Prólogo

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Morgana esquivou-se de um ramo. Cassiopeia galopava a todo o vapor, e aquela velocidade estava a deixá-la desconfortável, não obstante ela ser uma ótima amazona.

Morgana era filha de Barnier Cristvin e, sempre que podia, escapava-se dos seus domínios. A jovem tinha um irmão mais novo, Jonathan, e sempre que podia, ele ia com ela, rumo à floresta.

Porém, naquele dia, ele não foi na sua companhia.

E Morgana não iria deixar de ter a sua diversão por causa do seu irmão!

Manobrou a sua égua para a parte mais densa de mato e, ignorando os protestos dessa, aguçou a sua visão. Mais à frente, envolta em musgo e vegetação cerrada, situava-se uma gruta. Morgana franziu o cenho, já que nunca vira a tal gruta naquele lugar.

Pensando bem, ela nunca sequer tinha passado por ali. O que era estranho, já que ela raramente se desviava da sua rota habitual.

Resoluta a explorar aquela fundação natural, a jovem desmontou Cassiopeia e amarrou as rédeas a um tronco de árvore próximo.

- Fica aqui - ordenou ao animal, que prontamente resfolegou e moveu-se, inquieto.

- O que se passa? - questionou. Os olhos de Cassipeia moveram-se para o nó que a humana dera no tronco. Morgana revirou os olhos.

- Prometes não fugir? - A égua piscou em resposta. - Tudo bem. Apenas não vás para muito longe. - Suspirando, a morena desatou a corda da sua montada.

Depois de observar Cassipeia a dirigir-se para o pasto verdejante, não muito longe dali, deslocou-se até à gruta. Pensou no que poderia encontrar no seu interior: desde equipamentos tecnológicos do passado a animais do presente, as possibilidades eram infinitas.

Cedo ela percebeu que as paredes húmidas estavam cheias de rabiscos, gatafunhos e desenhos desbotados pelo tempo. Morgana tocou as inscrições com a ponta dos dedos.

Um homem deitado.

Uma espada.

Tudo bastante intrigante, o que fez a cabeça dela girar, tentando imaginar tudo o que aquelas rochas tinham visto. Viu algumas inscrições num dialecto que ela desconhecia, e a sua excitação apenas aumentou. O que guardaria aquela gruta?

Sem conseguir segurar a sua curiosidade, Morgana praticamente correu para a frente. Precisava de saber o que havia no final. Era uma necessidade que ela sentira desde que entrara naquela gruta escondida de tudo e de todos.

Contudo, o que a esperava surpreendeu-a. Uma jovem mulher com um vestido azul de tecido leve que lhe escorria até aos pés estava de costas para ela. Segurava uma vela grossa e ao notar os movimentos de Morgana, virou-se para a encarar. O olhar que a jovem recebeu era pleno de sabedoria e Morgana teve a certeza de que o ser diante dela não era humano.

- Morgana. - O timbre suave e profundo da senhora da vela teve o mesmo efeito que uma descarga de electricidade teria na filha de Barnier. Engoliu em seco, incerta quanto ao que responder.

- Sim? - O ser feminino sorriu.

- Segue-me. - Morgana obedeceu quase involuntariamente à sua ordem, quase correndo para acompanhar as passadas leves e largas da senhora.

- O que deseja de mim? - perguntou, tentando colocar-se ao mesmo nível dela. - Senhora?

A mulher não lhe respondeu e, rendida, Morgana continuou a segui-la.

A mulher das vestes azuis apenas parou assim que o corredor abriu e tornou-se mais largo. Uma espécie de lago, foi o que Morgana contemplou.

- O que estamos aqui a fazer? - inquiriu, olhando em volta.

- Fazes muitas perguntas, jovem. - Finalmente, a mulher dignou-se de respondê-la. - Pergunto-me se és mesmo a reencarnação de quem me pareces ser.

- Reencarnação? - Morgana piscou. - Do que a senhora está a falar?

- Como eu disse, muitas perguntas. - O ser inspecionou o rosto da morena diante de si. - O meu nome é Vivianne. Sou a senhora do lago.

