Srta. GriebelNaquele dia, meu pai foi conversar comigo. Tivemos a tradicional conversa entre pais e filhas; ele me deu conselhos sábios. Etc, etc, etc.
- Posso fazer uma pergunta?
- Sim, filha. - disse.
- Como descobriu?
Meu pai não teve pressa em responder.
- Uma ligação. - ele revolveu os olhos para mim. - Alguém ligou no telefone do meu escritório e me contou sobre vocês dois.
- Quem era?
- Não sei, a pessoa não se identificou.
- A quanto tempo?
- Não me lembro ao certo, mas, mais ou menos uns três, quatro meses.
- E porque não colocou tudo a limpo assim que descobriu?
- Queria ver até onde você levaria isso.
Pensei no que ele havia acabado de falar. Quem poderia ter feito isso? Meu pai, era um psicólogo muito conhecido na cidade, sendo assim podia ser qualquer um. Seu número estava lá, para quem quisesse ligar.
Minha mãe e eu estávamos nos dando bem, ela estava comecando a aceitar o meu novo visual. Aquele acontecido estava se tornando águas passadas. Embora ainda não digerisse o assunto "Ian". Ela já voltara a assumir o trabalho na delegacia, que até então, estava nas mãos do policial Karl, muito bonito por sinal. Jovem e robusto.
Meu ano letivo, há uma semana havia se iniciado. Como eu e Ian estudavamos na mesma sala, ignora-lo não estava sendo nada fácil. O mais dificil era suportar o seu olhar.
Na quinta, porém, quando voltei do intervalo, encontrei um papel dobrado dentro do meu caderno.
Uma letra, relaxada, que logo reconheci.
" Demétria, lembra quando a gente começou a namorar? Sempre nos comunicavamos por meio de bilhetinhos, durante as aulas, não quero que isso acabe. Não quero viver uma vida sem você. Não quero que todos os momentos que vivemos juntos se tornem apenas lembranças. Por favor, deixe-me explicar. Não vou deixar, não posso deixar nossa história acabar por causa desse mal entendido, e você tambem não pode. Me encontre no final da aula, estarei te esperando no corredor. Eu te a..."
Não terminei de ler, amassei o papel com todas as minhas forças. Antes que as lágrimas comecassem a descer pelo meu rosto, no meio da aula de História.
Ao findar da aula, ele estava lá. Me esperando. Caitlin deu uma dura nele, me defendeu com unhas e dentes. Aquilo que era amiga. Ele apenas me olhou, antes de sair. E me surpreendi ao ver algo parecido com tristeza em seus olhos verdes. Claro, pura encenação.
E, assim os dias foram passando.
Era segunda-feira.
O sino já havia soado.
Todos estavam prestando atenção em, David, o professor de educação fisica. Também apelidado de Sr. Rígido, por pegar muito no pé dos alunos durante as aulas. A sala estava em silêncio, enquanto ele tagarelava sobre a teoria do basquete. Alguém bateu a porta. Olhei.
Era ele.Sr. Andriolli.
O único som do ambiente, era o atrito da tesoura em contato com meu cabelo. Enquanto minha mãe aparava as pontas da minha cabeleira, meus olhos analisavam, o reflexo no espelho. Henry tinha razão, eu estava acabado. Há muito não cuidava da minha aparência. Meus cabelos estavam grandes de mais. Mas eu não tinha coragem para corta-los, então pedi para aparar as pontas do mesmo.
O silêncio ainda imperava, quando uma batida na porta fez se ouvir. Minha mãe, pousou a tesoura em uma cadeira e foi atender. Era dona abigail. Reconheci a voz meiga e caridosa, da senhora.
- Telefone para Nicolas. - ouvi ela dizer.
Caminhei de encontro a porta, antes que minha mãe se desse ao trabalho de me chamar.
Dona abigail me entregou o aparelho.
- Alô.
- Sr. Andriolli?
- Sim, eu mesmo.
- Sou Taylor Griffin, gerente da relojoaria.
Eu estava empregado. O salário não era algo exarcebado, mas era de grande ajuda. Minha mãe exibiu um sorriso amarelo ao ouvir a notícia.
Sabia, que um emprego com uma remuneração significante, era praticamente impossivel de se conseguir sem concluir o ensino médio. Por isso, em um momento de ceticismo e desespero, pedi a Henry que me levasse a escola. Me matriculei. E, quando me dei por si, já havia feito. Mas, a certeza reconfortante, de que assim eu poderia dar um futuro melhor a minha mãe e meu irmão, me forçou a não voltar atrás.
Depois do meu primeiro dia de trabalho, eu cheguei em casa, e me preparei mentalmente para a multidão de gente que eu teria de enfrentar hoje. Adolescente risonhos, prontos para fazer de você alvo de risadas. E de pancadas, no pior das hipóteses. Meu caderno, era surrado. O mesmo que eu usava, quando comecei o terceiro ano, há alguns anos. Arranquei as folhas velhas. Caminhei até o guarda roupa. E não pude evitar uma olhada, nostálgica, para meu violão, empoeirado ao lado do móvel.
Calça moletom branca. Blusa com capuz, na cor preta. E um velho all stars, que estava abandonado em um cantinho. Era o que de melhor, o guarda roupa, podia me oferecer.
Minha mãe me desejou boa sorte, e me deu um abraço apertado, assim como Natan, antes de eu sair. Segurei aquela sensação dentro de mim, e a usei como estímulo.
O colégio Isaac newton , estava bem diferente. Reformado. Não se via aluno pelo pátio. O que indicava que eu havia chegado atrasado no meu primeiro dia de aula. Um Clássico. O percurso até o colégio, passava em frente a casa número 11. E, eu não queria me deparar com ela, sendo assim dei a volta pelo quarteirão.
Não tive problema em achar minha sala.
Respirei fundo antes de bater.
Os nervos a flor da pele.
Toc toc.
Um professor, alto e forte, surgiu do outro lado dela.
- Em que posso ajuda-lo?
- Sou Nicolas andriolli...
- Ah, o aluno novo. - recordou-se - Está atrasado Sr. Andriolli.
- Peço desculpas.
- Alunos tem que estar na sala de aula, antes de seus professores.
Eu abri a boca, mas ele continuou:
- E, é bom que fique claro, Sr. Andriolli, se quizer ser meu amigo, é melhor que isso não se repita. Menos 5 pontos na sua média final.
Não reagi a isso. Esse definitivamente, não era o melhor jeito de se começar o ano letivo.
Ele deu um passo para o lado, abrindo espaço.
Entrei sala a dentro, fitando o chão. Visualizei um lugarzinho no fundo. Isolado. E me sentei.
O professor voltou a falar, do que parecia ser, basquetebol. E os olhos que estavam em mim se cravaram nele. Exceto de uma garota de cabelos cinzas. Logo reconheci quem era.
Isso não era nada bom.
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Sons e Silêncios
RandomO retrato mais bem detalhado de Nicolas andriolli, compreende uma unica palavrinha: depressão. Dia apos dia ele luta contra certas lembranças de seu passado, lembranças estas que lhe obrigaram a abandonar o seu violão a poeira. Demetria é apenas u...