o que fazes no meu quarto? - perguntei enquanto me levantava

- Parece que vamos ser colegas de quarto. - olhou-me de cima a baixo, com cara de enjoada - sorte a minha que por apenas algumas horas. Os meus pais estão numa reunião em Nova York.

- Escusas de me olhar assim. Se é só por umas horas que raio estás a fazer aqui?

Fez uns gestos com as mãos , e virou costas esvoaçando com o vestido, levando a sua súbdita atrás.

Olhei para o relógio. Faltavam 2 minutos para a hora do telefonema , e se eu não chegasse a tempo provavelmente não arranjava telefone.

Fui para lá o mais rapido que pude, e surpreendemente já estavam todos ocupados.

Estava pronta para virar costas quando Jordi - sofre de leucemia - me cedeu o seu telefone.

-Podes usar; também não tinha a quem ligar. 

Marquei o número de casa, que ainda sabia de cor.

-Mãe? Estou?

- Então Lea como vai isso?

Demorei um pouco a identificar a voz que estava no outro lado do telefone.

- Gary. Passa à minha mãe.

- Tenho saudades tuas fofinha.

- Cala-te e passa à mãe.

Olhei à minha volta. Acho que falei um bocado alto.

- A tua mãe não está. Deve estar a meter-me os cornos.

Desliguei o telefone rapidamente. Sustive-me para não chorar à frente de Jordi, Joel e a cheerleader que eram os únicos que ali estavam agora.

- Alguém está revoltado - diz a cheerleader - devias de ir comer apra afogares essa tua revolta. 

Deu-me vontade de lhe espetar uma chapada, mas não foi isso que a minha mãe me ensinou.

- Não nos apresentamos correctamente - disse - como te chamas mesmo?

- Chamo-me Crystal. Porquê que queres saber mesmo?

- Bem , Crystal , não sei quem é que tu pensas que és para puderes falar assim comigo. Lá fora podes ser superior a todos, mas aqui és uma mera adolescente doente. Igual a todos nós.

Virei-lhe costas e segui o  meu caminho.  

- hey , Lea , vais à aula a seguir? - Joel tentava apanhar-me ao pé coxinho.

- Olá , desculpa - aproximei me para ele se apoiar no meu ombro  - sim vou.

- Ainda bem. E olha não ligues ao que a Crys diz ok?  Aquilo já lhe corre no sangue , mas no fundo ela tem um bom coração.

- Porque é que ela se mudou para o meu quarto?

- Ela estava no mesmo quarto que o Jonathan , aquele menino em coma , e dizia que era o mesmo que partilhar um quarto com um morto.

- Mas ela disse que era só por umas horas

- Umas horas? Ela precisa de um transplante de coração,  acho que vai ser mais que umas horas.

Entrei no meu quarto e já lá estava outra cama.

-Temos que estabelecer regras. - disse ela enquanto entrava no quarto.

- Sabes que as pessoas em coma ouvem tudo o que é dito ao pé delas?

- Sim , e daí?

- Disseste ao Jonathan que ele era como estivesse morto, achas isso motivador?

Encolheu os ombros e encheu uma gaveta com algumas peças de roupa.

Vai ser divertido.

SecretsOnde histórias criam vida. Descubra agora