Por incrível que parecesse, aquele nome soou-lhe vagamente familiar.

- Eu conheço-a? - Vivianne abanou a cabeça.

- De outra vida, talvez.

Morgana ergueu uma sobrancelha, descrente.

- Não entendo onde quer chegar com tudo isso de "outra vida".

Vivianne abaixou-se elegantemente e tocou a água do lago, que pareceu encher-se de vida própria sobre o seu toque.

- Não espero que entendas. - Voltou a erguer-se e a fitar a morena com a sua pose altiva. - O teu destino está traçado, se fores quem o teu nome diz ser. A questão que se impõe é: quando guiarás Arthur à sua perdição?

- Ouça-me, senhora Vivianne, receio ter havido algum engano. Não sei quem é Arthur e...

- Não me refiro a Arthur. Esse está morto há muito tempo. Refiro-me à sua reencarnação.

Morgana bufou.

- Tudo bem. A reencarnação dele. Não tenho nada a ver com isso, portanto...

- Queirais ou não, os vossos destinos estão ligados. - A afirmação de Vivianne fez Morgana calar-se. Não, não acreditava nas palavras da mulher, mas um sentimento de familiaridade invadiu-a, mal aquelas poucas palavras foram pronunciadas.

- Quem... - a morena esforçou-se para que a voz não lhe falhasse. - Quem é, então, a reencarnação desse tal de Artur?

Vivianne exasperou-se.

- Nunca te chegou aos ouvidos, criança, o mito arturiano? - A jovem esforçou a mente, revivendo os dias em que a sua mãe ainda era viva e lhe enchia a cabeça de histórias.

- Lancelote? Guinevere? Cavaleiros da Távola redonda? - Vivianne assentiu. - Oh, isso é uma autêntica parvoíce. Nesse caso você seria a senhora do lago, haveria um Merlin por aí algures e eu seria... - O coração de Morgana falhou uma batida, enquanto as peças começavam a encaixar, uma por uma. - Morgana, a meia-irmã de Arthur.

- É bom saber que nos entendemos, minha querida.

- Mas... - protestou a outra. - Isso é impossível! Eu nem tenho nenhum meio-irmão...

- Aí é que te enganas. A tua mãe, Ária Twain, teve um filho de outro homem. - A morena abanou a cabeça, descrente.

- A minha mãe é a pessoa mais fiel que eu conhecia. Nunca, ela jamais trairia o meu pai. - Vivianne gargalhou, e o som que emitiu, claro como a água, fez pequenos redemoinhos formarem-se no lago.

- Oh, minha filha. Vê-se que não sabes nada do mundo. Tão nova, tão ingénua. Que idade tens?

- Catorze - respondeu Morgana, empinando o nariz. - Peço desculpa se me sinto na obrigação de defender a honra da minha mãe.

- Acho bem que o faças. - Vivianne inclinou a cabeça, mirando Morgana. - Porém, o que digo é verdade. De facto, Ária traiu Barnier, e da sua união nasceu um filho, o qual creio ser Arthur reencarnado, que irá ser o salvador da Era Pós-tecnológica, e irá guiar a humanidade para a luz.

- Claro, claro. - Morgana revirou os olhos. - Acreditarei em tais blasfémias, assim que me disser o nome do homem que fez a minha mãe trair Barnier.

Vivianne sorriu de canto.

- Ora, cara Morgana Cristvin, claro está que foi com Hoden Plyte, o nosso não tão amado soberano, que Ária cometeu tal feito.

Olá, leitores.

Tal como disse anteriormente, não sei ao certo quando postarei esta história. Apenas publiquei o prólogo, pois já o tinha feito há algum tempo.

Tal como Meg Cabot, em "Avalon High", o que eu vos apresento é uma nova versão do mito arturiano, que em princípio será narrado na primeira pessoa, por Morgana Cristvin.

Espero que gostem :)

MORGANA - Reencarnação (EM PAUSA) Onde histórias criam vida. Descubra agora