1ºCapítulo: Na terra

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Cem anos se passaram e já não se reconhece mais o lugar que um dia chamamos de nossa casa. Devido a um vírus gerado pelo excesso de poluição muitos de nós morreram e o governo se viu obrigado a juntar os sobreviventes e envia-los para um planeta distante de nome Átaga, tudo funcionaria como uma ideia de recomeço, pelo menos para grande parte da população. O que poucos sabem é que antes de se enviar os sobreviventes para Átaga houve uma seleção, onde somente os "aptos" para começar uma nova civilização foram enviados naquelas malditas naves. Ainda me lembro de quando era pequeno sentado a beira da cama , e minha avó já bem idosa me contava histórias de como era o mundo antes de o governo perder o controle da poluição, histórias que nem ela mesma presenciou, mas ela contava que os que ficaram na Terra desenvolveram algum tipo de imunidade ao vírus e então começaram a se restabelecer, criando pequenos vilarejos, eu mesmo nunca passei dos vilarejos vizinhos.Não é muito comum jovens da minha idade sustentarem a família, porém desde a morte de meu pai quando eu tinha apenas 12 anos eu tenho ajudado minha mãe a cuidar de meus irmãos. Todos os dias saio de casa sem saber se vou voltar, meu trabalho é basicamente caçar em um dos poucos lugares em que isso ainda é possível, porém essa caça foi proibida desde que um grupo de rebeldes tomou conta do lugar, agora se tornou extremamente perigoso, pois ouvi falar que se eles te pegam caçando ali, ou você é morto, ou é obrigado a se juntar a eles, pelo que dizem a respeito, não sei qual destino seria pior.

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Acordo de manhã, olho bem para o relógio, depois de algumas horas de sono parece que minha vista demora um pouco para focar e....7:20, estou atrasado, tinha certeza de que havia programado o despertador, mas pelo visto ele mais uma vez me enganou, levanto da cama ainda dolorido devido ao cansaço, me dirijo ao banheiro, e ainda não entendo porque com 5 filhos, minha mãe escolheu morar justamente em uma casa com apenas um banheiro. Quando entro, dou de cara com dois de meus irmãos reclamando com minha mãe por não quererem entrar no banho. Enquanto escovo os dentes, olho meu próprio reflexo no espelho e percebo como mudei desde a morte de meu pai, não pareço mais aquela criança de 12 anos, embora ainda tenha 17 já não tenho o mesmo olhar infantil, que transmite esperança. Lembro-me de como gostava de ter cabelos compridos, mas volto a realidade, não posso me arriscar a errar um tiro e cabelos curtos não vão entrar na frente quando eu precisar dar um. Estou pronto, pego minha arma, me despeço de todos e lá vou eu sozinho para um dos lugares mais perigosos do planeta em busca de alimento. Chego lá, como estou atrasado, perdi o caminhão que me levaria até um lugar menos arriscado, onde os rebeldes não patrulham. Tento ser rápido, como de costume, monto meu equipamento e quando vejo o primeiro cervo paro, um tiro errado pode custar a minha vida e a vida de toda a minha família, inspiro, seguro o ar, atiro.

O alívio vem assim que vejo o animal caindo a distância, espera, há algo errado, tenho a ligeira impressão de que o animal caiu antes mesmo que eu tivesse o acertado. Uso a mira de minha arma para olhar mais perto e noto uma pequena movimentação perto do servo caído e... Acordo numa mesa, sinto uma forte dor de cabeça acho que fui atingido por algo, no canto da sala onde estou há um homem com uma arma apontada para mim, e ainda tonto não consigo entender o que o outro homem de pé ao meu lado tenta me dizer, ele usa algum tipo de mascara, nela tem as inscrições .... o mesmo se repete com o homem no canto da sala. Finalmente entendo o que ele diz, ele parece nervoso:

- EU PERGUNTEI QUAL O SEU NOME?

- Leinad, onde estou?- neste instante surge uma outra voz na sala e tento ver de onde vem:

- Marcos deixa comigo, você está assustando o rapaz- Consigo enxergar o dono da voz e mesmo com uma enorme cicatriz que ia do queixo até um pouco mais acima do olho esquerdo, apesar de tudo sua voz soa amigável e branda. Ele começa a explicar:

- Acalme-se meu jovem, ninguém aqui lhe fará mal a desde que você siga as regras-

- Que regras?- Acabo por interromper e espero não ter soado desrespeitoso, não tenho a menor intenção de morrer aqui agora. Ele parece desconsiderar o meu tom:

- Infelizmente não sou eu quem dou as ordens aqui meu rapaz, mas logo, logo você falará com o chefe e ele lhe explicará as regras, mas uma coisa posso lhe assegurar, sua vida nunca mais será a mesma.

ÁtagaOnde histórias criam vida. Descubra agora