Dezembro de 2007
– Tu não fez nada? Porra, a Alexa me paga. Primeiro que ela 'tá' me devendo um fardo de cerveja, e agora me vem com essa? – Verônica, minha amiga de longa data, falou irritada.
Verônica e eu nos conhecemos assim que mudei para cidade, foi minha primeira colega de quarto num apartamento pequeno o qual dividimos aluguel e, com isso, tornou-se uma das minhas amigas do peito. É claro que tínhamos nossas diferenças, algumas vezes eu poderia sentir minha mão coçar pra dar um soco na carinha dela, assim como sentia que ela estava me fuzilando com os olhos quando eu fazia merda. Mas nos amávamos e eu sabia que nela eu teria uma parceira pra vida.
— Vero, fala mais baixo eu to com dor de cabeça. – Lucia, amiga a qual conheci através da Verônica (sua namorada), passa a mão pela testa fazendo uma careta e logo depois sai da cozinha.
— Eu sei... Eu sei, Verônica. Ela não tem esse direito – coloco mais um pedaço de torrada na boca. –, mas o que posso fazer? Só chorar, né?
– E ai o que você vai fazer? – repete exatamente o que eu tinha respondido anteriormente, demonstrando, como sempre, sua desatenção crônica. Sentou-se na cadeira de fronte a mim, tamborilando constantemente seus dedos na bancada preta de mármore – Já sei! Chama a Ally!
— Vero, não é só por que a nossa amiga é advogada que a gente pode chamar ela pra tudo! Da última vez você ligou pra ela perguntando se tinha como denunciar um vendedor, por paquerar a Lucy!
— Mas foi muita, mas muita cara de pau da parte dele – fala com uma torrada na boca – Se você não tivesse me impedido eu teria jogado um copo na cara do otário, na moral....
– Ainda bem que impedi, se não eu teria que chamar a Ally pra te defender no tribunal - Pisquei para Iglesias que me deu língua logo em seguida. — Tanto faz.
Dou de ombros e limpo minhas mãos que tinham farelo de torrada. Acho que esse era o primeiro pedaço de comida que colocava na boca nas últimas 7 horas, tenho certeza que meu estômago pedia socorro e a gastrite já estava com a faca e o queijo na mão, a fim de atacar minha barriga. Começo a pensar sobre como cuidar da minha saúde física no meio da turbulência que estar em minha vida, até que a voz da minha amiga corta meu pensamento:
— Você conhece alguém para dividir apartamento?
— Não, por quê? Você já dividi o seu com a Lucy.
— Eu sei, é que a Dinah, ela quer uma renda extra. Então, vai colocar o quarto para alugar. - Disse tomando um gole do suco.
— Pensei que você não gostasse de suco de graviola, Verônica. – ela olhou para o copo e para meu rosto com expressão de nojo – Eu não conseguiria sobreviver um dia no apartamento da Dinah, é tudo tão bagunçado! Mas se eu encontrar alguém que queira, eu aviso a Hansen.
— Então.... - Ela praticamente subiu na mesa e se inclinou até mim, apoiando as mãos no queixo – Que tal uma balada amanhã?
— Amanhã é terça.
— Balada de fim do mundo! Morrer dando PT com um litro de vodka travado na garganta - Fala como se fosse óbvio.
puta merda, essa história de novo não.
— Fim do mundo é o tanto de texto que tenho que corrigir antes de mandar pra meu chefe, Verônica. – pauso um pouco e suspiro cansada – Não tenho pique pra festa amanhã.
— Digamos que é só uma desculpa para faltar o trabalho no dia seguinte – a garota acena com a cabeça.
— Não sei, Vero - Passo a mão por meus cabelos e vejo que ela revirar os olhos imediatamente - Estou um pouco cansada, na verdade.
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172 AVENUE
RandomA partida, a despedida, o momento em que você dá um sorriso-mona-lisa, estica os lábios e mostra as covinhas, apontando o tamanho da cova que vou entrar quando a distância se tornar lei e o mais perto que estarei dela é na lembrança. Aquele gosto r...