Capítulo Doze

43 1 0
                                    

*Ammy Narrando*

    Dizem que quando uma pessoa morre, outra ganha a vida ou que quando você morre se torna perfeita. Talvez isso proceda, sei que hoje, meu irmão irá ouvir o quanto a melhor amiga dele era fascinante, talvez de algumas pessoas sejam palavras honestas e de outras palavras jogadas ao vento. Quando você morre as pessoas se sentem culpadas por não ter dito o que deviam na ora certa, por ter deixado para depois porque estavam quase que cientes de que provavelmente iria ver está mesma pessoa no dia seguinte. Mas que nada, digamos que pessoas são como um grãozinho de areia no chão da sua sala de estar, você varre e a poeira vai para longe muitas e muitas vezes elas voltam e em outras se vão de vez. Não é um exemplo muito concreto mas que dá para entender que as pessoas não estão ao nosso lado para sempre. Que estão aqui apenas de passagem.
         Espero que as pessoas em que estavam ao seu lado tenham dito "Bom dia" em todos as manhãs em que ela nasceu de novo. Espero que todos ao seu lado tenham dito "Boa noite" todos os dias em que ela dormiu por apenas 8, 7 ou apenas 6 horas e principalmente espero que todos tenham dito "Eu te amo" a todo momento, porque agora, ela dormirá para sempre. E não teram a chance de voltar atrás e fazer a coisa certa.
           Estava sentada em um dos meus pufs olhando pela janela, com meu vestido preto, uma sandália branca e um simples rabo de cavalo. Esperando que minha mãe me chamasse para irmos ao enterro de Giúlia. Seu pai já havia ligado para informar o horário do enterro e sobre como estava o estado da família. Sua mãe, tadinha, uma angústia sem fim, chora amarguradamente como se fosse a única coisa que conseguisse fazer. Seu pai, coitado, não sai de perto da pobre esposa que fica aos prantos achando que morrer também resolveria tudo. O irmão mais velho de Giúlia, Gregóri, já havia chegado na casa da mãe para junto de seu pai conseguir consolar a mãe. Ou tentar.

- Filha!? - Mamãe bate na porta.
- Sim mamãe - digo virando-me para a porta.
- Gregóri o irmão da falecida Giúlia veio nos buscar, ele está nos esperando lá na garagem. - diz pondo a cabeça para dentro da porta.
- Já vou descer. - digo levantando-me.
- Não demore.
- Não vou.

     Vou até minha cômoda e pego minha caixinha de maquiagem. Passo meu brilho labial de cacau e pego um de morango que está lacrado. Giúlia adorava brilho labial de morango, comprei este com a pretensão de por em seu caixão na hora de ser enterrado. Fecho a caixinha que ponho de volta ao local e vou até até a garagem onde estão me esperando.

      Nunca tinha visto o irmão mais velho de Giúlia. Ele sempre viajava a trabalho. É um moço alto com porte físico forte, aparentemente na faixa dos trinta anos, muito bonito. Estava com a barba por fazer, um terno preto com a gravata azul, e um sapato preto. Azul era uma das cores favoritas de Giúlia - ela gostava de verde e amarelo também como meu irmão havia mencionado algumas vezes - isso deve explicar a gravata que não combinava nada com o terno. Todos estavam a minha espera recostados no carro de Gregóri. Quando mamãe, papai e Henrique me viram entraram logo no carro. Papai na frente do lado do motorista e mamãe e Henrique atrás.

- Olá Ammy - Gregóri me cumprimenta.
- Olá. - cumprimento meio acanhada.
- Você cresceu. Lembro muito bem de você. - comenta.
- Lembra é!?
- Sim. - confirma - Entre. - diz abrindo a porta do carro para que eu possa entrar e finalmente calar nossas bocas - Temos que chegar logo ou então papai não vai conseguir conter minha mãe. - diz com a voz trêmula e bate a porta.

     Gregóri entra em seu carro assumindo a direção, então põe o carro para andar. Vou o caminho inteiro em silêncio observando as casas passarem por meus olhos. O cemitério era um pouco longe da minha casa. Meu pai e Gregóri foram o caminho inteiro falando o quanto Giúlia era maravilhosa - estas duas pessoas podem ser uma das pessoas consideráveis, honestas - e o quanto iria fazer falta. Henrique apenas ouvia e aconchega a cabeça nos ombros da nossa mãe, ela alisava seus cabelos e dizia "calma meu filho". E eu, apenas pensava em como iria ser.
         Não importa qual pessoa, mas, quando alguém morre você se pergunta. Qual o propósito desta pessoa aqui!? Seja lá o que Giúlia teria que cumprir nesse mundo, será que ela conseguiu cumprir!?....... Talvez sim, porque ela já se foi...... Espero que "o outro lado" seja melhor que este. Espero que ela esteja feliz.
        
