Com muito custo, consegui convencer meu pai a não comunicar oficialmente para todo nosso condomínio que seria avô. Embora ele não quisesse ouvir nenhum de meus argumentos sobre minha incapacidade de assumir uma criança, ao menos respeitou meu tempo.
Daquela vez.
Porque tinha certeza de que seria uma questão de tempo até que as coisas saíssem de meu controle.
— O que aconteceu? Por que está com essa cara? — perguntou Eros, depois do farto almoço oferecido pelo sítio. — Vi quando seu pai foi atrás de você. Ele disse alguma coisa?
— Contei a ele sobre a gravidez.
— O que? E ele não quis me matar? — perguntou Val, depois de ouvir nossa conversa.
Bufei, impaciente com a crise de paternidade dele.
— Ele não quis matar ninguém... ainda.
— Mas você disse a ele quem era o pai? — Eros lançou um olhar magoado na direção de sua paixão.
— Disse a ele que não ficaria com a criança, o que era mais importante — frisei, cruzando meus braços à frente do peito. — Mas ele acha que, antes de tomar uma decisão, eu deveria procurar minha mãe.
Meu melhor amigo me fitou, boquiaberto.
— Mas... como? Ela desapareceu sem deixar rastros!
— Se isso pode fazer alguma diferença nessa história de adoção, é claro que devemos tentar. Tenho um tio policial, posso pedir alguma ajuda a ele — ofereceu Val.
— Não precisam se preocupar — suspirei. — Parece que um rapaz veio atrás de mim há um tempo atrás. Meu pai me deu o cartão para que eu o procure.
— Atrás de você? Para falar sobre sua mãe? — Eros franziu a testa. — Mas por que ele só te disse isso hoje?
— Ele achou que me deixaria triste, algo do tipo... — esfreguei meus olhos, sentindo o princípio de uma dor de cabeça. — Honestamente? Não sei se me sinto animada com a perspectiva de vê-la novamente.
Os dois trocaram um olhar, em silêncio, provavelmente sem saber o que dizer. Nem eu sabia o que gostaria de escutar naquele momento. Não bastasse tudo que vinha passando, meu pai ainda precisava jogar mais aquela bomba em cima de mim?
— E... é isso? Você não ficou nem um pouco curiosa? — perguntou Val, depois de alguns segundos em silêncio.
Curiosa?
Sim. O que era normal, certo?
Mas estava principalmente com medo de descobrir a verdade. O que um homem, um rapaz, teria para dizer sobre a minha mãe? Que ela havia morrido? Que ela se casara de novo? E, mais importante: algo do que ele dissesse poderia mudar o modo como eu me sentia em relação à maternidade?
— Não sei... Às vezes, eu só queria sumir, sabe?
Eros me tirou da cadeira para seu colo, me apertando com força nos braços.
— Não importa o que aconteça, eu sempre vou estar aqui — sussurrou, enchendo meu rosto de beijos. — Não posso imaginar como está se sentindo, mas... você não está sozinha.
— Não mesmo — confirmou Val, aproximando-se de Eros de tal forma que era quase como um abraço. — Ainda que você haja como uma Fionna, em certos momentos, eu nunca vou sair de perto de você.
Não pude evitar um sorriso, diante da leve bronca. Eu realmente havia agido como um ogro com ele.
— Vocês... vocês fariam uma coisa por mim? — perguntei, tímida.
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Esperando o amor chegar
Romantik"Este não é um manual de gravidez. Aliás, creio que nada em minha vida poderia ser material para um manual. Se existe algo sobre mim que diria a qualquer pessoa é: não faça o que eu faço. Esta é uma história, como tantas outras por aí. Mas é a minha...