Capítulo 4

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Janeiro de 2008

  Olá, ano novo! Já fazem 2 semanas que o mundo "acabou" e que, infelizmente, eu tive que rever meu contrato com a Scandal. Na verdade, tirando a parte do conteúdo o qual não me interesso, não tenho muito do que reclamar sobre o serviço que faço, pelo salário que ganho. Há uns tempos coloquei isso na minha cabeça, afinal, pelo menos tenho uma vida financeiramente estável, que ao menos dá para tirar umas férias viajando  em outro estado ou país.

  Enfim, hoje não é segunda, na verdade é quarta, mas estava tão linda quanto uma - gosto do começo de semana, diferente da maioria das pessoas, é que sinto como se eu ganhasse uma nova oportunidade pra fazer a semana melhor que a anterior, mesmo que elas só piorem com o passar dos dias.

  Os passarinhos não cantavam hoje, estavam encolhidos em seus ninhos ouvindo o agradável som das gotas batendo contra os telhados da rua em que eu moro. Aliás, é inverno, ou seja, é óbvio que os pássaros não costumam estar por aqui essa época do ano, eles migram para o Sul. Já visitei a América do Sul, mais especificamente o Peru, peguei muita chuva e gripei bem pesado, mas eu planejo voltar para os países latinos em breve, já que sou emocionalmente e etnicamente ligada àquela cultura.

   Às 7 horas da manhã eu estava olhando pela janela do meu apartamento: a Dona Mabel, dona da floricultura da minha rua, chacoalhava seu grande guarda-chuva preto antes de entrar no estabelecimento. Há um tempo ela tem me adotado como sua quase-filha e toda manhã me oferece um pouco de conversa, acho que hoje, meu querido telespectador, eu irei levar bolo para ela.

  Eu amo a chuva.

  Sabe aquela sensação boa de tomar banho de chuva quando você era pequena? Correr pelas ruas e voltar molhada em casa, muitas vezes recebendo puxão de orelha da mãe. Ai como eu amo isso!

Chuva é nostálgica por natureza. Ela faz espelho nas calçadas e olho d'água no buraco. Gosto de olhar pra ela, tanto que esqueço dos meus compromissos, como, por exemplo, que eu tenho faturas do cartão a pagar.

– Droga... - Suspirei baixinho colocando minha toalha de volta no banheiro – Tenho que lembrar de pegar os pedaços de bolo antes de sair de casa.

    Tem dias que acordamos como uma raíz seca, aí  uma nuvenzinha no céu começa a pingar... uma garoinha fina, que logo depois cai mais forte, e aquilo que poderia te assustar, na verdade cura, e salva. E esta chuva, lava todas as suas mágoas, te rejuvenesce.

 
   Sabe o que é bom com chuva? O bolo de milho com café. E eu preciso correr, agora, estou atrasada, dá pra filmar isso, reality?

      Minha farda do trabalho durante o invernoera sempre uma blusa de mangas longas preta e com a gola do pescoço alta, uma calça jeans também na mesma cor e um tênis all star old school branco. Eu sempre dava dois tapinhas na cara e colocava uma maquiagem leve por cima, pra não parecer tão cadavérica, como de fato, espiritualmente, sou hahaha.

         Bolo. Dona Mabel. Conversa.

        
       Preciso ir à cafeteria quando sair de lá.

   Desci correndo as escadas do prédio em que vivia. Eu logo ia saindo, até ouvir meu sobrenome saindo da boca de um. garoto na portaria. Ele era novo? Não me lembro do seu rosto. Penso. Como ela sabe meu sobrenome?  Não demorou muito até ele me tirar dos meus devaneios acenando compulsoriamente com a mão para que eu fosse até lá. Olhei para os lados e logo levei meu dedo indicador ao meu peito:

— Eu? — Expressei minha dúvida e o garoto concordou breve com a cabeça – Em que posso ajudar?

— Deixaram uma coisa para a senhora, aqui! – disse retirando um pacote de baixo da sua bancada.

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⏰ Last updated: Dec 17, 2019 ⏰

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