     Quando chegamos lá a cerimônia do enterro já havia começado. O primo de Giúlia, Herman, estava falando algumas palavras de força, falava sobre ela e os motivos pela qual ela irá  fazer falta. Fiquei olhando da porta da capela enquanto meus pais e Henrique iam falar com a família e olhar Giúlia pela última vez dentro do caixão. Estava erguendo formas para fazer o mesmo.
         Algumas coisas que mais entraram na minha cabeça foi "Adorava quando ela vinha toda saltitante em minha direção me dar bom dia, um beijo na bochecha e um abraço confortante. Muitas vezes eu dizia que não tinha muito tempo para ela, que minha vida era corrida e que não conseguia lhe dar muita atenção. Mas agora, me arrependo amarguradamente por não ter tirado sequer um segundo para lhe dizer o quanto a amava e o quanto queria ter tempo para lhe abraçar, beijar e dar bom dia. Na quela noite que ela passou mau e foi para o hospital eu não estava ao lado dela, mas eu sabia que ela estava precisando de mim e eu não fiz nada, logo depois de uma hora recebi a ligação de minha tia dizendo-me que eu não iria mais ver seu sorriso, sentir seus beijos e abraços e que ela não estaria mais em nossas vidas por um bom tempo. Eu fui tão egoísta que acabei não tendo tempo de dizer adeus, agora eu só posso me despedir de seu corpo que está ali na quele caixão, porque espero que sua alma esteja feliz em algum lugar onde as pessoas a tratem de tal forma merecida."  Ele estava completamente amargurado e arrependido.
       Depois de algumas pessoas darem suas palavras (primos, tios, avós) e de dona Leonor desmaiar, resolveram enterrar logo o corpo e sofrerem logo de uma vez. O túmulo de Giúlia era de cor branca, parecia uma mine igreja e tinha uma foto sua, o caixão foi posto lá dentro do túmulo e o portão foi fechado e trancado com três cadeados. Quem aí de se atrever a furtar pertences de um falecido. Vi meu irmão chorando nos braços de mamãe. Agora, todos estavam jogando lá dentro tudo o que queriam que Giúlia levasse consigo. Sua mãe coitada nem conseguia levantar do chão de tanto chorar seu esposo, Lourenzo, que acabou pondo um colar de prata que sua mulher carregava, fui logo atrás e joguei o brilho labial de morango lá dentro. E assim sucessivamente todos ali fizeram igualmente.

     Talvez hoje tenha sido um dos piores dias. Senti como se Giúlia fosse da minha família ou que fosse Meredith. Sei o quanto foi difícil para meu irmão por isso não vou me atrever a ir lhe perturbar. Acho que hoje todos nós precisamos descansar a mente.

- Filha?! - Mamãe bate na porta. - Sim - respondo.
- Você está bem? - pergunta preocupada.
- Sim. Estou. Vá falar com Henrique mamãe, por favor, ele precisa da senhora. - sugiro.
- Sim vou.
- Mamãe.... - Ah chamo quando ela já está prestes a sair.
- Sim.
- Onde está o papai?!  - trabalhando, trabalhando,  sei que ele esta trabalhando.
- Está trabalhando - BINGO!
- Nem fico mais admirada com isso. É tudo o que sabe fazer mesmo.
- Filha - me repreende.
- Mãe - faço o mesmo.

***********

- E então como foi ontem? - Meredith pergunta se jogando para trás e caindo na grama.
- Triste eu diria - me jogo ao seu lado.
- Sei o que está sentindo.
- Ela era uma boa pessoa, mas, não lembro muito dela. As vezes me vem algo vagamente. Me sinto mal por não conseguir saber exatamente qual o propósito dela aqui. - fico cabisbaixa. 
- Como assim o propósito dela?! - a vejo olhando para o céu.
- Dizem que quando você morre é porque já cumpriu o que tinha de cumprir. O que será que ela tinha de cumprir? - a olho.
-

Ela tentou de todas as formas. Todos os dias em que acordava agradecia a Deus por ter nascido mais uma vez. Levantava todos os dias e colocava um lindo e radiante sorriso no rosto e não ligava porque as outras garotas tinham cabelo e ela não. Ela ia feliz para a fisioterapia, ela sorria todas as vezes que tinha que ir. Ela era forte. O propósito dela era nós mostrar o quanto podemos ser fortes. Porque nada está perdido. Porque é nós que escolhemos amanhã acordar depressivos ou felizes, é nós que escolhemos amanhã acordar e não falar com ninguém ou falar, é nos que escolhemos ser fortes ou fracos. Ela escolheu ser forte. - realmente estamos aqui com um propósito.

Não esqueçam de curtir e comentar....... compartilhem com os amiguinhos se poderem kkk ♡

Louca PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora