Sr. AndriolliA casa na árvore da garota de cabelos cinza era algo incrível. Fiquei boquiaberto quando pude observar seu interior, bem organizado, e com um perfume de flores, bem marcante, espalhado pelo local.
De fato, era grande demais para uma casa sobre uma árvore, porém bem mobiliada: Havia Duas prateleiras de livros, lotadas, uma mesa de madeira, ladeada por um mini fogão e uma mini geladeira. E, Alguns pufes sortidos, espalhados pelo local.
- Aesculus hippocastanum.
Proferiu ela, interrompendo meu olhar analítico sobre a casa.
- Como?
- A árvore. - exclareceu ela. - Castanheira-da-índia. Aesculus hippocastanum é apenas sua nomenclatura binominal. -Prosseguiu, esbanjando conhecimento.
Assenti, em sinal de entendimento, mas meu olhar ainda estava preso na prateleira de livros.
A chuva em atrito com o telhado da casa na árvore, se fazia ouvir.
- Você mora aqui?
- Não. Aqui é onde eu faço minhas reuniões com o pessoal do clube do livro. - ela se sentou no tapete, redondo, de cor vermelho rubro. E fez sinal para que eu fisseze o mesmo.
Demorei um pouco, mas assim o fiz, um tanto hesitante. Não me sentia confortável ali. Na verdade não sabia o que eu estava fazendo naquele lugar, com a garota de cabelos cinza que estava no carro que quase me atropelou.
- Posso lhe fazer uma pergunta? - indagou ela.Srta. Griebel
Ele assentiu.
Não sabia como perguntar sem o ofender.
- Por que aquele rapaz estava atrás de você naquele dia?
Pude ver que ele ficou constrangido. Seus olhos se desviaram dos meus, e pousaram na prateleira de livros.
- Se não quiser responder está tudo bem. - apressei-me em completar.
Ele pigarreou.
Seus cabelos negros, caiam sobre seus olhos, que era de um azul claro encantador.
- Acho que você já sabe a resposta para essa pergunta. - respondeu, enfim.
Ele me fitou bem no fundo dos olhos, parecendo avaliar se eu era confiável ou não.
- Meu irmão estava doente...e eu não tinha dinheiro.
Explicou ele, conciso como sempre.
- Ah.- falei constrangida, porém não mais do que ele deixava transparecer.
Um silêncio atrevido e desconfortável pousou no ambiente.
Era bom saber que o motivo do roubo, era algo necessário, e importante.
Caitlin e eu o haviamos jugado errado. Ele era apenas um rapaz, mal compreendido.
- Frio, né? - falei, tentando quebrar o gelo.
- Sim.
Silêncio.
- Como foi a aula?
- Boa.
Silêncio.
- Suas respostas são sempre curtas assim? - indaguei
- "os homens de poucas palavras são os melhores".
O olhei,intrigada, mas ele fitava os pés.
- Shakespeare?
Ele assentiu.
- você gosta?
- Sim. Eu era um leitor assíduo.
- E por que não é mais?
- circunstâncias da vida.Sr . Andriolli
Em meio a aluvião de perguntas, tive medo de ela perguntar algo que mexesse com a minha ferida.
Ela se levantou e foi até uma de suas prateleiras.
Quando voltou ao seu ponto de partida estava com um livro em mãos.
- Quando minha autoestima entra em decadência, eu leio. Porque a leitura me proporciona um refugio seguro, para onde posso fugir dos meus problemas. Mesmo que esse refúgio seja um universo fictício.
Ela estendeu o livro para mim.
O peguei.
" Sonho de uma noite de verão, William Shakespeare."
- Obrigado.
- Que isso. A leitura é um hábito que não devemos deixar de lado.
Eu assenti, e o silêncio logo se fez presente, mais uma vez.
- Acho melhor eu ir embora.Srta Griebel.
Ele apenas se levantou e saiu, sem se importar com a chuva que ainda caia lá fora. Nem tive tempo de lhe oferecer nem sequer um guarda chuva.
Eu, ainda, fiquei lá por alguns segundos sentada no chão, antes de ir para casa.
Caitlin ficou quase uma semana sem ir ao colégio, e em todos esses dias sem a minha BFF para me fazer companhia, Nicolas foi quem assumiu o cargo. Ele parecia desconfortavel.
Não falava muito, e quando o fazia, suas resposta eram sempre concisas. Mas, isso era melhor do que ir sozinha para casa. Pelo menos agora tinhamos o livro de Shakespeare, que eu o havia emprestado, como assunto.
Assim que o fim de semana chegou, fui correndo a casa de Caitlin e lhe contei tudo o que havia acontecido, nos dias em que ela esteve ausente.
E, claro que ela interpretou errado. Na mente dela, eu estava loucamente apaixonada por Nicolas, e logo nos iriamos casar e ter muitos filhos.
O domingo chegou, e trouxe consigo um clima gélido, porém muito gostoso.
Meus pais não estavam em casa. Ralph, estava com os olhos vidrados na televisão, enquanto eu, saboreava uma tigela de cereal com leite, na cozinha.
A campanhia tocou.
- Deixa que eu atendo. - disse Ralph da sala.
Ouvi o Ranger da porta sendo aberta, e em seguida uma voz conhecida, perguntando se eu estava.
- Está sim. Quem é você? - respondeu, meu irmão.
Eu me apressei, e fui até eles.
- Ian? O que você está fazendo aqui?
Perguntei, ao ve-lo parado, com um buquê de flores na mão.
- Ian? - ele olhou para mim, Depois para meu ex. - Ah, então você é o canalha, que traiu a minha irmã?
Ian deu de ombros e sorridente, estendeu a mão para me entregar o buquê, porém Ralph bateu em sua mão, o que fez o conjunto de flores se espatifar no chão.
- Ei cara, qual é a sua? - indagou Ian.
Ralph fechou sua mão envolta do colarinho da camisa polo que Ian usava, e o empurrou contra a parede.
- Acho que está na hora de eu e você termos uma conversinha de homem pra homem, quem sabe assim você aprende a tratar um dama.
Eu sabia que o resultado dessa reação não seria boa coisa.
Meu irmão era muito protetor, e super pavio curto, e pelo tempo de convívio com Ian, eu sabia que ele era super doce quando queria, mas também sabia que ele não era de levar desaforo pra casa.
Rapidamente, meu cérebro calculou que pavio curto mais pavio curto, era igual a explosão.
- Ralph? - Me pronunciei, na tentativa de acalmar os ânimos. - para com isso.
- Eu não tenho nada para conversar com você e acho bom você ir tirando suas patas de cima de mim. - replicou Ian.
A tensão pairava no ar.
- Claro que tiro, mas que tal pedir desculpa a minha irmã primeiro?
- Ralph? - chamei.
- Ele tem que pagar pelo que fez com você, Demétria! - respondeu, e percebi o tom de raiva em sua voz.
- Me solta cara.
Percebi o esforço que Ian fazia para se manter calmo. Suas mandíbulas estavam cerradas.
- Me obrigue. - desafio Ralph.
E Ian cuspiu em sua cara.
- Resposta errada. - Replicou limpando os respingos de saliva com o dorso da mão.
Esse, definitivamente, foi o estopim para Ralph perder a cabeça e o jogar com força, pela porta a fora, o que provocou um barulho seco quando seu dorso se chocou com a relva que cercava a casa.
- Ralph! Já chega! - gritei, agarrando seu braço.
Ele deslizou uma mão sobre a outra, como se sua mão estivesse cheia de terra, e virou se para mim:
- Ele mereceu, Demi.
Seu rosto estava vermelho.
Ian se levantou para o atacar pelas costas.
Ele avançou contra Ralph e o deu uma chave de pescoço, meu irmão por sua vez, revidou com um cotovelada no abdômen de Ian, que se encolheu todo. Enquanto isso eu tentava, debalde, convece-los a parar.
- Já chega! - berrei novamente, mais não antes de Ralph, devolver um soco no rosto de Ian.
Ele cambaleou para trás mas não caiu. Sua boca sangrava.
Eu entrei no meio dos dois, convencida de que isso pararia a briga, mas Ian me empurrou para fora do caminho, com total facilidade.
Cai de bunda no chão.
Olhei ao redor, procurando alguma coisa para parar a briga e vi a mangueira de água, que papai usava para aguar as flores.
Fui até ela a passos largos e sem pensar mirei nos dois, e liguei, no momento exato que Ian deu uma rasteira em Ralph.
Meu alvo foi a cabeça de ambos, que erguiam os braços para se defenderem.
Quando vi que eles haviam apresentado bandeirinha branca, cessei o fluxo de água.
- Melhor assim.
- Qual é, Demi? Eu só estava tentando te defender. Ele quem é o inimigo, não eu.
- Calados. Vá cuidar disso. - disse, me referindo ao machucado na face de Ralph. - Isso é assunto meu, deixa que eu resolvo.
- Mas...
- Ralph!
Hesitante, e trocando olhares mortais com Ian, ele se retirou.
- O que você veio fazer aqui?
Os óculos de sol que ele usava, estava trincado, e sua roupa, encharcada. Eu poderia lhe emprestar uma camisa do meu irmão, mas isso significaria ter que vê-lo sem camisa. E era óbvio que isso, não era recomendável para pessoas que querem apagar certos indivíduos de seus corações.
Ian caminhou até o buquê que estava caido no chão da sala, estilhaçado.
- Comprar pão - Zombou irritado. - Para o trabalho de literatura, está óbvio, não está? - ele me entregou o buquê, enquanto sua mão direita massageava o local que havia sido alvo do soco de Ralph.
Só quando ele falou que recordei que ele havia me avisado
- Eu não me lembro ter concordado com isso.
- Pouco me importa.
- Você é louco.
- Diga isso ao seu irmão.
- Ele só me defendeu.
- Do quê? Quantas vezes eu te disse que não te trai, Demétria?
- Eu vi tá bom?
- Viu errado.
- Vocês, homens, sempre dissem isso. - falei, cruzando os braços.
- Eu também vi você e o novato conversando naquele dia da chuva.
E o que me impede de achar que você só terminou comigo por causa dele?
- Ah não pira, Ian. Se terminei com você, foi por quê voce me deu motivo.
- Foi o que eu vi.
Revirei os olhos, séria.
- Acho melhor você ir embora. - conclui.
- Não. Eu já estou aqui, vamos fazer, logo, a droga desse trabalho.
Mesmo eu sendo contra essa decisão, caminhamos até a casa na árvore, onde criamos os personagens, montamos o enredo do conto, e resolvemos alguns por menores.
O clima estava tenso. Ficar sozinha com Ian, segundo a senhora razão,não era aconselhavel para corações frageis como o meu.
Sua camisa polo, estava suja, e molhada. Seus cabelos loiros estavam totalmente bagunçados, mais ainda assim, ele continuava bonito. Ainda assim fazia meu coração bater mais forte.
Quando voltei para casa, fui ver como Ralph estava.
- Como você está? - disse, entreabrindo a porta de seu quarto.
- Bem. O que ele queria?
- Trabalho de literatura.
- Hm.
- Ralph, não conta para nossos pais sobre o que aconteceu, ta bom?
- Não vou.
- Obrigado. E passa uma maquiagem nisso daí por que está horrível. - disse, ao ver a mancha rocha que havia se formado próximo a seus olhos.
- Pode deixar.
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Sons e Silêncios
RastgeleO retrato mais bem detalhado de Nicolas andriolli, compreende uma unica palavrinha: depressão. Dia apos dia ele luta contra certas lembranças de seu passado, lembranças estas que lhe obrigaram a abandonar o seu violão a poeira. Demetria é apenas u...